Ao contrário do que reafirmavam alguns pensadores clássicos do Renascimento, a Idade Média não pode ser considerada um período em que os valores e ideias do mundo clássico foram simplesmente expurgados. Esse tipo de ideia pode ser facilmente comprovado quando analisamos o nome dado a cada um dos dias da semana. Atravessando a injustiçada “Idade das Trevas”, os dias da semana foram definidos com base em diferentes tradições de origem pagã.
O primeiro dia da semana tem uma vinculação direta com a idéia de início, nascimento, vida. Por isso foi dedicado ao Sol que, com a sua luz, remete ao início de um novo tempo que se inicia no domingo. Os romanos costumavam tomar esse dia para a realização de oferendas e homenagens a diferentes divindades. No século II, São Justino, fundador da primeira escola cristã de Roma, passou a chamar esse dia de Dies Dominica.
O segundo dia da semana era comumente vinculado ao continuísmo, à fluidez das transformações. Talvez por isso, a Lua fosse a grande homenageada nesse segundo dia. Ela seria o posto do nascer do Sol, uma constatação de que outros dias se seguirão e determinadas transformações serão neles realizadas. A deusa Diana era uma das divindades mais cultuadas nesse dia. Ao lado dela estava Perséfone, divindade que oscilava sua morada entre a Terra e o Inferno.
A dedicação da terça-feira infere sobre a grande importância dada ao deus Marte, o deus das guerras. Roma, tendo sua história marcada por diversos e intensos conflitos militares, era um grande centro de adoração à divindade militar. Segundo a lenda, a tamanha devoção a Marte fez com que ele fosse impelido a oferecer um resistente escudo que representava os anos que a cidade de Roma duraria. A partir de então, as oferendas a Marte seriam regulamentadas para o dia de terça feira.
A quarta-feira tinha um caráter eminentemente ambíguo. De acordo com as tradições romanas, este dia poderia se referir tanto aos mercadores quando aos ladrões. Dessa maneira, Mercúrio, que era considerado o deus protetor de todos os comerciantes, era cultuado nesse dia da semana. De acordo com a crença corrente, a devoção a esse deus garantia sucesso nas transações comercias a serem realizadas.
O quinto dia foi destinado ao estrondoso poder do deus Júpiter. Ele, considerado o pai de todos os deuses, tinha o poder de mudar os ventos, realizar tempestades e enviar trovões. Uma divindade de similar poder foi encontrada na mitologia nórdica, onde o deus Thor teria poderes de igual importância. Seguindo essa admiração por deuses poderosos, a sexta-feira acabou sendo tradicionalmente escolhida como o dia da deusa Vênus, que representava um dos mais possantes sentimentos humanos: o amor.
O último dia da semana, o sábado, acabou sendo oferecido ao criador dessa mesma instância de nossa vida: Chronos, o pai do tempo. De acordo com o relato mitológico, Chronos foi destronado por Júpiter e obrigado a exilar-se. Dessa maneira acabou se ocultando na região do Lácio, na Península Itálica, onde passou a dedicar-se à agricultura e ao pastoreio. Sua ação trouxe enorme popularidade religiosa entre os latinos, que o chamavam de Saturnia Tellus.