Projetos para a economia brasileira em 1950

O quebra-cabeça da Guerra Fria influiu no debate econômico do Brasil na década de 1950, opondo liberalismo e nacionalismo
O quebra-cabeça da Guerra Fria influiu no debate econômico do Brasil na década de 1950, opondo liberalismo e nacionalismo

No início da década de 1950, a necessidade de desenvolver economicamente o Brasil era colocada como um problema para os dirigentes estatais e também para os candidatos a dirigentes. As propostas de soluções a este problema radicavam na escolha de projetos que poderiam estimular a industrialização do país. Nesse sentido, dois projetos econômicos principais surgiram: o liberalismo e o nacionalismo. Os debates sobre as duas propostas ficavam mais acirrados pelo fato de que no contexto da Guerra Fria, a adesão a um deles significava a aproximação à esfera de influência de uma das duas superpotências: EUA ou URSS.

O projeto liberal defendia que o desenvolvimento industrial e econômico brasileiro deveria ser realizado sem intervenção estatal. Entretanto, como no país não havia uma burguesia com capital acumulado capaz de investir os recursos necessários para o crescimento econômico, estes recursos deveriam ser buscados no exterior. No projeto liberal tinha um peso importante o capital internacional, em decorrência da fraqueza dos capitalistas brasileiros em investimento econômico, sendo necessário recorrer às instituições financeiras com sedes em outros países ou às empresas multinacionais para investir no país. A proposta era que dessa forma o Brasil ganharia os investimentos e, em troca, o capital internacional conseguiria seu lucro.

Já o projeto nacionalista discordava da preponderância do capital internacional. Seguindo ideias desenvolvidas principalmente na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), o país não deveria abrir a economia ao capital estrangeiro, devido à limitação causada pela escolha dos setores a receberem investimento, pois o interesse internacional não era o mesmo que as necessidades da população brasileira. O Brasil na periferia do capitalismo não seria beneficiado com os capitais do centro do mundo capitalista. Mas como não havia capital acumulado no país para realizar os investimentos de que a economia necessitava, era necessário que o Estado utilizasse sua estrutura governamental para canalizar os recursos necessários aos investimentos.

No cenário internacional, esses dois projetos se ligavam às duas grandes esferas de influência da Guerra Fria. O liberalismo era benéfico aos EUA e aos países da Europa Ocidental, pois eram as empresas destes locais que iriam garantir o investimento estrangeiro, principalmente com os créditos liberados depois da II Guerra Mundial. Com a defesa do socialismo em um só país e a estatização dos meios de produção, através da propriedade estatal, o projeto nacionalista se aproximava do modelo de organização econômica da URSS. Dessa forma, a adesão a um ou outro dos projetos acabaria de certa forma levando à aproximação com uma ou outra das esferas de influência.

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No campo político, a adesão a um ou outro projeto estava ligada, em linhas gerais, a dois partidos: A UDN e o PTB. A União Democrática Nacional (UDN) defendia o projeto liberal, mas não tinha uma base de apoio eleitoral consolidada em nível nacional. Já o Partido Trabalhista Brasileiro, por ser herdeiro de Vargas e por sua atuação na industrialização brasileira, defendia o projeto nacionalista e o fortalecimento da intervenção do Estado. Devido ao longo período em que Vargas esteve no poder, o atrelamento de sua figura ao PTB dava ao partido uma grande base de apoio eleitoral em todo o país. Além disso, era projeto do PCB uma intervenção estatal na economia.

Todo esse contexto criava a dramaticidade necessária para o acirramento dos ânimos durante a década de 1950.

Iria ainda se consolidar a posição de uma velha personagem da política brasileira: as forças armadas. Os oficiais ligados à Escola Superior de Guerra (ESG), chefiados pelo major Golbery do Couto e Silva, entendiam também que esses projetos políticos estavam relacionados à bipolarização da Guerra Fria, apontando a necessidade de se adotar um ou outro lado desse conflito que consideravam como ideológico.

A resolução prática desse tenso momento histórico ocorreria na primeira metade da década de 1960, com o governo de João Goulart e realização do golpe militar em 1964.

Por: Tales Pinto

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