Ao longo da nossa colonização, observamos que a adoção do trabalho escravo acabou constituindo um dos mais importantes pilares de nossa sociedade. A princípio, estes vieram do continente africano para ocuparem os vários postos de trabalho que eram gerados pela implantação da empresa açucareira. Com o passar do tempo, a complexidade de nossa economia e organização social acabaram determinando a existência de diferentes tipos de escravidão.
No meio rural, os chamados escravos de campo ou escravos de eito enfrentavam uma dura rotina, trabalhando em jornadas que poderiam alcançar dezoito horas diárias. Não bastando, o desgaste físico provocado pelo trabalho predominantemente braçal, os escravos viviam mal instalados em senzalas, nas quais as condições de higiene eram bastante precárias. Sem contar com uma alimentação adequada, tais escravos tinham uma expectativa de vida variando entre 10 e 15 anos de serviço.
Deslocando-se até o interior das casas, seja no meio urbano ou rural, os escravos domésticos experimentavam outra rotina de trabalho. Tendo uma alimentação mais elaborada, estes escravos tinham por função, realizar a arrumação da casa, cuidar das crianças, organizar as refeições e realizar pequenos serviços designados diretamente pelo seu senhor. Em alguns casos, vemos que as escravas domésticas também estavam sexualmente disponíveis ao seu proprietário.
Em outras situações, vemos que alguns senhores de escravos não conseguiam explorar a força de trabalho de seus escravos em sua totalidade. Não raro, tais senhores os transformavam em escravos de aluguel, que poderiam ser empregados em outras fazendas ou nas minas. Usualmente, o aluguel de escravos constituía uma importante fonte de renda para os proprietários que passavam por alguma dificuldade financeira ou visavam à ampliação de suas divisas.
Nas cidades, era comum observar ainda, a presença dos chamados escravos de ganho. Estes escravos ofereciam a prestação de serviços diversos, como o transporte de cargas, a barbearia, a lavagem de roupas ou a fabricação de remédios. Tomavam conta de pequenos comércios, vendiam alimentos, entre outros produtos. Geralmente, estes escravos repassavam boa parte do lucro aos seus proprietários e ficavam com uma pequena renda, da qual poderiam se alimentar melhor ou comprar sua alforria.
De fato, os diferentes tipos de escravidão aqui apresentados, nos revelam os vários usos que esse tipo de relação de trabalho incorporou ao longo do tempo no Brasil. Na medida em que a sociedade colonial alcançava novos espaços, a escravidão entranhava o nosso cotidiano através de múltiplas possibilidades. Não por acaso, perdurou durante tanto tempo em nossa história.