O acontecimento conhecido como Intentona Integralista foi um levante armado promovido por membros da Ação Integralista Brasileira (AIB) em dois dias – 11 de março e 11 de maio de 1938 – contra o governo de Getúlio Vargas. Para compreendermos bem o que esse levante significou para aquela época, precisamos saber quais eram os propósitos da Ação Integralista Brasileira.
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Plínio Salgado e fundação da AIB em 1932
A Ação Integralista Brasileira (AIB) foi fundada em 1932 pelo político e escritor paulista Plínio Salgado. As bases ideológicas do integralismo estavam calcadas no pensamento reacionário e autoritário dos primeiros anos do século XX que repudiava a tradição das democracias liberais da Belle Époque. Esse tipo de pensamento e postura política assumiu diversas facetas, a depender do país em que vigorou: Portugal, Espanha, Alemanha, Itália etc. De modo geral, prevaleceu o epíteto “fascismo” em decorrência de sua aplicação na Itália governada por Benito Mussolini. De fato, Plínio Salgado e os membros da AIB nutriam grande admiração pelo líder italiano e procuraram adaptar o seu modelo de Estado corporativo (forte e controlador) como parâmetro político.
Além do corporativismo, o integralismo ainda tinha como características principais o nacionalismo ufanista, o anticomunismo e a mística e simbologia, essas últimas também herdadas do fascismo e podiam ser observadas durante as marchas do movimento. Como dizem as historiadoras Starling e Lilia Schwarcz, em sua obra Brasil: uma biografia:
Em outubro de 1934, na cidade de São Paulo, uma única marcha comandada pela AIB reuniu em torno de 40 mil integralistas, que desfilaram, batendo as botas no chão, cadência militar. A população, perplexa, se acotovelou para ver. Pálidos de emoção ou ansiedade, minuciosamente coreografados em fileiras fechadas e braços estendidos, os integralistas marcharam impecáveis: camisas verdes, braçadeiras com insígnias grafadas em negro – a letra sigma, de “soma”, indicando que o integralismo era a síntese totalizadora de toda a sociedade –, estandartes desfraldados audaciosamente à luz do dia, numa marcação cênica que pretendia demonstrar força e disposição de combate. [1]
As ideias integralistas foram disseminadas a partir do Manifesto de 7 de outubro de 1932, de modo que a AIB chegou a ter mais de 100 mil adeptos no país até o momento de sua extinção.
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Estado Novo e a Intentona de 1938
Os integralistas apoiavam o modo como Vargas conduzia o Estado e, em contrapartida, recebiam do presidente a liberdade de organização político-partidária alinhada com o fascismo europeu. Plínio Salgado chegou até a cogitar preparar-se para a candidatura ao cargo de presidente nas eleições de 1938, mas, antes disso, Getúlio Vargas instituiu a ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Uma das medidas tomadas por Vargas foi o fechamento do todos os órgãos ligados ao Poder Legislativo, a começar pelo Congresso Nacional, bem como todos os partidos políticos, incluindo a AIB.
O fechamento da AIB provocou a revolta dos integralistas, que se sentiram traídos por Getúlio. Essa revolta foi materializada nas duas tentativas de tomada do poder por parte dos membros da AIB. Essas tentativas receberam o nome de “Intentona”. A primeira ocorreu no dia 11 de março de 1938 e teve como alvo o 3º e o 5º Batalhão de Infantaria do Exército, situados nos bairro do Botafogo e no Centro do Rio de Janeiro, respectivamente. A operação foi rechaçada por uma ação conjunta do comando dos Batalhões e do Serviço Nacional de Informações (SNI), seções do Exército e da Marinha. Os principais líderes envolvidos foram encarcerados.
A segunda tentativa de tomada do poder pelos integralistas ocorreu em 11 de maio do mesmo ano. O alvo agora era o próprio centro do Poder Executivo: o Palácio do Catete, onde residia o presidente da República. O ataque reuniu 80 integralistas, liderados por Severo Founier, nas primeiras horas da madrugada. O objetivo era depor ou assassinar Vargas e tomar o controle do Executivo, reabilitando a AIB. O confronto com o Exército e a Polícia Especial, liderada por João Alberto Lins e Barros, foi em vão. Todo os envolvidos foram presos e cerca de 1.500 líderes integralistas foram perseguidos por todo o território nacional. Plínio Salgado teve que se exilar em Portugal.
NOTAS
[1] Schawrcz, Lilia M. e Starling, Heloisa M. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 368.