Apesar do predomínio do setor agroexportador na economia, com o café e a borracha como produtos principais, houve um processo de industrialização na República Oligárquica, em algumas regiões do país, que teria consequências em longo prazo na sociedade brasileira.
O primeiro período de industrialização da história do país estava ligado à acumulação de capitais conseguida com a produção e a comercialização cafeeira. Os lucros conseguidos durante os períodos de superprodução possibilitaram a alguns fazendeiros investir em atividades industriais. Exerceram papel importante também os comissários do café, que intermediavam as negociações entre fazendeiros com os centros compradores e exportadores. Ao longo do tempo, os comissários do café passaram a intervir na organização produtiva das fazendas, adequando-as de acordo com os interesses dos importadores. Dessa forma, exerciam controle sobre a produção e a comercialização, constituindo uma função extremamente importante no complexo sistema decorrente da produção cafeeira.
Essa função na organização produtiva e comercial permitiu aos comissários do café acumular capital e criar instituições financeiras, que concediam créditos aos cafeicultores, além de proporcionar o investimento no processo de industrialização. No polo explorador do processo de industrialização da economia do país, que iriam controlar os capitais investidos, encontravam-se então duas figuras principais: os cafeicultores e os comissários do café.
No polo explorado, aos poucos, uma classe operária foi se formando nos centros industriais do país, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Mas também no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco houve a constituição de indústrias. A formação da classe operária dava-se tanto em sua inserção econômica no processo de produção quanto com a sua formação política e ideológica.
Boa parte dos operários era constituída por imigrantes europeus, vindos para a América em várias levas, trazendo em muitos casos os conhecimentos técnicos necessários à produção industrial. Estes trabalhadores assalariados qualificados foram necessários ao funcionamento das indústrias, já que os séculos de escravismo e produção agroexportadora impediram o desenvolvimento de uma força de trabalho experimentada nas atividades industriais.
Além do conhecimento técnico, esses imigrantes trouxeram também interpretações do mundo capitalista que se fortalecia na Europa, nas quais eles se inseriam como os sujeitos que criavam a riqueza da classe dominante, através da exploração laboral a que estavam submetidos. Nesse sentido, esses trabalhadores adaptaram os sistemas ideológicos de crítica e contestação do capitalismo à realidade da sociedade brasileira, principalmente as posições anarco-sindicalistas, formando aos poucos uma consciência de classe que os auxiliaria na luta por melhores condições de vida e de trabalho.
Como eram trabalhadores assalariados, houve a necessidade de se ampliar o mercado de consumo interno, aliando investimentos industriais com as necessidades de consumo da população. Dessa forma, as indústrias inicialmente criadas estavam relacionadas aos produtos de consumo individual, ligados à alimentação ou ao vestuário, mas havia investimentos em outras áreas, como cimento e vidro.
Por outro lado, competia aos capitalistas privados e principalmente ao Estado criar algumas infraestruturas necessárias ao avanço da industrialização e também ao escoamento da produção agrícola. Meios de transporte e portos para escoar a produção cafeeira, produção energética e todo um conjunto de atividades complementares e paralelas necessárias ao funcionamento dessa economia foram desenvolvidos, exigindo a ampliação do número de trabalhadores para executá-las.
O comércio internacional do café proporcionou o capital necessário à industrialização no começo do século XX
Houve algumas poucas iniciativas estatais de fomento industrial, como a política do Encilhamento, executada sob o comando de Rui Barbosa durante o governo de Deodoro da Fonseca na década de 1890. A grande emissão de papel-moeda não resultou em industrialização, mas sim em especulação financeira. Impulso maior à industrialização foi dado durante a I Guerra Mundial, pois a restrição do mercado mundial, com o direcionamento industrial europeu para a guerra, estimulou a indústria nacional a sanar as carências das mercadorias importadas.
A industrialização do Brasil nessa época estava ligada à chamada segunda revolução industrial, com uma transformação científico-tecnológica que ampliou a gama de produtos fabricados e as condições para a realização dessa produção. Como resultado houve também a transformação do ambiente urbano. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo tiveram que se adaptar a essa nova realidade, sofrendo profundas alterações em suas estruturas urbanas.
Uma nova camada de trabalhadores assalariados, além dos operários, também iria surgir nos espaços urbanos. As mudanças econômicas e de estrutura social durante a República Oligárquica geraram contradições com a antiga ordem social existente, o que levaria a intensos conflitos ao fim da década de 1920.