Caminhando desde os primórdios da Era Vargas, observamos que o novo governo tinha grande preocupação em controlar e explorar o potencial dos meios de comunicação da época. Entre 1931 e 1934, o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC) e o Departamento Nacional de Propaganda (DNP) assumiram a função de supervisionar as informações veiculadas e divulgar os atos governamentais. Chegando em 1938, tal preocupação atingiu um patamar inédito com a criação do programa “Hora do Brasil”.
Transmitido nacionalmente entre as 19 e 20 horas, esse programa de rádio produzido pelo governo intercalava notícias, atrações artísticas e outras informações diversas. Através desse canal de diálogo, o presidente Getúlio Vargas e o ministro do Trabalho realizavam discursos onde as demandas da classe trabalhadora eram debatidas e a aprovação de novas leis divulgada. Aparecendo entre os discursos oficiais, importantes cantores do rádio utilizavam do mesmo espaço para a divulgação dos ritmos nacionais.
Realizando uma breve contraposição aos tempos oligárquicos, podemos ver uma importante dimensão representativa da “Hora do Brasil”. Naquele instante, as vozes que representavam o exercício do poder nacional se aproximavam do lar dos trabalhadores para se mostrarem dedicados aos seus anseios. A imagem do presidente que se “importava com o povo” era materialmente fortalecida quando os cidadãos passaram a ter intimidade com a voz e as ações do chefe de Estado.
Além de prestigiar Vargas, o “Hora do Brasil” também contava com uma variada programação em que se explorava temas ligados à História e à Geografia. Em algumas edições, o ouvinte tinha a oportunidade de “conhecer” as maravilhas existentes nos pontos turísticos do imenso território nacional. Já em outras ocasiões eram encenadas peças de radioteatro em que atores interpretavam romanticamente narrativas baseadas em importantes eventos da história nacional.
O impacto causado por esse programa de rádio ainda é alvo de uma indefinida discussão histórica. Por um lado, vemos que muitas pessoas zombavam do programa chamando o mesmo de “fala sozinho”. Por outro, o governo divulgava nos jornais da época várias pesquisas de opinião que legitimavam o serviço prestado pelo “Hora do Brasil”. Em meio às divergências, sabemos que o programa ainda é veiculado pelos quatro cantos do território com o nome de “A voz do Brasil”.