A Guerrilha do Araguaia foi um movimento revolucionário armado que atuou na região Norte do Brasil, especificamente na fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Goiás (hoje Tocantins), entre 1967 e 1974, durante o período do Regime Militar. Essa região fronteiriça é conhecida como “Bico do Papagaio” e foi nela que a Guerrilha do Araguaia procurou estabelecer um “foco” de expansão da revolução comunista no Brasil. O nome da guerrilha levou o epíteto de “Araguaia” devido ao fato de o “Bico do Papagaio” ser banhado por um rio homônimo (Rio Araguaia).
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O PC do B e a opção maoista
Os responsáveis pela instalação desse foco guerrilheiro foram membros do Partido Comunista do Brasil (PC do B), uma dissidência do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) formada em 1962. Eles foram influenciados pela Revolução Cubana e pela estratégia revolucionária maoista (referente a Mao Tsé-Tung), que defendia o desenvolvimento da guerrilha na zona rural, de modo que, aos poucos, tal guerrilha ganhasse corpo, com a adesão das massas, e submetesse o poder militar e político do país, implementando, por fim, um regime revolucionário.
Essa opção maoista, juntamente a outras estratégias, como o “foquismo”, de “Che” Guevara e Regis Debray, pareceu aos fundadores do PC do B, como João Amazonas e Maurício Grabois, a “melhor alternativa” à velha estratégia do PCB, que consistia em construir uma vanguarda revolucionária por via pacífica (ideológico-partidária) e só depois partir para a luta armada. O maoismo pregava o inverso.
Estavam, entre os principais militantes do PC do B e os camponeses que os auxiliaram na guerrilha, Micheas Gomes de Almeida (o “Zezinho do Araguaia”), João Amazonas, Ângelo Arroyo, Maurício Grabois (líder da guerrilha), Elza Monerat, Osvaldo Orlando da Costa (vulgo “Osvaldão”), Nélson Piauhy Dourado, os irmãos Petit (Maria Lúcia, Jaime e Lúcio), Regilena da Silva Carvalho (Lena), José Genoíno (codinome Geraldo), entre outros, que, ao todo, chegaram a 71.
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Desenvolvimento e descoberta da guerrilha
A Guerrilha do Araguaia teve início em 1967. O objetivo era conseguir o máximo de integração com o local, incluindo conexões com os moradores, conseguir armamento, suprimentos e medicamentos suficientes, bem como traçar estratégias de ataque e planos de fuga. Essa estrutura foi desenvolvida de 1967 a 1972, quando, enfim, a guerrilha foi descoberta pelo Exército.
Três operações do Exército foram executadas na região do Bico do Papagaio: “Operação Papagaio”, “Operação Sucuri” e “Operação Marajoara”. Segundo o jornalista Elio Gaspari:
[….] as operações militares foram conduzidas de forma a empurrar os guerrilheiros para as terras mais altas e secas, para emboscá-los quando descessem em busca de água. Essa tática resultara em três choques bem-sucedidos, com a captura e morte de seis guerrilheiros. Restavam em torno de 50 quadros (militantes treinados) do PC do B, e a Operação Marajoara corria o risco de repetir o fracasso dos araques anteriores. Em dezembro, assumiu o comando das operações o coronel Nilton Cerqueira, que dois anos antes emboscara Carlos Lamarca no sertão baiano. Instalou seu posto de comando num curral de fazenda e mudou a tática. Jovens tenentes e capitães que entravam no mato insistiam há tempo que se deveria trocar a linha da cautela pela da agressividade. Duas bases de operações perdidas na selva ganharam autonomia em relação à sala refrigerada da casa de telhado azul. Era a aplicação de um ensinamento das forças contrainsurrecionais: “Guerrilha se combate com guerrilha”. [1]
Além do Coronel Nilton Cerqueira, citado por Gaspari, outro personagem que teve papel central no desmantelamento da Guerrilha do Araguaia foi o Coronel Sebastião Curió.
NOTAS
[1] GASPARI, Elio. “A Ditadura Escancarada”. In: As Ilusões Armadas (vol. 2). Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 453.
*Créditos da imagem: Shutterstock e thomas koch