Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso foi professor universitário e na política atuou como senador, ministro da Fazenda, organizando a equipe do Plano Real, e presidente da república.

Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil entre 1995 e 2002.[1]
Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil entre 1995 e 2002.[1]

Fernando Henrique Cardoso é sociólogo por formação e foi professor da Universidade de São Paulo. Seu trabalho como acadêmico é reconhecido mundialmente. Ele foi aposentado compulsoriamente em 1968 e se exilou na França.

Com a redemocratização no Brasil, Fernando Henrique Cardoso iniciou sua trajetória política elegendo-se senador por São Paulo. Durante o governo Itamar Franco (1992-1994), ele assumiu o Ministério da Fazenda e liderou a equipe econômica que elaborou o Plano Real, que controlou a inflação.

Por conta do sucesso do Real, ele foi eleito presidente, e, em 1998, tornou-se o primeiro presidente a ser reeleito no primeiro turno. Após a sua saída da presidência, em 2003, Fernando Henrique investiu na fundação que leva seu nome e guarda a sua memória enquanto esteve no poder. Atualmente, o ex-presidente dá palestras sobre temas da atualidade.

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Primeiros anos de Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1931. É o filho mais velho do casal Leônidas Cardoso e Nayde Silva Cardoso. Seus ancestrais foram militares e atuaram na política brasileira durante o império. Ele começou sua formação inicial no Rio de Janeiro, mas, em 1940, mudou-se para São Paulo, onde concluiu seus estudos.

Em 1948, Fernando Henrique ingressou na faculdade de Ciências Sociais da USP, Universidade de São Paulo. Enquanto estudante, ele foi assistente do professor Florestan Fernandes. Foi em seu período universitário que ele conheceu a antropóloga Ruth Cardoso, com quem se casou e teve três filhos.

Logo após se formar em Ciências Sociais, em 1953, Fernando Henrique se tornou professor e começou a publicar seus trabalhos intelectuais analisando a escravidão no Brasil, e, com o professor Enzo Falleto, publicou a obra Dependências e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica.

Depois do golpe de 1964, Fernando Henrique se exilou no Chile, e, apesar do curto período em que viveu no Brasil nessa época, foi aposentado compulsoriamente do cargo de professor da USP, e novamente se exilou. Dessa vez, ele e sua família embarcaram para a França. Fernando Henrique foi professor visitante da Universidade de Sorbonne. Nesse tempo fora do Brasil, ele viajou para outros países, como os Estados Unidos, também como professor visitante.

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Carreira política de Fernando Henrique Cardoso

A carreira política de Fernando Henrique Cardoso se confunde com a redemocratização do Brasil. Em 1974, ano que iniciou a abertura “lenta, gradual e segura”, Fernando Henrique Cardoso foi convidado por Ulysses Guimarães, presidente do MDB, partido de oposição à ditadura, para elaborar uma plataforma eleitoral para o partido. Ele defendia a tese de que era necessário fazer alianças e repudiar a luta armada como meios para se chegar ao poder.

Em 1978, Fernando Henrique se lançou candidato ao Senado por São Paulo e recebeu 1,2 milhão de votos, sendo eleito suplente do senador Franco Montoro. Com a eleição de Montoro para o governo paulista em 1982, Fernando Henrique assumiu a cadeira de senador e iniciou as primeiras articulações visando ao fim da ditadura. Dessa forma, ao contrário de outras ditaduras sul-americanas, a transição para a democracia se deu de forma pacífica.

Fernando Henrique Cardoso e Ulysses Guimarães conversam com outro homem.
FHC (à esquerda) e Ulysses Guimarães (centro) optaram pela transição da ditadura para a democracia de forma dialogada e pacífica.[2]

As manifestações pelas Diretas Já começaram em 1984, e o senador Fernando Henrique Cardoso participou não somente da organização dos comícios como esteve nos palanques pedindo pela volta das eleições presidenciais diretas em 1985. Com a derrota da aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que garantiria as eleições diretas para a sucessão do general João Figueiredo, a solução foram as eleições indiretas, vencidas por Tancredo Neves.

Fernando Henrique foi um aliado do novo presidente, e participou dos seus primeiros movimentos, que não tomou posse por conta de uma cirurgia de emergência. O estado de saúde de Tancredo se agravou, e ele morreu em 21 de abril de 1985, sem assumir o cargo.

Com a proximidade das eleições para a prefeitura de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso se lançou candidato pelo PMDB. Ele recebeu o apoio da esquerda e contou com a participação de Chico Buarque, que fez o jingle da campanha. O adversário era o ex-presidente Jânio Quadros, que já tinha administrado a capital paulista na década de 1950.

A participação de FHC na campanha paulistana foi marcada por uma gafe. Alguns dias antes das eleições, ele se deixou fotografar no gabinete da prefeitura e sentado na cadeira de prefeito. As fotos seriam publicadas depois da divulgação do resultado oficial, mas tornaram públicas antes do pleito. Jânio Quadros venceu as eleições, e, no dia da sua posse, fez questão de chamar a imprensa e fazer o registro dele desinfetando a cadeira afirmando que “nádegas indevidas” se sentaram ali.

Em 1986, Fernando Henrique foi reeleito para o Senado. Ele participou da Constituinte de 1987, que elaborou a Carta vigente até hoje. Em 1993, logo após o impeachment de Fernando Collor de Mello, o presidente Itamar Franco convidou FHC para ser ministro da Fazenda.

Desde a década de 1980, a hiperinflação atrapalhava o crescimento econômico e empobrecia a maioria dos brasileiros. Fernando Henrique organizou uma equipe que formulou o Plano Real. Ao contrário dos outros planos econômicos, as mudanças propostas pela nova equipe da Fazenda foram feitas de forma gradual, sempre informando a opinião pública sobre elas.

O êxito do Plano Real fez com que o nome de FHC se fortalecesse para as eleições presidenciais de 1994. Ele foi o candidato oficial contra Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, que fazia forte oposição ao plano. O sucesso do Real garantiu a eleição de Fernando Henrique no primeiro turno. Em novas eleições, em 1998, os dois candidatos se enfrentaram novamente, e FHC se tornou o primeiro presidente reeleito para um mandato sucessivo. Ele governou até 2002.

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Plano Real

Desde a década de 1980, a hiperinflação encarecia o custo de vida e empobrecia a maioria da população brasileira. Inúmeros planos foram criados para conter o seu aumento, mas todos sem sucesso, apesar do início positivo. Um dos principais motivos para a hiperinflação eram os gastos públicos.

Fernando Collor de Mello tomou posse, em 1990, prometendo acabar com o problema inflacionário. Ele até que tomou medidas importantes para conter os gastos públicos e a modernização da economia, como a privatização de algumas estatais e a entrada de produtos estrangeiros. No entanto, as denúncias de corrupção encurtaram seu mandato, e, no final de 1992, seu vice Itamar Franco assumiu a presidência.

Logo no começo de 1993, Itamar queria apresentar à opinião pública um novo plano econômico de combate à inflação. Para isso, ele convidou o senador Fernando Henrique Cardoso para ser seu ministro da Fazenda. Apesar da recusa inicial, FHC assumiu a pasta. Sua equipe teve autonomia para elaborar o plano. Ao contrário dos outros planos, o Real foi feito sem medidas drásticas e em constante diálogo com a sociedade. Por ter sido parlamentar, ele tinha bom trânsito no Congresso, o que facilitou a aprovação de leis que ajudaram na execução do novo plano.

O Real promoveu reformas na economia como:

  • a mudança na moeda;

  • o equilíbrio nas contas públicas;

  • o uso do dólar como referência para o reajuste de preços e valores;

  • a abertura da economia que promovesse a modernização do parque industrial brasileiro;

  • a entrada de produtos importados em nossa economia.

A mudança na moeda ocorreu de forma progressiva, e os passos a serem realizados eram constantemente divulgados pela imprensa por meio de pronunciamentos e entrevistas. Em março de 1994, foi instituída a Unidade Real de Valor (URV), e, em julho do mesmo ano, o Real se tornou a moeda oficial do Brasil.

Depois de longos anos lidando com a hiperinflação, o Plano Real promoveu a estabilidade da moeda e da economia brasileira. No entanto, ele não conseguiu resolver com a mesma velocidade problemas sociais como o desemprego. O Real também estimulou as privatizações por meio do leilão de estatais, o que promoveu o controle nos gastos públicos e a entrada de dinheiro nos cofres do governo. Para saber mais sobre a implantação e o funcionamento da nova moeda brasileira, acesse: Plano Real.

Governo FHC

Em 1994, uma nova moeda era implantada: o Real. Os resultados positivos da economia alavancaram o nome de Fernando Henrique para a candidatura presidencial. Ele se lançou candidato, e sua plataforma eleitoral se baseou no êxito da nova moeda. Fernando Henrique foi eleito presidente da república no primeiro turno, derrotando o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Em seu primeiro mandato, FHC ampliou as privatizações e adotou medidas de contenção dos gastos públicos por meio da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em 1997, seu governo enviou ao congresso o projeto de lei da reeleição, que foi aprovado, apesar das denúncias de compra de votos. No ano seguinte, FHC se lançou candidato à reeleição e, novamente, derrotou Lula no primeiro turno. Contudo, no segundo mandato, a economia sofreu os efeitos das crises externas, demonstrando as fragilidades da nova moeda. Em 2001, a crise energética obrigou os brasileiros a economizarem energia e mostrou a falta de investimentos e de planejamento no setor elétrico. O mandato de Fernando Henrique Cardoso foi até 2002.

No final do seu mandato, logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2002, Fernando Henrique Cardoso organizou uma equipe de transição com representantes do presidente eleito para tratar sobre a passagem de poder. Essa transição pacífica se tornou regra nas sucessões presidenciais seguintes.

Vida pessoal de Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso foi casado com Ruth Cardoso e juntos tiveram três filhos. No ano 2000, a revista Caros amigos trouxe uma reportagem afirmando que o ex-presidente teria tido um filho fora do casamento com a jornalista Miriam Dutra. A revista questionava o silêncio da imprensa sobre esse caso, tendo em vista que a jornalista trabalhava na Rede Globo. Em 2009, FHC reconheceu a paternidade, e manteve esse reconhecimento mesmo após dois exames de DNA mostrarem que ele não era o pai biológico.

Ruth Cardoso faleceu em 2008, vítima de uma arritmia cardíaca. Desde 2011, o ex-presidente namora Patrícia Kuntrát. Os dois se conheceram na Fundação FHC.

Fernando Henrique Cardoso após a presidência

Após a presidência, em 2003, Fernando Henrique Cardoso começou a formar a Fundação Fernando Henrique Cardoso, responsável por guardar a memória da sua passagem pela presidência e debater temas atuais do Brasil. Além disso, ele deu palestras em várias universidades e publicou vários livros e seus diários enquanto era presidente da república.

Obras de Fernando Henrique Cardoso

  • Mudanças sociais na América Latina, 1969

  • Dependência e desenvolvimento na América Latina, 1970

  • Política e desenvolvimento em sociedades dependentes, 1971

  • Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil, 1972

  • O modelo politico brasileiro: e outros ensaios, 1973

  • Autoritarismo e democratização, 1975

  • As ideias e seu lugar: ensaios sobre as teorias do desenvolvimento, 1980

  • A construção da democracia: estudos sobre política, 1993

  • Mãos à obra, Brasil: proposta de governo, 1994

  • Por um Brasil mais justo: ação social do governo, 1996

  • Política de defesa nacional, 1996

  • Desenvolvimento sustentável, mudança social e emprego, 1997

  • Avança Brasil: mais 4 anos de desenvolvimento para todos: proposta de governo, 1998

  • A outra face do presidente: discursos do senador Fernando Henrique Cardoso, 2000

  • Negros em Florianópolis: relações sociais e econômicas, 2000

  • Brasil 500 anos: futuro, presente, passado, 2000

  • Capitalismo e escravidão no Brasil meridional, 2003

  • A arte da política, 2006

  • Cartas a um jovem político, 2006

  • Cultura das transgressões no Brasil, 2008

  • Brasil globalizado, 2008

  • América Latina: governabilidade, globalização e políticas econômicas para além da crise, 2009

  • Relembrando o que escrevi, 2010

  • Xadrez internacional e social-democracia, 2010

  • A soma e o resto, 2011

  • O improvável presidente do Brasil, 2013

  • Pensadores que inventaram o Brasil, 2013

  • A miséria da política, 2015

  • Diários da presidência – 1995-1996, 2015

  • Diários da presidência – 1997-1998, 2016

  • Diários da presidência – 1999-2000, 2017

  • Diários da presidência – 2001-2002, 2019

Créditos das imagens

[1] JFDIORIO / Shutterstock

[2] CPDOC / FGV

Por: Carlos César Higa

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