O período da História do Brasil compreendido entre os anos de 1945 e 1964 constituiu um lampejo democrático entre duas sangrentas ditaduras. Com a queda de Getúlio Vargas em 1945 e o golpe militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart, o Brasil vivenciou um intenso período de efervescência política e social, conhecendo ainda avanços no processo de industrialização, a mudança da capital para Brasília, no interior do país, e uma vasta produção cultural no âmbito cinematográfico, musical, teatral, esportivo e literário, além da ampliação da influência dos meios de comunicação de massa na vida da população brasileira.
As eleições diretas para presidente se iniciaram ainda no último ano da ditadura do Estado Novo, em 1945, realizadas após a legalização dos partidos políticos. União Democrática Nacional (UDN), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB) surgiram na cena política nacional, disputando o poder político. Em 1946, uma nova Constituição Nacional foi aprovada, em termos muito semelhantes à constituição de 1934, com a separação de poderes (executivo, legislativo e judiciário) e garantia de alguns direitos sociais, como a realização de greves e o direito ao voto.
Com a abertura da participação política surgiu a polarização política e ideológica dos vários projetos de nação, que estavam submersos pela repressão varguista. No contexto da Guerra Fria, a defesa desses projetos alinhava o Brasil a uma ou outra das esferas de influência, representadas pelos EUA e pela URSS. Essa situação levou o PCB a ser cassado novamente em 1947, dois anos após sua legalização, amargando seus militantes a mais um longo período de clandestinidade.
Outro debate que permeou as disputas pelo poder de Estado estava relacionado aos projetos liberais e nacionalistas. A adoção do receituário liberal, de mínima intervenção da instituição estatal na economia e de abertura ao capital internacional, contrapunha-se à defesa do nacionalismo, de restrição à abertura ao capital internacional, contando com o Estado como investidor, pois faltava uma burguesia detentora dos capitais destinados aos investimentos necessários ao crescimento econômico do país.
Entretanto, o debate não impediu que o país verificasse um crescimento econômico e a intensificação do processo de industrialização, principalmente durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). A consequência social do crescimento econômico e da liberdade política foi o acirramento entre as classes sociais. De um lado, trabalhadores urbanos e rurais encontraram um cenário propício para a apresentação de suas reivindicações de melhorias salariais e de condições de vida, bem como aos pedidos de distribuição de terras através de uma Reforma Agrária, entendida como necessária para acabar com a histórica concentração de terras e renda no país. Por outro lado, os grandes latifundiários e os grandes empresários viam as movimentações dos trabalhadores como uma ameaça ao poderio econômico e político que detinham desde a colonização portuguesa.
O ápice destes conflitos ocorreu durante a presidência de João Goulart (1961-1964). Já na nova capital, Brasília, e com uma política nacionalista contrária aos interesses dos capitais estrangeiros e de sinalização de aceitação de boa parte das reivindicações dos trabalhadores do campo e da cidade, setores do exército, dos latifundiários e dos empresários começaram a se articular para limitar seu poder. A primeira medida foi a adoção do parlamentarismo (1961-1964) e, posteriormente, sua deposição com o golpe militar de 1º de abril de 1964.
Na esfera cultural, o período entre as ditaduras viu surgir a Bossa Nova e a emergência do samba para além das camadas populares brasileiras. O rock apareceu no cenário nacional, influenciando a juventude brasileira a adotar comportamentos praticados pela juventude dos EUA. Além disso, o cinema, o teatro e a literatura conheceram uma renovação com o Cinema Novo, o Teatro Experimental do Negro, o Teatro Brasileiro de Comédia, o Teatro de Arena e a poesia concretista. A televisão também começou a ocupar os lares brasileiros, junto ao rádio, que proporcionou à população conhecer grandes conquistas internacionais no esporte, como os títulos mundiais de futebol em 1958 e 1962.
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Por Tales Pinto
Graduado em História