No momento da chegada da corte portuguesa, em 1808, não existia unidade no Brasil. Em outras palavras, a população não possuía um sentimento de nacionalidade e de patriotismo; e não existia unidade nem em relação às questões territoriais.
No território colonial brasileiro existiam vários núcleos coloniais sem unidade política e econômica. Alguns desses núcleos se comunicavam diretamente com a metrópole em Lisboa, sem qualquer comunicação feita com a sede da colônia no Rio de Janeiro.
Com a independência do Brasil, começou a surgir um tímido sentimento de nacionalidade, a partir da unificação do território. É bom ressaltar que o sentimento de pátria e o sentimento de pertença (como o da identidade nacional) ainda não existiam. Após a constituição do império, o sentimento de nacionalidade ainda era bastante insípido.
Podemos comprovar essa afirmação com as revoltas que aconteceram principalmente no período regencial (1831-1840): a Sabinada, a Cabanagem e a Farroupilha, em que prevaleceram sentimentos locais. Os revoltosos não tinham suas reivindicações voltadas para o âmbito nacional, mas, sim, para as próprias províncias, ou seja, para os interesses locais. Além disso, algumas dessas revoltas tinham um caráter separatista, como a revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, a qual reivindicava a separação do império e a criação de uma república no sul do Brasil.
A situação começou a mudar com o surgimento dos sentimentos de patriotismo e civismo, a partir de conflitos externos, contra inimigos estrangeiros. O marco se consolidou com a Guerra do Paraguai (1864-1870). A partir da vitória brasileira, começaram a surgir símbolos que marcariam o sentimento de nacionalidade, como a bandeira e o hino nacional.
Outro fator importante foi a construção da imagem do imperador do Brasil, D. Pedro II, como líder da nação brasileira, juntamente com a construção dos heróis nacionais, pois uma unidade nacional só é realizada a partir de uma unificação territorial e, principalmente, a partir da unificação da população, que começou a identificar uma memória e uma história em comum: a bandeira nacional, o hino nacional, os heróis nacionais e a figura do imperador.
Alguns outros fatores exerceram papéis fundamentais na construção do sentimento nacionalista brasileiro, como a criação do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB), em 1838. O instituto foi responsável por escrever uma história coesa sobre o Brasil, que unia seus mais diferentes povos em um sentimento de nacionalismo. Também, no século XIX, a criação da Academia Imperial de Belas Artes contribuiu para a construção da identidade nacional brasileira. Por meio de pinturas, chamadas de pinturas históricas, fatos e acontecimentos históricos fundamentais para a história do Brasil foram reproduzidos, como o grito do Ipiranga, momento em que D. Pedro I havia declarado a Independência do Brasil, que foi transformado em quadro, em 1888, com a autoria de Pedro Américo.
A construção da nação brasileira, o sentimento de nacionalidade, de patriotismo, de civismo e a identidade nacional foram forjados por uma elite política imperial. Nesse processo, faltou a participação das camadas populares da sociedade. Esse fato explica a apatia brasileira em relação às questões relacionadas à corrupção política e a ínfima consciência política do povo brasileiro.