O desmatamento consiste na retirada de cobertura vegetal de uma determinada área. É causado pela ação antrópica sobre o ambiente, e suas motivações encontram-se principalmente na exploração econômica dos recursos naturais. A agricultura intensiva e a pecuária são, atualmente, os maiores causadores da remoção da cobertura vegetal em todo o mundo. Outras causas, como a extração mineral e a urbanização, são também apontadas. No Brasil, a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica são os biomas que mais sofrem com o desflorestamento.
Entre as consequências estão:
- perda de biodiversidade
- transformações no regime hídrico em escalas diversas
- aquecimento global
- prejuízos diretos à população
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Tópicos deste artigo
- 1 - Principais causas do desmatamento
- 2 - Consequências do desmatamento
- 3 - Desmatamento no Brasil
- 4 - Desmatamento no mundo
- 5 - Soluções para o desmatamento
Principais causas do desmatamento
O desmatamento (ou desflorestamento) tem suas origens na ação antrópica, isto é, por meio da atividade humana sobre determinada localidade. Por essa razão, as motivações para a sua realização vão de encontro aos interesses daqueles que a praticam, sendo, atualmente, orientada, na maior parte das vezes, por fatores econômicos.
A agricultura e, no geral, a atividade agropecuária são hoje as maiores responsáveis pelo aumento das taxas de retirada da cobertura vegetal em todo o planeta. No entanto, é necessário ressaltar que a remoção da vegetação nativa é uma das primeiras etapas do plantio, sendo comum na prática agrícola. O que muda e tem sido motivo de preocupação nas últimas três décadas é a sua realização em larga escala, sobretudo para viabilização do agronegócio.
Entram nesse escopo a produção de commodities agrícolas, como a soja e a pecuária extensiva. Ambas são realizadas em grandes propriedades de milhares de hectares, e muitas das vezes as técnicas utilizadas, tanto para o desmate e preparo da área quanto durante as etapas produtivas, podem prejudicar a composição química e estrutura dos solos, impedindo a retomada da vegetação nativa.
Outras atividades econômicas apontadas como grandes causadoras do desmatamento no mundo são a mineração, com o extrativismo mineral de forma ampla, e o extrativismo vegetal, sobretudo associado à indústria madeireira e de papel e celulose.
O processo de urbanização e o crescimento desordenado das cidades são elencados também como causas do desflorestamento, embora aconteçam em taxas menores do que aquelas oriundas das práticas descritas anteriormente. Diretamente ligadas ao espaço urbano estão a industrialização e todas as modificações que ela suscita nos locais de instalação das plantas industriais e empresas, como a construção de redes de serviço e infraestrutura (rodovias, ferrovias etc.), que demandam a abertura de novas áreas e, portanto, remoção de vegetação. Muitas áreas de proteção ambiental também estão sujeitas à ação humana para construções e outras obras de engenharia.
O desmatamento pode ser causado ainda por incêndios e queimadas naturais ou intencionais, tendo estas últimas as mesmas motivações que descrevemos até aqui. Ressaltamos, ainda, que existem modalidades de retirada de cobertura vegetal previstas na Constituição Federal de 1988 e no Código Florestal, atualizado em 2012. Elas são feitas sob condições específicas e mediante autorização, havendo, em alguns casos, a necessidade de compensação pela vegetação removida.
Consequências do desmatamento
O desmatamento tem consequências em diversas escalas, desde locais a globais. É o caso da perda de biodiversidade pela remoção de espécies vegetais nativas (ou endêmicas), que, em alguns casos, pode levá-las a extinção, e a consequente redução ou destruição do habitat da fauna local. Há, com isso, um desequilíbrio ambiental no ecossistema local, que interfere diretamente em outras escalas, como veremos na questão climática.
As florestas são consideradas estoques de carbono, e sua remoção leva à maior emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2). A liberação desses gases contribui para o aquecimento global e a transformação gradativa do clima em escala planetária.
Alterações no regime hídrico pela redução da umidade do ar, que, até então, era garantida tanto pelos solos quanto pela transpiração das plantas, processo conhecido como evapotranspiração. São observadas modificações no escoamento superficial das águas em função da menor infiltração nos solos, da alteração no volume de água nos rios próximos e de mudanças no regime pluviométrico. A umidade de florestas pode ainda se deslocar pela atmosfera até outra área do território, como acontece no Brasil com a umidade amazônica. Por isso, o desmatamento e o menor aporte de umidade podem afetar a pluviosidade em outras porções do território.
Aumento das taxas de intemperismo dos solos, que ficam expostos após a remoção da cobertura vegetal, e menor formação da camada de serrapilheira, que ajuda na proteção do substrato. Como resultado, pode haver a ocorrência do assoreamento dos cursos d’água devido à intensificação do escoamento superficial, conforme explicado, e maior aporte de sedimentos que chegam aos rios. A fertilidade dos solos é prejudicada devido à menor quantidade de matéria orgânica neles depositada.
Não obstante os impactos ambientais, as populações que dependem dos recursos das florestas e outras formações vegetais para a sua subsistência são as mais profundamente afetadas pelo desmate. Tratamos aqui principalmente dos povos e comunidades indígenas e das comunidades tradicionais extrativistas.
Direta ou indiretamente, as consequências da redução de área verde atingem a todos, seja pelas condições climáticas que afetam o bem-estar social, reduzindo a disponibilidade hídrica e refletindo no calendário da produção agrícola, seja pela retirada direta da sua fonte de sobrevivência.
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Desmatamento no Brasil
A devastação da cobertura vegetal é hoje o principal problema ambiental enfrentado pelo Brasil. Desde o início da formação do território nacional, essa prática é utilizada para a abertura de novas áreas habitacionais e para o plantio. Entretanto, na medida em que o país foi se desenvolvendo e urbanizando, o desmatamento cresceu nas mesmas proporções.
Nas últimas quatro décadas, esse processo foi intensificado graças à modernização agrícola e ao surgimento de novas técnicas de uso e manejo do solo, que permitiram o espraiamento da produção agrícola e a adaptação de cultivos a diferentes tipos de substrato. O carro-chefe da agricultura intensiva, e responsável hoje pelo aumento dos índices de desmatamento nos principais biomas brasileiros, é a soja, seguida da pecuária extensiva.
De acordo com dados do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), apenas em 2019 o país desmatou um total de 1.218.708 hectares ou 12.187,08 km2, sendo a Amazônia e o Cerrado os dois biomas mais atingidos. No total, entre 1985 e 2019, o desmatamento no país foi de cerca de 870 mil km2, considerando-se o balanço entre perdas e regenerações, segundo o MapBiomas.
O monitoramento oficial das áreas desmatadas no Brasil é feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Desmatamento na Amazônia
O bioma amazônico é o mais atingido pela remoção da cobertura vegetal nativa, o que ocorre principal, mas não exclusivamente, pela abertura de novas áreas para a prática da pecuária extensiva e para o cultivo agrícola, principalmente de soja.
Parte do bioma da Amazônia integra a nova fronteira agrícola do país, o que contribui para o avanço do desmatamento sobre sua vegetação. Práticas ilegais, como a grilagem de terras e a especulação imobiliária, são apontadas como causas do desmatamento na Amazônia. Ademais, a construção de hidrelétricas, a abertura de estradas e a instalação de outras infraestruturas urbanas são todas atividades antrópicas registradas no bioma que motivam a remoção da vegetação.
Dados do sistema de monitoramento Deter, do Inpe, mostram que, entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Amazônia perdeu 9.205 km2 de sua cobertura vegetal, enquanto, no mesmo período do ano anterior, esse valor havia sido de 6.844 km2, seguindo uma tendência de crescimento que se instalou a partir de 2018, após um breve período de queda e estabilização.
Entre os anos de 1985 e 2019, o MapBiomas identificou uma perda líquida total de 440 mil km2, passando de uma área de florestas total de 3,8 mi km2 para 3,36 mi km2 nesse intervalo de tempo. Ainda, 14% da área do bioma estão ocupados com atividades agropecuárias, das quais a maior parcela corresponde à pecuária extensiva.
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Desmatamento na Mata Atlântica
A Mata Atlântica consiste no primeiro bioma a ter sido submetido ao desmatamento em decorrência de interesses econômicos voltados aos recursos naturais do território brasileiro e às potencialidades de desenvolvimento agrícola da terra. Isso porque a colonização portuguesa teve início pela faixa litorânea, área de ocorrência desse domínio vegetal|1|.
As motivações para o desmatamento da Mata Atlântica nos períodos mais recentes são as mais diversas, uma vez que esse bioma estende-se por 17 estados brasileiros. No entanto, as causas principais têm origem nas atividades econômicas, como o plantio de soja, a extração de carvão e a produção de papel e celulose.
Dados do SOS Mata Atlântica mostram que, entre 2018 e 2019, o bioma perdeu uma área de 14.502 hectares de mata, um aumento de pouco mais de 3 mil hectares com relação ao período precedente (2017-2018). O MapBiomas indica ainda que, atualmente, há mais áreas de pastagens do que de mata nativa na Mata Atlântica, tendo as áreas ocupadas com atividades agrícolas dobrado entre 1985 e 2019. No total, a Mata Atlântica conta apenas com 12,4% da sua vegetação nativa|2|.
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Desmatamento no Cerrado
O Cerrado é o segundo bioma mais devastado pelo desmatamento no Brasil. Disposto sobre a área onde ocorreu o avanço da fronteira agrícola brasileira a partir da década de 1970, a remoção da sua cobertura vegetal está essencialmente relacionada com a expansão dos cultivos intensivos e as cadeias produtivas do agronegócio. Por isso, as causas para o desmate englobam a instalação e expansão da infraestrutura necessária para a circulação da produção agrícola (rodovias, ferrovias, áreas portuárias).
Foram perdidos 408.646 hectares de Cerrado em 2019, de acordo com o MapBiomas. A atividade agropecuária nesse bioma mais do que triplicou de meados da década de 1980 até 2019, o que significou a remoção de 28 mi de hectares ou 280 mil km2. Atualmente, ainda segundo o MapBiomas, 43,8% da área do Cerrado estão sob o domínio da agricultura e pecuária, enquanto 46,5% correspondem a áreas de floresta (formação savânica em sua maioria, característica do bioma).
Desmatamento no mundo
As florestas cobrem 31% de toda a superfície terrestre, sendo 20,1% delas localizados na Rússia, e 12,2%, no Brasil. Esses são dados apresentados na edição de 2020 do relatório “O Estado das Florestas no Mundo”, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês).
Proporcionalmente, a maior ocorrência de desmatamento no mundo está nos dois países citados anteriormente. De modo geral, o padrão é o mesmo: as maiores taxas de retiradas da cobertura vegetal estão nos países subdesenvolvidos, concentrando-se nos continentes africano e sul-americano.
O mundo perdeu, no ano de 2019, 24,2 milhões de hectares de cobertura vegetal, de acordo com o Observatório Mundial do Desmatamento. Entre 2001 e 2019, a redução foi de 386 milhões de hectares ou 9,7% da sua cobertura vegetal. Considerando-se apenas o desmatamento em áreas florestais, a remoção da cobertura foi da ordem de 60,5 milhões de hectares de vegetação nativa para o mesmo intervalo temporal.
Os países que mais perderam cobertura vegetal entre 2001 e 2019 foram, respectivamente:
- Rússia
- Brasil
- Canadá
- Estados Unidos
- Indonésia
Quanto à velocidade de desmate, o Brasil lidera o ranking com 1,78 mi de hectares por ano, de acordo com os dados para 2020. Em seguida vêm:
As informações são do Observatório Mundial do Desmatamento.
Soluções para o desmatamento
As soluções para a contenção do desmatamento ilegal perpassam por diversas esferas do poder público e da sociedade civil, sendo a sua execução mais complexa do que aparenta.
Um documento|3|, publicado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em 2017, elenca como primeira estratégia para a redução da prática a divulgação ampla dos dados referentes ao desmatamento, fazendo-a de forma mais transparente possível para que a população tenha a real perspectiva do problema e as autoridades e responsáveis orientem as ações de forma equivalente. As outras duas medidas dizem respeito a incentivos financeiros para a preservação da floresta e sua utilização de forma sustentável.
Colocando em termos práticos, uma das principais saídas para o desmatamento seria a aplicação efetiva dessas ações em conjunto com a fiscalização das normas estabelecidas pelo Código Florestal, fazendo-se uso de créditos ou incentivos financeiros para recompensar aqueles que seguissem de forma integral as regras previstas no documento.
Uma medida que obteve resultados satisfatórios foi a moratória da soja, estabelecida em 2006 entre diversas partes interessadas (organizações, empresas, governos) e que previa a não aquisição de soja produzida em áreas de desmatamento da Amazônia|4|. Embora pesquisadores recomendem a sua extensão, empresas do agronegócio têm disputado essa alternativa.
Notas
|1| YOUNG, Carlos Eduardo Frickmann. Desmatamento e desemprego rural na Mata Atlântica. In: Floresta e Ambiente, v. 13, n. 2, pp. 75-88, 2006.
|2| CANDIDO, Marcos. Após queda, cresce desmatamento da Mata Atlântica em quase 30%. ECOA (UOL), 27 maio 2020. (Clique aqui e acesse)
|3| IPAM et. al. Três Estratégias Fundamentais para a Redução do Desmatamento, 2017. (Clique aqui e acesse)
|4| VEIGA, Edison. 'Moratória da soja' no Cerrado evitaria desmatamento de área maior que a Bélgica, diz estudo. BBC, 18 jul. 2019. (Clique aqui e acesse)
Créditos das imagens
[1] lourencolf / Shutterstock
[2] Caio Pederneiras / Shutterstock