A lenda do boto-cor-de-rosa faz parte do folclore brasileiro, e sua tradição é predominante na região Norte do país. A fantasiosa história se trata do boto-cor-de-rosa (animal semelhante a um golfinho), que se transforma em um homem bonito, ao cair da noite, e sai do rio para seduzir mulheres ribeirinhas. Após se relacionar sexualmente com elas, retorna ao seu ambiente e à sua forma original antes que o dia amanheça, deixando a moça apaixonada e, por vezes, grávida.
A tradição oral (e, posteriormente, escrita) de transmitir lendas e saberes por gerações resulta em diferentes versões de um mesmo mito folclórico. É comum que a narrativa se adapte ao contexto da população local para que ganhe significado. No caso do boto-cor-de-rosa, foi utilizado um animal real, o cetáceo presente nos rios da Amazônia, para explicar a incidência de filhos sem pai, muitas vezes justificando casos extraconjugais e, até mesmo, encobrindo episódios de violência sexual: os chamados filhos do boto.
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Versões da lenda
O boto aparece em diferentes versões de sua lenda. Existe a vertente mais antiga, em que o personagem aparece para as moças que se banham ou andam nas margens dos rios, seduzindo-as.
A versão mais popular, no entanto, é a do boto festeiro, galanteador dos bailes. Algumas lendas dizem que o boto-cor-de-rosa se transforma e sai do rio em noites de Lua cheia, enquanto outras versões relatam que os episódios ocorrem somente nas Festas Juninas.
Independentemente da época escolhida pelo boto, a imagem de sua figura humana é a mesma em todas as versões da lenda: homem bonito, magro, de roupas brancas e que usa um chapéu para cobrir o orifício presente em sua cabeça (resquício de sua versão cetácea).
Como incorporação da lenda ao imaginário do povo da Amazônia, tirar o chapéu ao chegar a festas e eventos para mostrar a cabeça tornou-se um hábito entre os rapazes, já que o boto utiliza a peça para esconder um de seus segredos.
Impacto da lenda
Apesar de ser uma lenda, a ligação da imagem do boto-cor-de-rosa à sexualidade e ao misticismo coloca, ainda hoje, a espécie em risco. Partes do animal são consideradas afrodisíacas e até mágicas, o que acaba incentivando a pesca predatória.
Por ser um animal que desperta o interesse de turistas, é comum que o boto-cor-de-rosa seja atração em rios da região Norte do país. No entanto, a interferência humana no habitat dos cetáceos pode prejudicar o modo de vida da espécie e torná-los agressivos entre si, na disputa pela comida oferecida pelos visitantes.
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Cidade Invisível
A lenda do boto-cor-de-rosa ganhou visibilidade recentemente por causa da série brasileira Cidade Invisível, da Netflix. A trama conta uma história policial envolvendo vários personagens do folclore, como o saci-pererê, a cuca, a iara, o curupira, além do boto-cor-de-rosa.
Na série Cidade Invisível, o boto-cor-de-rosa é interpretado pelo ator Victor Sparapane. Na forma humana, o personagem se chama Manaus e é galanteador como na lenda.