Tales (625 a.C. – 558 a.C.) foi considerado por Aristóteles o primeiro filósofo da história ocidental. Porém, o pensador não foi responsável por cunhar o termo Filosofia e, tampouco, sabia que ficaria conhecido dessa maneira pela posteridade.
Nascido na cidade de Mileto, na Ásia Menor, Tales foi um homem de negócios bem-sucedido e dedicou grande parte de sua vida ao estudo da matemática, da astronomia e da natureza, entre outras áreas do conhecimento. A biografia do filósofo aponta que ele viajou muito, passando pelo Egito e pela Babilônia, o que influenciou de forma decisiva o seu pensamento.
No Egito, esse pensador entrou em contato com a matemática daquele povo, fator que culminou na descoberta do famoso Teorema de Tales e na introdução dos estudos sistemáticos de geometria na matemática.
Em seu contato com os babilônicos, ele aprendeu técnicas mais precisas de localização dos astros, sendo atribuída a ele a descoberta de que a constelação Ursa Menor seria mais precisa para a orientação de navegadores (informação válida apenas para o hemisfério norte do planeta), por apontar para o norte. Tales também realizou feito notório ao prever um eclipse solar, que teria acontecido no ano de 585 a.C., apenas pela observação dos astros.
O filósofo também ficou conhecido como um sábio por ter a inteligência de aplicar o seu conhecimento na vida prática, o que teria rendido bons frutos aos seus negócios como mercador.
O grande diferencial de Tales, que o fez ser reconhecido como o primeiro filósofo, é uma afirmação bastante peculiar: tudo começa com a água e tudo é composto de água. Com essa afirmação, ele inaugurou a tradição pré-socrática da Filosofia, composta por pensadores naturalistas, também chamados de cosmólogos.
O que esses primeiros filósofos tentaram fazer foi estabelecer uma possível origem racional para o universo que não fosse tão mirabolante e fantasiosa como as explicações mitológicas, mas que fosse composta por argumentos racionais derivados da observação da natureza e do universo.
Tales, ao dedicar-se à contemplação da natureza e do mundo à sua volta, concluiu que a água era o elemento comum a todos os seres e objetos. Cada ser, segundo o filósofo, teria uma menor ou uma maior proporção de água em sua composição, tornando esse líquido a possível origem de tudo. A água seria também a origem do movimento criador que diferencia as coisas e que dá movimento à natureza.
Hoje em dia, com o avanço científico, não precisamos nos esforçar para refutar essa teoria de Tales. Parece-nos evidente que a água, sozinha, não deu origem a todos os seres, objetos e ações do universo. Porém, para a época em que o filósofo viveu, essa afirmação contém um peso muito peculiar: é a partir dessa afirmação, concluída a partir da observação da natureza, que se tem uma primeira tentativa de explicar a origem do universo por outro meio que não fosse uma narrativa mítica. Pela primeira vez, alguém utiliza o conhecimento racional, a observação empírica, a argumentação e os nexos causais para explicar de maneira coerente a origem da natureza.
Assim, a afirmação “tudo é água” condensa o primeiro impulso rumo a um processo que já dura quase 2600 anos: o saber filosófico como base primeira para qualquer tipo de conhecimento que pretenda apresentar-se como um conhecimento racional.
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