A escola eleática tem o seu nome derivado da cidade de Eleia, ao sul da Itália, lugar de origem de seus principais pensadores: Parmênides, Zenão e Melisso. Essa escola caracterizou-se por não procurar uma explicação da realidade baseada na natureza. Suas preocupações eram mais abstratas e apresentaram o primeiro sopro de uma lógica e de uma metafísica. Seus pensadores defendiam a existência de uma realidade única, por isso ficaram conhecidos também como monistas, em oposição ao mobilismo (de Heráclito, principalmente, que acreditava na existência da pluralidade do real). A realidade para eles era única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio ou fim, contínua e indivisível.
Vejamos um pouco sobre as principais teorias desenvolvidas por Parmênides, conhecido como fundador da Escola Eleática.
Parmênides e as duas vias para a compreensão da realidade:
Não podemos dizer ao certo quando nasceu e morreu Parmênides, apenas localizá-lo entre o final do século IV e começo do século V a.C. Assim como vários autores da mesma época, escreveu suas ideias filosóficas na forma de poemas.
Dividido em três partes – Proêmio, Primeira Parte e Segunda Parte –, o poema Sobre a Natureza apresenta que há dois caminhos de compreensão da realidade. O primeiro, o da verdade, da razão e da essência, é o mais importante e aquele ressoa na obra de filósofos posteriores. Segundo esse primeiro caminho, se a pessoa é conduzida apenas pela razão, entenderá que “o que é, é – e não pode deixar de ser”. Para o segundo, o da opinião e da aparência enganosa, se a pessoa segue por esse caminho, acreditará que o mundo é baseado em movimento, pluralidade e devir, ou seja, acreditará que o ser e o não ser são e não são a mesma coisa.
Para Parmênides, o ser é: isso significa que o ser (“aquilo que é”) é imutável e imóvel. Apenas o “ser” é a substância permanente, ou seja, em vez de identificar a essência (a arché) com algum elemento, como os filósofos anteriores fizeram, Parmênides identifica-a com o “ser”. Aquilo que não “tem ser” não é nada, não existe. O não ser, a negação do ser, é identificado por Parmênides com a mudança: quando algo “muda”, deixa de ser aquilo que era e ainda não é algo novo.
Vejamos alguns fragmentos do poema de Parmênides*:
“O que podes nomear e pensar tem de ser o Ser
Pois o Ser pode, e o nada não pode, ser.”
Com isso, Parmênides quer dizer que, se podemos dar um nome a um animal ou a uma planta, isso significa que eles têm que “ser”. Em seguida, ele nos diz que o “nada não pode ser”, ou seja, se uma coisa “é”, ela tem que ser um animal, uma planta ou qualquer outra coisa. Assim, uma coisa não pode existir e não existir ao mesmo tempo e, para ela existir, ela precisa ter um Ser. Por isso, ele nos diz em seguida:
“Nunca poderá suceder que o Não-Ser seja;
Não permitas ao teu espírito tal pensamento”.
Em outras palavras, Parmênides reafirma que se uma coisa não é, ela não é uma coisa e não existe, portanto. Se uma coisa pode ser pensada, ela tem um Ser.
“Não poderás conhecer o Não-Ser — isso não pode fazer-se —
Nem proferi-lo; ser pensado e ser é uma só coisa”.
Isso significa que, para Parmênides, se uma coisa pode ser pensada, ela tem um Ser, ou seja, existe. Mesmo coisas que não existem na realidade, podem vir a existir, são formadas de conceitos que existem e, por isso, “são”. Por exemplo, quando Santos Dummont pensou em um avião, ele pensou a partir de coisas que existiam, mas só depois é que ele construiu, de fato, um avião.
No trecho a seguir, Parmênides lista as características do “Ser”.
“Há um caminho, assinalado deste modo:
O Ser nunca nasceu e nunca morre;
Firme, imóvel, não permitirá nenhum fim
Nunca foi, nem será; sempre presente,
Uno e contínuo. Como poderia nascer
Ou de onde poderia ter -se criado? Do Não-Ser? Não —
Isso não pode dizer-se nem pensar-se; não podemos sequer
Chegar a negar que é. Que necessidade,
Anterior ou posterior, poderia o Ser do Não-Ser fazer surgir?
Portanto, tem inteiramente de ser ou não.
Nem ao Não-Ser irá a crença atribuir
Qualquer progenitura além de si mesmo (...)
A partir do monismo de Parmênides, os filósofos posteriores tentaram reconciliá-lo com o mobilismo de Heráclito: para o primeiro, até as coisas efêmeras são duradouras em seu nível mais profundo; para o segundo, até as coisas aparentemente mais duradouras são efêmeras.
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*As citações de Parmênides foram transcritas de KENNY, Anthony. História Concisa da Filosofia Ocidental. Lisboa, Temas e Debates, 1999. p. 32-33.
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