A palavra “dogmatismo” deriva da palavra dogma, que em latim significa “opinião filosófica” e em grego significa “opinião, princípio”. Em qualquer sentido que se aplique, a palavra “dogma” parece vinculada à ideia de adesão: quando se trata de uma doutrina filosófica, é aquela transmitida por uma escola sem que seja passível de contestação. É possível perceber, na história da filosofia, os filósofos que eram dogmáticos, ou seja, aqueles que defendiam as suas verdades, e os não dogmáticos, aqueles que se recusavam a acreditar nas verdades estabelecidas.
Quando se trata de um dogma religioso, trata-se de uma doutrina fundada em um princípio que se considera “verdadeiro” o qual os fieis precisam aceitar incondicionalmente. No catolicismo, por exemplo, há o dogma da Imaculada Conceição de Maria, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX na bula “Ineffabilis Deus”. Isso significa que, para os católicos, Maria nasceu sem pecado original, ou seja, que ela foi considerada santa desde o início da sua existência.
Esse dogma foi de difícil aceitação mesmo dentro do seio da Igreja Católica. Tomás de Aquino, por exemplo, pensava que assumir que Maria tinha sido santa desde o princípio, isto é, que ela não era tributária do pecado de Adão, significaria que a redenção operada pela morte e ressurreição de Jesus Cristo não teria sido universal – o que feria outro dogma, da Redenção Universal. A conciliação entre os dois dogmas foi promovida por Duns Scotus (1266-1308). Para ele, o dogma da Imaculada Conceição não exclui Maria da redenção promovida por seu filho; em vez disso, ela foi previamente redimida para que estivesse preparada para a maternidade.
A partir disso, entendemos que quando falamos que uma pessoa é dogmática, isso significa que é uma pessoa que afirma uma opinião sem admitir contestação. A atitude dogmática é submissa e autoritária ao mesmo tempo. Se, por um lado, estamos nos submetendo a algo sem questionar, também estamos submetendo o outro ao nosso pensamento, por não permitirmos que ele nos coloque em dúvida.
Quando dizemos que um pensamento é dogmático ou nos referimos aos “dogmas de fé” ou podemos dizer que esse pensamento não é “crítico” no sentido de que ele não tem abertura para a discussão racional. Ou seja, no sentido comum, dogmatismo pode ser entendido como uma atitude intransigente ou de um pensamento apresentado sem fundamentos.
Do ponto de vista da filosofia, podemos entender que dogmatismo é oposto ao ceticismo, pois se refere a qualquer atitude ou pensamento que parte do pressuposto de que é possível se chegar a verdades absolutas. Para Kant, o dogmatismo é a convicção de que é possível estabelecer sistemas filosóficos sólidos sem ter passado pela crítica. Para a tradição marxista, dogmatismo é o mesmo que a tendência a se separar as teorias da prática e da análise concreta.
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