A crítica de Francis Bacon ao método indutivo de Aristóteles

Francis Bacon elaborou uma crítica ao método indutivo de Aristóteles antes de detalhar a sua própria teoria.

Na imagem, Aristóteles, que teve seu método indutivo criticado por Francis Bacon
Na imagem, Aristóteles, que teve seu método indutivo criticado por Francis Bacon

O filósofo Francis Bacon defendia que o método indutivo era o mais eficaz para se compreender o funcionamento da natureza. No entanto, ele fez uma distinção entre o método indutivo que elaborou e o método indutivo elaborado por pensadores que vieram antes dele, como Aristóteles. Para Bacon, o antigo método de indução era vulgar. Antes de elaborar seu método, ele apresentou sua crítica.

A metodologia de Aristóteles

Aristóteles foi o primeiro filósofo a usar um termo para especificar o método indutivo: epagogé, traduzido para o latim, por Cícero, por “inductio”. No entanto, nas passagens em que se dedica a explicar o que seria a indução, Aristóteles não é tão claro quanto ao falar sobre a dedução, que tem ponto central em sua teoria da ciência.

Nas obras aristotélicas, como Física, Do Céu, Tópicos, Primeiros Analíticos e Analíticos Posteriores, o termo “indução” aparece com o sentido de um raciocínio que parte de uma afirmação particular para uma conclusão universal. Na obra “Analíticos Posteriores”, há uma seção na qual Aristóteles explica a forma de inferência que é conhecida como “intuitiva”.

Por meio desse método indutivo, o processo de conhecimento salta de um caso particular para uma conclusão universal. Por exemplo, ao analisar um número de mulheres, como Simone de Beauvoir e Carolina Maria de Jesus, a mente vê aquilo que faz delas seres humanos e, por intuição, conclui que, para ser humano, é preciso ser racional. O passo que Aristóteles dá do particular para o geral é possível pela abstração.

Não é essa a forma de indução que Francis Bacon refere-se em suas críticas a Aristóteles. Ele se refere em suas críticas à forma de indução que conhecemos como “enumerativa”, que aparece na obra “Primeiros Analíticos” (II.23). O termo “indução”, nessa passagem, é interpretado por Bacon como uma forma de generalização.

Por meio da indução enumerativa, uma conclusão elaborada a partir de uma evidência relativa a poucos membros de um grupo é aplicada a todos os membros do mesmo grupo, ou seja, por meio dela é possível fazer generalizações. Todavia, são generalizações falíveis, que não podem ser consideradas válidas.

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A crítica de Bacon

O primeiro ponto da crítica de Bacon é o silogismo aristotélico. Em primeiro lugar, Bacon considerava que as inferências não serviam para ajudar a progredir no conhecimento: se há uma verdade, ela é demonstrada, mas não há uma descoberta, pois só se analisa a mente humana, e não a natureza das coisas. O segundo ponto de crítica de Bacon é que o silogismo baseia-se em palavras que muitas vezes são confusas, então não se pode inferir nada concreto a partir de um silogismo.

O método indutivo aristotélico refutado por Bacon é, como vimos, a indução por enumeração, a generalização a partir de poucos exemplos, que são escolhidos para comprovar a conclusão. O método indutivo que Bacon propõe destaca os exemplos desfavoráveis à conclusão. Por isso, seu método também é conhecido por “indução eliminativa”.

A indução por enumeração não expressa, em suas premissas, um conteúdo empírico sólido e, por isso, para ele não se podia falar em “conclusão” tirada a partir desse método, e sim de suposição. Deve-se destacar, no entanto, que, como vimos, Aristóteles defendia principalmente a indução intuitiva, que é o método indutivo realmente aristotélico, como salienta Abbagnano (1956, p. 27)¹.

Diferentemente de Aristóteles, que acreditava na disposição humana inata para o conhecimento, Bacon pensava que era preciso preparar a mente do homem, eliminando os ídolos que poderiam comprometer seu entendimento. Outra diferença entre eles é o papel da experimentação: Aristóteles não realizava experimentos para comprovar suas afirmações, enquanto Bacon realizava experimentos falseadores, ou seja, experimentos pelos quais tentava refutar e comprovar suas teorias em um contínuo “interrogar a natureza”.

Notas¹:

Abbagnano, Nicola. [1956] História da filosofia, VI, Presente, Lisboa, 1992.

Por: Wigvan Junior Pereira dos Santos

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