É comum que os candidatos ao Enem sofram diante de tantos conteúdos para estudar, principalmente nas vésperas desse importante exame. Para evitar angústias que podem te tirar do foco e aumentar sua ansiedade, a melhor solução é planejar-se. Para ajudá-lo, selecionamos, a seguir, os temas de literatura que mais caem no Enem.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Distinção entre linguagem literária e linguagem não literária
- 2 - Gêneros literários
- 3 - Movimentos literários
- 4 - Foco narrativo e tipos de narrador
- 5 - Intertextualidade, interdiscursividade e paródia
Distinção entre linguagem literária e linguagem não literária
A linguagem literária é extremamente plurissignificante, ou seja, ela se abre para múltiplos sentidos e interpretações. Além do que o artista da palavra (o poeta, o contista, o romancista, o dramaturgo etc.) pode lançar mão da chamada “licença poética” para cometer, propositalmente, alguns desvios gramaticais, com o intuito de, por exemplo, ressaltar um som ou enfatizar uma expressão.
Estude, então, para ficar afiado, em relação às peculiaridades da linguagem literária, o seguinte conteúdo:
Veja como o Enem destaca a linguagem literária:
(Enem 2009)
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa. Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.
É próprio da poesia de Manoel de Barros valorizar seres e coisas considerados, em geral, de menor importância no mundo moderno. No poema de Manoel de Barros, essa valorização é expressa por meio da linguagem
a) denotativa, para evidenciar a oposição entre elementos da natureza e da modernidade.
b) rebuscada de neologismos que depreciam elementos próprios do mundo moderno.
c) hiperbólica, para elevar o mundo dos seres insignificantes.
d) simples, porém expressiva no uso de metáforas para definir o fazer poético do eu lírico poeta.
e) referencial, para criticar o instrumentalismo técnico e o pragmatismo da era da informação digital.
Resolução
Alternativa D. Manoel de Barros não se utiliza apenas de linguagem denotativa ou referencial mas também poética e metafórica. Embora crie neologismos (como “invencionática”), não se pode afirmar que sua linguagem seja rebuscada, tampouco hiperbólica, exagerada.
Gêneros literários
Outro conteúdo recorrente nas questões de literatura do Enem são os gêneros literários. É importante ter-se em mente que a literatura manifesta-se em gêneros, ou seja, em tipos de textos com características predominantes.
Os gêneros literários são divididos nestes grupos:
- dramático
- épico
- narrativo
- lírico
Esses, por sua vez, dividem-se em subgêneros. Estude, portanto, os gêneros literários e seus subgêneros, pois esse conteúdo cai muito no Enem! Veja um exemplo de questão que o cobra:
(Enem 2016)
Receita
Tome-se um poeta não cansado,
Uma nuvem de sonho e uma flor,
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma veia sangrando de pavor.
Quando a massa já ferve e se retorce
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
Duma pitada de morte se reforce,
Que um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.
Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois
a) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
c) explora elementos temáticos presentes em uma receita.
d) apresenta organização estrutural típica de um poema.
e) utiliza linguagem figurada na construção do poema.
Resolução
Alternativa A. Considerando a relativa estabilidade dos gêneros textuais, podemos dizer que o texto dessa questão constitui-se de uma mescla de gêneros, pois introduz procedimentos prescritivos típicos do gênero receita (notados pelo uso de verbos no imperativo e de um léxico comum à prática da culinária) na composição do poema (versificado, imagético, conotativo).
Veja também: O romantismo brasileiro no estilo prosaico
Movimentos literários
Também são muito recorrentes, no Enem, as questões relativas aos movimentos literários. A história da literatura divide-se em períodos, os quais têm características predominantes, ora confirmando, reafirmando, negando traços do movimento literário anterior, ora inovando por completo no jeito de fazer-se literatura. Não perca tempo e estude os movimentos literários do Brasil e de Portugal! Veja um exemplo de como esse conteúdo é cobrado no Enem.
(Enem 2014)
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como
a) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas e o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como "Monstro de escuridão e rutilância" e "influência má dos signos do zodíaco".
c) a seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se lê em "carbono e amoníaco", "epigênesis da infância" e "frialdade inorgânica", que restitui a visão naturalista do homem.
d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética, e o desconcerto existencial.
e) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.
Resolução
Alternativa D. Não se pode dizer que o poema de Augusto dos Anjos tenha um vocabulário requintado, nem que o modernismo retoma o ceticismo presente nesse autor ou os valores ligados ao cientificismo. As metáforas citadas em B não retomam a poesia simbolista, cujas imagens são mais sugestivas e etéreas. Embora haja um léxico (vocabulário) emprestado do cientificismo, essa não é a única característica da literatura do final do século presente no poema: há também o rigor formal das estéticas parnasiana e simbolista (presente na forma do soneto de métrica e rima regulares) e o desconcerto existencial (o pessimismo e o ceticismo) típico da passagem do século XIX para o XX.
Foco narrativo e tipos de narrador
Ora ou outra há, no Enem, questões de literatura que envolvem o foco narrativo e os tipos de narrador. Veja um exemplo de como esse conteúdo é abordado pelo exame.
(Enem 2017)
Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero [...].
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.
ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: . Acesso em: 9 out. 2015.
No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)
a) indignação face à suspeita do adultério da esposa.
b) tristeza compartilhada pela perda da mulher amada.
c) espanto diante da demonstração de afeto de Garcia.
d) prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio.
e) superação do ciúme pela comoção decorrente da morte.
Resolução
Alternativa D. No fragmento do conto “A causa secreta”, de Machado de Assis, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato, personagem cujas ações apresentam-se como sádicas, movidas pelo prazer da personagem em relação ao sofrimento alheio, no caso, de Garcia ("Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa").
Intertextualidade, interdiscursividade e paródia
As obras literárias tendem a comunicar-se umas com as outras, e isso se dá por meio da intertextualidade, ou seja, quando uma obra faz referência, direta ou indiretamente, a outra. Além disso, o Enem tende a estabelecer diálogo entre obras de períodos diferentes, a fim de que o candidato reconheça das diferenças e semelhanças, os pontos convergentes e divergentes. Veja esta questão.
(Enem 2012)
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, eviden cidas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
Resolução
Alternativa C. Tanto o poema quanto o quadro, apesar de pertencentes a gêneros diferentes, apresentam uma imagem ideal de mulher, característica recorrente no renascimento, movimento em que se situam as referidas obras.
Acesse também: A intertextualidade presente na arte literária
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