O Dia da Bandeira, no Brasil, é comemorado em 19 de novembro desde 1889 – ano da Proclamação da República. Essa data faz referência ao dia em que o modelo oficial da nova bandeira brasileira – a bandeira que representaria a República, e não mais o Império – foi aprovado, ou seja, apenas quatro dias após a derrocada do regime imperial, em 15 de novembro. Há, inclusive, dúvidas entre os historiadores a respeito de a “proclamação” da República ter acontecido realmente no dia 15. O que se sabe é que nesse dia o Ministério Imperial foi dissolvido pelos militares, mas as bases para o regime republicano vieram nos dias seguintes, como acentua Boris Fausto|1|:
“Nas primeiras horas da manhã de 15 de novembro de 1889, Deodoro assumiu o comando da tropa e marchou para o Ministério da Guerra, onde se encontravam os líderes monarquistas. Seguiu-se um episódio confuso, para o qual existem versões diversas, não sabendo ao certo se naquele dia Deodoro proclamou a República ou apenas considerou derrubado o ministério. Seja como for, no dia seguinte a queda da Monarquia estava consumada. Alguns dias mais tarde, a família real partia para o exílio.”
Leia também: República da Espada – primeiro período republicano no Brasil
O fato é que, imediatamente após o regime imperial cair, os republicanos trataram de substituir o principal símbolo desse regime, a bandeira, por outro. Mas esse outro modelo de bandeira durou apenas quatro dias, pois imitava a bandeira dos Estados Unidos da América, com faixas na horizontal, alternando as cores verde e amarelo. Isso provocou grande insatisfação entre aqueles que participaram do golpe contra o imperador D. Pedro II, em especial Raimundo Teixeira Mendes, que tratou ele próprio de elaborar a nova bandeira – dessa vez adequada às especificidades do Brasil.
O curioso é que Teixeira Mendes e os seus auxiliares nessa empreitada, Miguel Lemos e Manuel Reis e Décio Villares, tomaram como principal base para a feitura da nova bandeira justamente a bandeira imperial, utilizada nos reinados de D. Pedro I e D. Pedro II, que fora elaborada pelo pintor Jean-Baptiste Debret. Debret havia sobreposto um losango amarelo sobre um fundo verde; dentro do losango, foi inserido o brasão imperial da dinastia dos Bragança, como pode ser visto na imagem a seguir:
Teixeira Mendes apenas retirou o brasão imperial e colocou em seu lugar um círculo na cor azul estampado com a posição das estrelas do céu do Rio de Janeiro tal como fora visto no dia 15 de novembro de 1889. Sobre o círculo, foi posta a frase de inspiração positivista: “Ordem e Progresso”, que remete à frase do filósofo francês Auguste Comte:
“O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.
Teixeira Mendes, como muitos republicanos da época, era membro do Apostolado Positivista. Esse novo modelo de bandeira foi aprovado por Deodoro da Fonseca e pelos demais participantes do levante republicano, como Benjamin Constant.
Veja também: 15 de novembro - Proclamação da República
Tópicos deste artigo
Simbologia da nova bandeira
O interessante a se notar é que as cores da bandeira remetem, originariamente, aos símbolos imperiais. Uma das personalidades responsáveis pela escolha das cores foi a imperatriz Leopoldina da Áustria, rainha consorte do Brasil, esposa de D. Pedro I. Leopoldina sugeriu a Jean-Baptiste Debret a cor amarela para representar a casa dos Habsburgo, da qual ela provinha, e a cor verde, em homenagem à casa dos Bragança, dinastia à qual pertencia D. Pedro e o seu pai, D. João VI.
Com o advento da República, essas cores passaram a ser associadas aos elementos da natureza presentes no Brasil:
- o amarelo com o ouro e as riquezas da pátria;
- o verde com as florestas, a natureza.
Essa visão, em parte, tinha a função de descaracterizar os símbolos do Império, porém foi muito inspirada nas associações que os poetas românticos nacionalistas (muitos deles republicanos) faziam com os elementos naturais.
A despeito dessas questões, a bandeira é um dos símbolos máximos da nação e acaba por inspirar o espírito de competitividade e nacionalidade, em eventos esportivos, e o espírito de cidadania, em manifestações políticas.
Nota
|1| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013. p. 201.