O pirarucu, Arapaima gigas, é o maior peixe com escamas do mundo, podendo pesar até 200 kg e atingir até 3 metros de comprimento. Habita as regiões de água doce da Bacia Amazônica e do Tocantins-Araguaia, principalmente em rios e igarapés de águas claras, onde sobe à superfície a cada 15 ou 20 minutos para aspirar ar atmosférico.
Muito apreciado na culinária, o extrativismo do pirarucu foi intenso entre os séculos XIX e XX, o que o classificou como espécie ameaçada de extinção na natureza. A partir disso, cientistas, autoridades e a comunidade local se uniram para desenvolver estratégias que buscam o equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o pirarucu
- 2 - O que é o pirarucu?
- 3 - Características do pirarucu
- 4 - Pirarucu na culinária
- 5 - Mitologia indígena sobre o pirarucu
- 6 - Pirarucu está em extinção?
Resumo sobre o pirarucu
- Arapaima gigas, ou pirarucu, é o maior peixe com escamas do mundo. Habita a região da Bacia Amazônica e do Tocantins-Araguaia.
- Pode chegar a 3 metros de comprimento e pesar até 200 kg.
- O pirarucu representa um elo entre os primeiros peixes ósseos e as espécies atuais.
- Devido à presença de uma bexiga natatória modificada, o pirarucu sobe à superfície para respirar ar atmosférico.
- As escamas de regiões com coloração avermelhada deram o nome ao peixe, de origem indígena.
- A carne do pirarucu tem grande valor gastronômico, o que estimula a pesca, criação e comercialização dessa espécie.
- Na cultura tupi, o pirarucu era um jovem guerreiro de personalidade difícil e que foi transformado em peixe como castigo do deus Tupã.
- O extrativismo do pirarucu foi intenso entre os séculos XIX e XX, o que o colocou como espécie ameaçada de extinção na natureza.
O que é o pirarucu?
O pirarucu, de nome científico Arapaima gigas, pertence à família Arapaimidae e é considerado o maior espécie de peixe com escamas do mundo. Habita as regiões de água doce da Bacia Amazônica e do Tocantins-Araguaia e é nativo dessa região, sendo uma espécie extremamente importante para a manutenção dos ecossistemas, além das comunidades pesqueiras locais.
A espécie Arapaima gigas tem uma importância taxonômica muito grande porque se posiciona na base da árvore filogenética dos teleósteos, representando um elo entre os primeiros peixes ósseos e as espécies atuais.
O nome “pirarucu” tem origem indígena e é formado pela junção de dois termos: “pira”, que significa “peixe”, e “urucu”, que significa “vermelho”. Esse nome foi dado devido à coloração vermelha da região posterior de suas escamas em algumas regiões do corpo.
Características do pirarucu
- Dimensões: O pirarucu é considerado um dos maiores peixes de água doce do planeta, atingindo tamanho de até 3 metros de comprimento e pesando até 200 kg. Normalmente, os indivíduos dessa espécie possuem 1,8 metro de comprimento e pesam 90 kg.
- Habitat: O pirarucu habita as regiões tropicais de água doce da América do Sul, distribuindo-se pelo Brasil, Bolívia, Peru e Guiana, principalmente nas regiões das bacias hidrográficas do Rio Amazonas e do Tocantins-Araguaia. O seu habitat são as várzeas (terras baixas constantemente alagadas), principalmente em rios e igarapés de águas claras.
- Alimentação: O pirarucu se alimenta de moluscos, crustáceos, peixes de pequeno porte e, como predador, ocupa o nível trófico mais alto dentro de uma cadeia alimentar, capturando suas presas por forte sucção da água. Ainda, pode alimentar-se de frutas, sementes, insetos, aves, lagartos e até mesmo pequenos primatas.
- Respiração: Quando adulto, o pirarucu retira oxigênio a partir do ar atmosférico, subindo à superfície a cada 15 ou 20 minutos para aspirar o ar, o que faz com que seja capaz de sobreviver fora da água por um determinado tempo, desde que receba água constantemente. Essa estratégia é possível devido à presença de uma bexiga natatória bastante vascularizada que funciona como uma espécie de pulmão, o que permite sua respiração aérea. Dessa forma, a respiração aérea corresponde a 90% da respiração do pirarucu, sendo obrigatória, enquanto a respiração branquial é apenas secundária.
- Reprodução: O comportamento reprodutivo dos pirarucus é bastante complexo e envolve a formação de casais e construção de ninhos em locais de fundo argiloso e sem vegetação. As fêmeas colocam os óvulos nos ninhos, onde os machos liberam os gametas masculinos, ocorrendo a fecundação externa. Os ovos se desenvolvem, as larvas eclodem e recebem cuidados e proteção parental até, aparentemente, três meses de vida, quando os cuidados começam a diminuir e o novo indivíduo se torna independente.
- Coloração: A coloração do corpo do pirarucu se transforma em certas regiões do corpo durante o período reprodutivo. Os machos exibem uma coloração escura que se estende desde o topo da cabeça até a região dorsal, alcançando a nadadeira dorsal. Apresentam manchas amareladas na parte inferior da cabeça, enquanto os flancos, ventre e a região caudal exibem uma coloração avermelhada intensa. Por outro lado, nas fêmeas, as alterações de cor são menos proeminentes, com todo o corpo assumindo uma tonalidade marrom-clara. As mudanças de cor acontecem sobretudo no período chuvoso, que coincide com a época de acasalamento dessa espécie.
Pirarucu na culinária
O pirarucu é um peixe tradicionalmente apreciado na cultura da região amazônica. Devido ao seu grande porte, podendo facilmente atingir dezenas de quilos, sua carne, com uma textura firme, foi muito comercializada ao longo do tempo na forma fresca, congelada ou até mesmo curtida no sal para prolongar sua durabilidade.
Não é por acaso que o pirarucu recebeu o apelido de "bacalhau amazônico", devido ao processo de salga e secagem que remete à tradição do preparo do bacalhau pescado nos mares de águas frias do Hemisfério Norte. Além disso, a cabeça do pirarucu é utilizada no preparo de pratos típicos regionais, como o pirão.
No entanto, principalmente pelo seu valor gastronômico, a comercialização do pirarucu extrapolou as fronteiras das comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia. Como resultado, com o tempo o peixe passou a ser apreciado em diversas outras regiões do Brasil e até mesmo em diferentes partes do mundo. Essa disseminação representa um risco significativo para a espécie, uma vez que o extrativismo ilegal do pirarucu é praticado até os dias de hoje nos rios amazônicos, podendo resultar em riscos graves para a sua sobrevivência devido à pesca excessiva.
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Mitologia indígena sobre o pirarucu
Na cultura tupi, o pirarucu era um jovem guerreiro indígena que habitava a região amazônica. Era um guerreiro de natureza vaidosa, o que contrastava profundamente com a do seu pai, que era líder da tribo e conhecido por sua benevolência e sabedoria. O jovem desdenhava dos deuses e, quando o pai estava ausente, cometia maldades contra os próprios membros da tribo, sem remorso ou razão aparente.
Por conta desse comportamento, o deus Tupã decidiu intervir e provocou uma tempestade intensa enquanto o guerreiro caçava nas margens de um rio. Apesar de perceber a presença divina, o guerreiro zombou da situação e mostrou-se desafiador diante da fúria da tempestade. O deus Tupã, determinado a ensinar-lhe uma lição, arrastou-o às profundezas do rio, onde o transformou em um imenso peixe, o pirarucu.
Pirarucu está em extinção?
O pirarucu é um peixe de grande importância econômica e muito explorado. Sua comercialização mais significativa começou por volta do século XIX, quando o pirarucu seco e salgado começou a ser comercializado como uma alternativa ao bacalhau. Registros indicam que, entre os anos de 1885 e 1893, foram vendidas 11.540 toneladas de pirarucu salgado, cerca de 1.282 toneladas ao ano.
Apesar da exploração extensiva desde essa época, o pirarucu continuou abundante na região amazônica até 1960. No entanto, em 1970, o peixe começou a não ser mais encontrado para comercialização nas grandes cidades amazonenses e, em 1990, foi considerado um peixe em perigo de extinção.
A partir disso, a comunidade científica se uniu aos pescadores locais, desenvolvendo estratégias para estabelecer uma cadeia de produção sustentável do pirarucu. Essa estratégia leva em consideração um comportamento típico do pirarucu, que sobe à superfície das águas para respirar, o que possibilita aos pescadores determinar visualmente a quantidade de pirarucus naquela região, contando os peixes que emergem à superfície. Essas contagens orientam a implementação de um sistema de permissões de pescas rotativas a cada temporada.
Em resumo, com base nas contagens realizadas pelas comunidades, é possível avaliar se o estoque de pirarucu está em níveis altos ou baixos, possibilitando a tomada de decisão sobre a liberação ou restrição da pesca em áreas específicas. Esse sistema engloba uma fiscalização rigorosa dos lagos ou rios interditados, mas o monitoramento é uma responsabilidade compartilhada entre a comunidade e as autoridades.
Nessa situação, a Amazônia está se tornando um modelo inspirador de como a ciência, combinada com o conhecimento das comunidades locais, pode não apenas prevenir a extinção de espécies ameaçadas, mas também pode estabelecer uma relação de equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.
Créditos da imagem
Fontes
SILVA, A.; DUNCAN, W. Aspectos biológicos, ecologia e fisiologia do pirarucu (Arapaima gigas): uma revisão da literatura. Scientia Amazonia, v. 5, n.3, 31-46, 2016. Disponível em: <https://scientia-amazonia.org/wp-content/uploads/2016/10/v5-n3-31-46-2016.pdf>.
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