Um dos casos de maior repercussão no que diz respeito ao tratamento contra o câncer foi a criação da fosfoetanolamina sintética, apelidada de “pílula do câncer”. Essa pílula foi desenvolvida por Gilberto Chierice na década de 1990, na Universidade de São Paulo (USP) do campus de São Carlos e, segundo o pesquisador, pode curar o câncer. Vale destacar, no entanto, que nenhum teste clínico foi realizado em seres humanos.
Câncer é o termo utilizado para designar todas as doenças que se caracterizam pelo crescimento incomum e desordenado de células. Essas células, que são muito agressivas, acabam formando tumores que invadem tecidos e órgãos. Estima-se que existam mais de 100 tipos diferentes de câncer, cada um com sua especificidade.
O tratamento do câncer normalmente é feito com quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia. Algumas vezes, esses procedimentos são eficazes; em outras, no entanto, não é possível resolver o problema de forma definitiva, o que causa a morte do paciente. Diante disso, a busca por tratamentos alternativos é grande e frequente.
→ A distribuição da fosfoetanolamina sintética pela USP
Por cerca de 20 anos, a fosfoetanolamina sintética foi distribuída gratuitamente pela USP para pacientes com câncer para fins terapêuticos. Entretanto, como o ato infringia a legislação, o Instituto de Química de São Carlos (IQSC) emitiu uma portaria em 2014 impedindo a liberação desse e de outros produtos sem que antes eles estivessem com suas licenças e registros expedidos pelos órgãos competentes.
A determinação da suspensão da entrega do medicamento causou revolta, pois muitas pessoas afirmavam que obtiveram melhora com o uso da substância. A partir daí, começou uma grande disputa judicial, e o caso tomou grandes proporções, havendo uma grande parte da população dispondo-se contra a Universidade. Após várias liminares, a USP retomou a distribuição da fosfoetanolamina sintética, entretanto, a substância só é cedida quando determinado judicialmente.
No dia 22 de março de 2016, o Senado aprovou um projeto de lei que garante a produção e manufatura, importação, distribuição e prescrição, dispensação, posse ou uso da fosfoetanolamina sintética mesmo sem a substância possuir registro sanitário. O projeto segue agora para a sanção da presidenta Dilma Rousseff.
→ Necessidade de estudos sobre a fosfoetanolamina sintética
Após o caso ganhar repercussão nacional, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) resolveu investir na análise do possível medicamento que cura o câncer. Esses estudos são necessários porque, até o início da polêmica, o único fato conhecido era de que a substância tinha se mostrado promissora em estudos com camundongos.
Existem várias etapas de segurança pelas quais um medicamento deve passar antes de ser liberado a um paciente. Não se pode simplesmente afirmar que um produto que obteve bons resultados com animais terá bons resultados em humanos. A pesquisa com voluntários é essencial para avaliar possíveis efeitos colaterais e a eficiência da substância.
Muitas pessoas, no entanto, afirmam que a substância pode ser a última chance para pacientes com câncer terminal. Entretanto, não é correto utilizar um produto que não se sabe se ele poderá piorar o quadro de saúde do doente e deixar seus últimos momentos de vida ainda mais dolorosos.
→ Primeiros resultados dos estudos com fosfoetanolamina sintética
Os primeiros relatórios de pesquisa sobre a fosfoetanolamina foram publicados no dia 18 de março de 2016, na página criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), para informar a população sobre o tema. Infelizmente, os resultados preliminares não foram animadores.
De acordo com o rótulo do produto, a “pílula do câncer” deveria conter fosfoetanolamina sintética na quantidade de 500mg, entretanto, após análise, percebeu-se que o valor encontrado variava de 233 mg a 368 mg. Como a informação era a de que o produto apresentava apenas fosfoetanolamina sintética, não era esperado encontrar outras substâncias. Além da fosfoetanolamina, foram encontrados: água, monoetanolamina protonada e fosfobisetanolamina, além de fosfatos de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário e pirofosfatos de cálcio, magnésio, ferro, manganês, alumínio, zinco e bário.
Além dos problemas com a composição da cápsula, observou-se que a fosfoetanolamina não possui atividade citotóxica e antiproliferativa, ou seja, não é capaz de destruir células cancerígenas nem inibir o seu crescimento. O único componente que apresentou atividade citotóxica e antiproliferativa foi a monoetanolamina, mas em pequena quantidade.
Vale destacar que, apesar dos resultados, as pesquisas continuam para avaliar o potencial da substância e garantir à sociedade que receba apenas produtos seguros e eficazes para o tratamento de enfermidades.
Acesse aqui o site do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e acompanhe as pesquisas com a fosfoetanolamina.