Socialização

A socialização é o processo pelo qual os indivíduos aprendem o modo de vida, os hábitos e os costumes de uma sociedade, passando, assim, a serem membros dessa sociedade.

O ato de brincar e de interagir com outras crianças é uma parte fundamental da socialização.

A socialização é o processo pelo qual os indivíduos aprendem o modo de vida, os hábitos e os costumes de uma sociedade. Seus objetivos envolvem ensinar aos indivíduos as normas e os valores de uma cultura e definir as suas relações de pertença com o mundo social. A socialização, assim, deve ser percebida como um processo contínuo e multifacetado, marcado pela confluência de múltiplas gerações de valores e normas. A socialização acontece no interior de instituições sociais e é orientada pela participação de diversos agentes de socialização.

As etapas da socialização se iniciam desde a infância e acontecem pela assimilação-acomodação de padrões sociais. Esses padrões sociais são uma herança do grupo e são trasnmitidos por meio da linguagem, considerada o fator primordial de toda socialização. A socizaliação de um indivíduo depende, em primeiro lugar, da natureza biológica desse indivíduo. Em segundo lugar, das características individuais dos adultos que cuidaram dele na infância, assim como de suas condições relacionadas às classes sociais. 

Leia também: Controle social — o conjunto de mecanismos utilizados para garantir a conformidade do comportamento do sujeito

Resumo sobre socialização

  • A socialização é o processo pelo qual os indivíduos aprendem o modo de vida, os hábitos e os costumes de uma sociedade.
  • Os objetivos da socialização envolvem a integração da sociedade, a internalização de normas e o desenvolvimento da identidade social dos indivíduos.
  • É um processo que dura a vida inteira e pode ser percebido em dois tipos principais: a socialização primária e as socializações secundárias.
  • A socialização primária acontece durante a infância (12 anos) e é quando a criança aprende a sua linguagem, suas referências culturais principais, o seu habitus social.
  • A socialização secundária se desenvolve a partir da adolescência, é mais diversificada do que a primária e envolve processos mais voluntários e conscientes.
  • Além desses dois tipos principais, há, ainda, a socialização de gênero e a socialização antecipadora.
  • Entre o principais agentes de socialização, destacamos a família, a escola e a universidade, e o trabalho.
  • Ela facilita a coesão e a estabilidade social das instituições e também contribui para a formação de identidades.

O que é socialização?

As interações sociais colocam os indivíduos nos mais diversos contextos e colaboram para o processo de socialização.

Socialização é o processo pelo qual os indivíduos assimilam as normas, os códigos de conduta e os valores de uma sociedade. Esses processos de interiorização das normas do meio social funcionam de modo diferenciado na infância, na adolescência ou na vida adulta. É por meio da socialização que o indivíduo se torna um ser social. A socialização dura por toda vida e ocorre mediante a interação com os outros e a participação nas rotinas diárias da vida cultural.

Esse processo não decorre como se o indivíduo fosse um prisioneiro da sociedade. Os parâmetros ensinados por um meio social passam por um duplo processo de assimilação-acomodação. A assimilação é a integração pelo indivíduo das normas e dos valores do meio, e a acomodação, inversamente, é o modo como as características próprias do indivíduo o moldam e reagem às normas e valores herdados da sua cultura.

Objetivos da socialização

Os objetivos da socialização envolvem a internalização de normas e valores, o aprendizado de papéis e habilidades sociais e o desenvolvimento da identidade pessoal. Em todos esses casos, a socialização possibilita uma espécie de treino aos indivíduos, que são capacitados para interagir com os membros de diferentes grupos de uma comunidade.

Pouco a pouco, desde a infância, passamos por esse treinamento e começamos a assimilar os traços culturais e a identificar determinados sujeitos como pertencentes a certos grupos: pais, irmãos, avós, tios, primos, amigos, chefe, entre outros. A socialização, do ponto de vista de uma criança, ensina a ela que são os outros que criam os padrões por meio dos quais realizam as suas experiências.

A questão da alimentação, por exemplo. A sensação da fome que a criança sente no estômago só pode ser aplacada pela ação de outras pessoas. São essas pessoas que transmitem para a criança os seus próprios padrões sociais: o regime alimentar, o horário das refeições etc. O mesmo se aplica ao sono, ao uso do banheiro e a outros processos fisiológicos.

É importante destacar que, mesmo na fase infantil, nunca somos uma “folha em branco”. Muito pelo contrário, desde a infância agimos ativamente nos processo da socialização, principalmente considerando-se que o nascimento de uma criança também influi na rotina daqueles que serão os seus primeiros agentes de socialização. Embora seja mais comumente associada ao desenvolvimento da criança, a socialização é um processo de vida inteira que ocorre à medida que pessoas adquirem novos papéis e se ajustam à perda de outros mais antigos.

Tem havido alguma controvérsia na sociologia sobre o poder da socialização para cumprir os seus objetivos, isto é, moldar os sentimentos, os pensamentos, a aparência e o comportamento de pessoas. Embora todas as pessoas tenham que ser socializadas até certo ponto, se querem participar da vida social, há uma variação enorme na maneira como isso realmente acontece e nos resultados que produz.

Em sociedades complexas, essa variação se deve, em parte, à variedade de experiências que as pessoas encontram em famílias, escolas, ocupações e comunidades; mas, em todas elas, se deve também ao fato de que os indivíduos não são passivos e que desempenham um papel importante em sua própria socialização, na medida em que respondem de várias maneiras às pressões e influências sociais e culturais.

Tipos de socialização

A socialização pode ser de dois tipos principais e é mediada por um número diversificado de agentes:

  • Socialização primária: acontece durante a infância (até 12 anos), nas primeiras comunidades às quais pertence uma pessoa. É na socialização primária que a criança aprende a sua linguagem, suas referências culturais principais, o seu habitus social. A criança é muito permeável às influências externas, por isso, ela é fortemente modelada pela socialização primária. Os membros da família são os principais agentes de socialização nessa etapa.
  • Socialização secundária: se desenvolve a partir da adolescência e é mais diversificada do que a socialização primária. Outros agentes de socialização assumem algumas responsabilidades que antes eram da família. A socialização secundária acontece nos ambientes escolares, profissionais e políticos frequentados pelo jovem. A socialização secundária envolve processos mais voluntários e conscientes, e por isso deixa uma marca menos forte do que a da etapa anterior.

Além desses dois tipos, existem estes outros:

  • Socialização de gênero: um processo pelo qual os indivíduos aprendem as normas e expectativas associadas aos papéis de gênero. Pode ocorrer baseada na observação de modelos de comportamento de gênero e interações sociais com a família e os amigos.
  • Socialização antecipadora: ocorre quando indivíduos, que desejam se integrar em um meio social qualquer, demonstram voluntarismo em aprender as normas e os valores associados a futuros papéis sociais. Isso pode acontecer, por exemplo, com jovens apontados como futuros sucessores dos negócios da família, ou então no caso de outro jovem que, desejando se tornar artista ou escritor, adota conscientemente os códigos de conduta, vestuário e vocabulário dos escritores e artistas que ele admira.

Acesse também: O que são os papéis sociais?

Agentes da socialização

Os agentes da socialização são representados por pessoas ou instituições que estruturam o terreno onde estabelecemos as relações sociais. Essas estruturas existem, inclusive, nas mentes e nos cérebros dos indivíduos, formando suas atitudes, valores e comportamentos. Entre as inúmeras organizações, instituições e convenções culturais que atuam como agentes de socialização, destacamos três das mais tradicionais.

→ Família

A família é considerada a mais antiga instituição social da história e a primeira a garantir a socialização dos indivíduos. Durante muito tempo, a família foi considerada um fenômeno natural e biológico, definida por relações de descendência e consanguinidade. No entanto, desde o início século passado, ela passou a ser compreendida como uma instituição social, cultural e histórica.

No mundo ideal, e muitas vezes no real também, a família é um lugar de afeto e intimidade, onde aprendemos a amar e a ser amados, nutrindo relações de confiança, afinidade e carinho. Contudo, a família é um espaço paradoxal, porque pode ser, ao mesmo tempo, um lugar de violência muda e silenciosa que atinge sobretudo as mulheres e as meninas, na relação conjugal e filial respectivamente. Os mais idosos também costumam ser vítimas de violência doméstica ou familiar.

A socialização na família pode transmitir e reforçar padrões de hierarquia e desigualdade já existentes na sociedade, assumindo um papel mais conservador na formação das futuras gerações. As democracias ocidentais parecem estar indo na contramão desse conservadorismo. Hoje, não há mais um modelo único. A família pode ser nuclear, monoparental ou recomposta. Ela pode ser constituída por um casal heterossexual ou por um casal homossexual. A família pode ser de meios-irmãos e meias-irmãs, de crianças adotadas ou concebidas por fertilização in vitro. Uma coisa é o parentesco biológico, outra é o parentesco doméstico.

→ Escola e universidade

A escola é um ambiente onde os alunos adquirem conhecimentos formais, incluindo aspectos acadêmicos como matemática, ciência, literatura, história e línguas. Essa transmissão de conhecimento é responsável pelo fato de que a escola e a universidade contribuem para a socialização cultural, fornecendo uma base compartilhada de informações e referências culturais.

A escola e a universidade também podem ajudar na socialização política, aquela voltada para o aprendizado da cidadania. Jovens estudantes mobilizados, que exercem os seus direitos políticos em favor de uma causa em comum, formam uma organização que precisa interagir com outras organizações para que o seu projeto seja legitimado.

Até mesmo estudantes residentes em repúblicas acadêmicas, que compartilham crenças e expectativas de futuro, que dividem experiências no mesmo espaço por um tempo determinado, conseguem estruturar um corpo familiar marcado por afetos e solidariedade. No Brasil e pelo mundo afora, existem repúblicas de estudantes centenárias, famílias afetivas que já reúnem centenas de membros.

→ Trabalho

O trabalho é um ambiente que possibilita uma socialização organizacional. Os indivíduos aprendem a cultura organizacional, as normas profissionais, as expectativas de desempenho e as habilidades específicas relacionadas ao trabalho. Por esse lado, a socialização organizacional contribui para a adaptação e integração do trabalhador no ambiente de trabalho.

Por outro lado, ela também pode ser o início da organização de trabalhadores que têm relação comum. Para erguerem suas bandeiras, esses trabalhadores fazem circular os anseios do grupo. Os trabalhadores que conseguem construir a sua identidade de classe conseguem confrontar o sistema no qual foram socializados em busca de melhores salários e condições de trabalho.

Importante: Além desses agentes tradicionais, podemos citar os agentes de socialização relacionados aos meios de comunicação e à tecnologia da informação. Além da mídia tradicional, a socialização tecnológica ocorre por meio da exposição e interação com celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos, computadores e outras tecnologias. A aquisição de habilidades tecnológicas se tornou uma parte importante da socialização na era digital e atravessa todas as áreas tradicionais mencionadas anteriormente.

Importância da socialização

A importância da socialização, da perspectiva dos indivíduos, está nos processos mediante os quais criamos uma identidade social e um senso de apego a sistemas sociais com base na nossa participação neles. Da perspectiva dos sistemas sociais, a socialização é necessária para que o sistema continue e funcione eficazmente, uma vez que todos eles dependem de indivíduos motivados e preparados para desempenhar os vários papéis que abrange.

Portanto, é a socialização que define os papéis sociais a serem desempenhados por indivíduos e grupos, homens e mulheres, meninos e meninas. Esses papéis estão associados aos lugares que determinadas pessoas ocupam ou estão habilitadas para ocupar na sociedade. Geralmente, estereótipos auxiliam no aprendizado desses papéis desempenhados por indivíduos de diferentes grupos — o médico, o professor, o advogado, o criminoso, o garçom etc.

Os papéis sociais, contudo, são historicamente construídos e nunca serão fixos e imutáveis. Para mudá-los, homens e mulheres podem exercitar novos modos de agir e fazer. Com novas socializações agora, ampliamos as redes de sociabilidade das gerações futuras, o que potencializa forças permissivas e progressistas para a invenção e reinvenção da sociedade.

A resiliência dos indivíduos mostra que eles nunca são um simples produto do meio. Os modos de reagir a determinado ambiente variam de um indivíduo para outro. A conclusão é que os sociólogos não podem tratar o indivíduo como um “idiota cultural” e totalmente prisioneiro de seus parâmetros de socialização.

Essa concepção mais complexa de indivíduo, um agente protagonista da sua socialização, ganhou espaço na antropologia cultural. Esse campo de estudos trabalha com o conceito de reflexividade, que enfatiza as competências dos indivíduos para analisar com lucidez o seu entorno e regular, de modo consciente, a sua conduta para determinados fins. E o veículo primordial para uma socialização ativa é a linguagem.

Desde criança, ao começar a dominar a linguagem, a criança aprende a transmitir e reter certos significados socialmente reconhecidos. Adquire a capacidade de pensar abstratamente e se colocar além da situação com que se defronta agora. É também por meio da linguagem que a criança aprende a refletir, integrando ao pensamento versões coerentes e cada vez mais amplas da realidade.

É baseada nessa reflexão cada vez mais intensa que a criança toma consciência de si como uma individualidade. Por outro lado, a linguagem também pode ser uma barreira que impõe limites, funcionando, portanto, como um portal para novas experiências em novos mundos ainda desconhecidos.

Fontes

DORTIER, Jean-François (dir.). Dicionário de ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FORACCHI, Marialice M. Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2000.

GHELERE, Gabriela Doll. Filosofia e Sociologia. Fortaleza: SAS Sistema Ari de Sá de Ensino, 2020.

JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

Por: Rafael Pereira da Silva Mendes

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