O sentimento de nacionalismo e a construção de nossa identidade estão bastante próximos de nossa formação como sujeitos.
Entre os acontecimentos que constituíram o início da modernidade, o surgimento do sentimento de nacionalismo marcou o início de um processo de segregação espacial e social que transformou todo o processo de construção identitária do ser humano moderno.
Esse processo de segregação espacial e social, que divide e ao mesmo tempo interioriza o estranho e o comum, constitui uma das principais fontes de identidade cultural. O sociólogo jamaicano Stuart Hall (1932-2014) afirma que *“essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes”. As identidades nacionais são “formadas e transformadas no interior da representação”.
Em “A identidade cultural na pós-modernidade”, Hall apresenta o conceito de identidades culturais, que surgem a partir do sentimento de pertencimento do indivíduo a um determinado contexto, tendo como referência aspectos religiosos, culturais, raciais e nacionais. No entanto, para Stuart Hall, essas identidades desgastaram-se em nossa modernidade tardia, processo que o autor denomina de “crise de identidade”, em virtude das transformações condicionadas pela sociedade atual no processo de globalização.
As concepções de Hall e do sujeito na pós-modernidade caminham paralelas às análises de outro teórico social, Zygmmunt Bauman, acerca do sujeito “líquido” e sua situação no mundo social. Segundo Hall (2006), as sociedades do final do século XX sofreram mudanças estruturais, que se alargaram para transformações das “paisagens culturais”, diferenciando-se em sua construção em pontos históricos diferentes. A partir disso, Hall indica três formatos de identidade diferentes.
Formatos de identidades
A primeira é a identidade do sujeito do iluminismo, isto é, um sujeito que já nascia com predeterminações de caráter, expressando uma visão individualista, em que prevalecia a razão. A segunda é a identidade do sujeito sociológico, em que o sujeito se constitui pela interação com a sociedade. A terceira concepção é a identidade do sujeito pós-moderno, que não possui identidade permanente, mas fragmentada, sofrendo influências e sendo transformada, o que possibilita o desenvolvimento de novos sujeitos. A mudança que Hall descreve está na constituição do próprio sujeito pós-moderno, que assume variadas formas de identidade, e não apenas uma.
Nesse contexto, para Hall, a identidade nacional é um sistema simbólico que catalisa todas as demais modalidades de identidade (religiosas, étnicas etc.). Assim, a cultura nacional está carregada de significados. De acordo com Hall, “segue-se que a nação não é apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos - um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional”*.
*Referência: HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. 2006, Rio de Janiero: DP&A editora.