A Fraternidade Rosa-cruz era um movimento que procurava conciliar a fé e a razão.
Conforme sabemos, o século XVI foi marcado por uma grande convulsão religiosa que deu origem aos movimentos protestantes. Ao mesmo tempo, vários relatos davam conta sobre um possível fim do mundo que encerraria os pecados e conturbações que afligiam a humanidade. Foi nesse intrigante contexto que observamos o surgimento de uma sociedade secreta que combinava a renovação religiosa dos reformistas com as misteriosas indagações místicas da época.
De fato, para compreendermos o aparecimento desta manifestação religiosa, devemos vasculhar as histórias encontradas em três obras que explicam e codificam as práticas dos rosa-cruzes. No livro “Fama fraternalis”, datado de 1614, atribui-se a criação da sociedade ao alemão Christian Rosenkreutz. Considerado líder da Fraternidade, Christian teria experimentado uma profunda revelação religiosa ao entrar em contato com o conhecimento de muçulmanos orientais.
Mesmo “Fama fraternalis” sendo publicado no século XVII, algumas pesquisas indicam que a Rosa-Cruz teria começado entre 1597 e 1598. De forma geral, os integrantes da Rosa-Cruz estavam ligados ao desenvolvimento das ciências e à prática da alquimia. Inspirado pelas teorias de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, muitos deles acreditavam que seria possível descobrir os desígnios de Deus através de uma investigação sistemática da natureza.
Entre diferentes profecias, os rosa-cruzes falavam sobre a reveladora vinda de “Elias artista” que, na verdade, significava a constituição da Fraternidade Rosa-Cruz. De forma geral, o movimento procurava conciliar fé e razão com a constituição de narrativas míticas e promessas de uma vida marcada pela busca da verdade. No entanto, opiniões se dividiam entre o elogio da verdadeira experiência religiosa cristã e o desmerecimento à atividade de um bando de feiticeiros místicos.
A Inglaterra foi um dos países em que a Fraternidade Rosa-Cruz ganhou a maior parte de seus adeptos. Robert Fludd, um dos maiores entusiastas da organização em terras britânicas foi o responsável por explicar a simbólica fusão entre a rosa e a cruz. De acordo com Robert, a cruz fazia referência ao Salvador e rosa significava a purificação espiritual. Em pouco tempo, a popularização dos rosa-cruzes alertou as autoridades religiosas do século XVII.
No século XVII, o rei José II, do Sacro-Império Germânico, proibiu a formação de qualquer tipo de sociedade religiosa secreta, com exceção da maçonaria. Foi a partir desse momento que muitos indicam a fusão entre a Fraternidade Rosa-Cruz e a Ordem Maçônica. Ao se associarem com os maçons, a Fraternidade estabeleceu a incorporação de novas simbologias e a criação do “grau de mestre” que, até hoje, faz parte da hierarquia maçom.
No período contemporâneo, diferentes denominações se auto-proclamam seguidoras da Fraternidade Rosa-Cruz. A “Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis”, criada no final do século XIX, prega uma relação profunda com os rosa-cruzes e alegam que sua origem, na verdade, resgata uma fraternidade criada no Antigo Egito, durante o reinado de Amenófis IV. Cercada por mistérios e crenças, essa ordem pode ser vista como uma conseqüência das mudanças religiosas e científicas do início da Idade Moderna.