Sousândrade

O escritor brasileiro conhecido como Sousândrade (1832-1902) foi da terceira geração do romantismo e escreveu a obra O Guesa Errante.

O escritor e poeta brasileiro Sousândrade.

Sousândrade, como ficou conhecido Joaquim de Sousa Andrade, foi um escritor brasileiro da terceira geração do romantismo. Em sua vida, mudou de cidade e de país diversas vezes, e a pesquisa da cultura indígena e da realidade estadunidense de sua época foram temas presentes em seus livros.

Ficou conhecido pela publicação de O Guesa Errante, uma epopeia de 13 cantos. As principais características de sua escrita são a pouca idealização e a representação do nacional e do latino-americano. Ele faleceu em 1902.

Leia também: Castro Alves — outro nome da terceira geração romântica

Resumo sobre Sousândrade

  • Joaquim de Sousa Andrade nasceu em 1832, no Maranhão.

  • Viveu em diversos continentes.

  • Viajou pesquisando sobre a cultura indígena.

  • Casou-se em 1864 e teve uma filha, além de outras quatro com outras mulheres.

  • O Guesa Errante foi sua obra prima, uma epopeia de 13 cantos.

  • Foi professor e tentou ser político.

  • Faleceu em 1902.

Biografia de Sousândrade

Joaquim de Sousa Andrade nasceu em 9 de julho de 1832, no Maranhão. As informações sobre sua cidade de nascimento não são exatas. Ele veio de uma família rica e de posses, donos de terras, mas sofreu com a morte prematura dos pais.

Na sua época de escola, já teve contato com a Literatura clássica, como Homero e Virgílio, escritores da Antiguidade. Sua biografia não é totalmente precisa, parte por sua época, parte por sua vida de muitas mudanças.

Depois de passar um tempo na capital do estado (São Luís), viveu dois anos na Europa, entre 1854 e 1856, após ter vendido suas posses. Nesse período, ele teria estudado Letras e Engenharia de Minas na Universidade de Sorbonne, na França, mas não é sabido se concluiu os cursos.|1|

Ele publicou, no ano seguinte, seu primeiro livro, Harpas Selvagens. De 1858 a 1860, Sousândrade viajou ao longo do rio Amazonas, principalmente para observação de indígenas. No ano de 1864, casou-se com D. Mariana de Andrade e Silva, uma viúva rica com a qual teve sua filha Maria Bárbara. Todavia, teve quatro outras filhas ao longo da vida com outras mulheres: Severa, D. Nênie, Vana e Jilica.

Sua obra-prima, O Guesa Errante, é uma epopeia, e seus cantos foram publicados de 1866 até a década de 1880. Em 1868 e 1869, respectivamente, publicou Impressos — 1º vol, com Cantos I e II, e Impressos — 2º vol, com Canto III.

Ele partiu apenas com a filha para Nova York em 1871 (onde ela teve sua educação), provavelmente depois de se separar de sua esposa.|2| Foi ali que o autor teve contato com um novo tipo de governo e de sistema: diferente da monarquia vigente no Brasil, o capitalismo estadunidense fez com que o “progresso” fosse tema central de seus futuros escritos. A bolsa de valores de Wall Street, famosa mundialmente, seria o tema do Canto X de O Guesa Errante.

Em 1874, publicou o primeiro volume de Obras Poéticas. Eles voltaram ao Brasil e conheceram o Peru e o Chile em 1878. Ele voltou a Nova York e ficou lá até 1885, quando regressou a São Luís. Em 1890, tentou ingressar na política, mas renunciou. Lecionou Grego no Liceu Maranhense três anos depois. Ele faleceu em São Luís, em 21 de abril de 1902.

Características literárias de Sousândrade

A classificação de Sousândrade nunca foi simples. Cronologicamente, ele é parte da terceira geração romântica, conhecida pela menor idealização, hipérboles (exageros) e críticas sociais. Ele e Castro Alves são os principais autores dessa época. Sousândrade destacou-se em seu tempo por inovações que até fugiam do romantismo, aproximando-se do pré-modernistas. Assim, essas são algumas características literárias de Sousândrade:

◦ foco no nacional e no latino-americano;

◦ representação mais realista do indígena e sua história;

◦ pouca idealização;

◦ exaltação da liberdade;

◦ mistura de influências estrangeiras e nacionais;

◦ jogos de palavras e com sonoridade;

◦ sentimentalismo — mas menos comparado aos românticos de sua época;

◦ traços de erotismo;

◦ traços de simbolismo.

Principais obras de Sousândrade

Harpas Selvagens (1857)

Obras Poéticas (1874)

O Guesa Errante (1866-1888)

Harpa de Ouro (1888-1889)

Novo Éden (1893)

Saiba mais: Romantismo no Brasil — as obras e autores que marcaram o movimento

Breve análise de O Guesa Errante

O Guesa Errante é a obra mais importante do autor, escrita de 1866 a 1888. Alguns cantos não foram completamente finalizados, mas ela foi e ainda é considerada revolucionária, como ele próprio comentou:

“Ouvi dizer já por duas vezes que O Guesa Errante será lido cinquenta anos depois, entristeci — decepção de quem escreve cinquenta anos antes.”|3|

O livro é um poema organizado em 13 cantos e trata da história de um índio colombiano adolescente, Guesa, que sai em peregrinação pela América, Europa e África. No final dessa viagem, deveria ser sacrificado como oferenda ao deus Sol.

Assim, Sousândrade trata da cultura indígena, de sua exploração e do colonizador. Também narra o capitalismo nova-iorquino e seus problemas quando o personagem passa um tempo na cidade. Ele retrata o índio sem idealizações e vai além do nacionalismo, representando um latino-americano.

Poemas de Sousândrade

A outra grande produção poética de Sousândrade foi seu livro de estreia, Harpas Selvagens, de 1857. Ele é composto de 46 poemas com métricas (uma medição poética das sílabas de cada verso) de variação constante. Um desses poemas é chamado “Canção de Cusset” e trata da beleza da mocidade, a efemeridade do amor e a passagem do tempo, com a chegada da morte. Assim, ele fala com a “moreninha” que a beleza só se mantém na juventude, e isso poderia ser um motivo para evitar o amor, já que ele é efêmero e traz a dor:

Se fosses, moreninha, sempre bela,
Tão bela como és hoje nesta idade,
Eu fora exp’rimentar se amor perdura,
Te amando muito.

Eu sei que amor existe enquanto brilha
A flor da mocidade resplandente;
Porém, que logo morre, quando os anos
A vão murchando.

O sonho que de noite nos embala
Em vagas estranhezas não sonhadas,
Apaga-se com o sol — rompendo as nuvens,
Ele é qual é:

Não sabes, moreninha, que os amores
São astros deste céu do nosso tempo?
É noite que, passando, além d’aurora
Deixa a lembrança?

Não quero pois amar, sentir não quero
A dor que sempre dói, que sempre dura
Daquilo que passou tão docemente
E tão depressa!
(...)|4|

O poema “Hymno”, do mesmo livro, trata de um outro tema muito frequente em Sousândrade, a exaltação da liberdade, e ele o faz por meio da comparação com a natureza:

À liberdade os cantos!
A filha destes céos,
A filha do meu Deos
E minha irmã do peito,
Meus sonhos do meu leito,
Dos valles minha flor,
Da vida o meu amor:
Ó doce liberdade,
Imagem da verdade
Dos meus altares santos!

Na tua divindade
Os astros nos parecem
Que pelos montes descem;
O mar sóbe o rochedo;
Os ventos o arvoredo
Diceras transportar;
A fonte a suspirar
Se perde na soidão:
Quem vibra o coração
Tu é, ó liberdade!|5|

Notas

|1| In: PEREIRA, D. DE C. Tradição e Modernidade em Sousândrade. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”: [s.n.].

|2| Idem.

|3| Idem.

|5| ANDRADE, J. DE S. Harpas Selvagens. [s.l.] Typographia Universal de Laemmeet, 1857.

|6| Idem. 

Por: Luiza Pezzotti Pugles

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