O Braille é um sistema de escrita e leitura tátil, em alto-relevo, utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. O método foi criado em 1824, na França, por Louis Braille, jovem que ficou cego aos três anos de idade.
Importante ferramenta de inclusão social, o Braille chegou ao Brasil em 1850, trazido por José Álvares de Azevedo, idealizador do Instituto Benjamin Constant.
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Como é o Braille?
O sistema Braille é formado por seis pontos, posicionados em duas fileiras paralelas de três pontos cada. O código permite até 63 variações. No Brasil, o sistema é adaptado para a língua portuguesa desde 2002.
A escrita em Braille é realizada com o reglete, régua especial com duas linhas e janelas de seis furos, que correspondem às celas do código; e os pontos são feitos com o punção, material semelhante a um estilete. Há também a escrita por máquina de escrever específica para o Braille (Perkins ou Tetra Point) e por programas de computador.
A escrita em Braille é feita, da direita para a esquerda, pelos pontos criados com o punção. Para ler, a pessoa vira a folha e utiliza o relevo formado no verso. Em resumo, a leitura em Braille é feita da esquerda para a direita, já a escrita é da direita para a esquerda.
O alfabeto Braille divide-se em letras primárias (de A até J), e as demais são variações. Conheça o alfabeto:
História do Braille
O sistema Braille foi criado por Louis Braille, francês que ficou cego ainda na infância. Braille estudou na primeira escola para cegos do mundo, o Instituto Real para Jovens Cegos, onde os alunos aprendiam por repetição dos sons e por poucos materiais suplementares compostos por letras em relevo — o método Valentin Hauy.
Sentindo a necessidade de um método que facilitasse a alfabetização e a aprendizagem de pessoas cegas, dando autonomia ao estudante, Louis Braille passou a adaptar para sua realidade o método da leitura noturna ou sonografia, código criado por Charles Barbier de la Serre, capitão de artilharia do exército francês. A técnica original consistia no uso de pontilhados em alto-relevo para soldados corresponderem-se em segredo, no escuro.
O método De la Serre, apesar de útil ao ser adaptado para cegos, tinha limitações, como sua complexidade de memorização e o fato de não permitir a soletração das palavras.
Louis Braille criou, então, seu próprio método de leitura e escrita para cegos utilizando papel de maior gramatura, que possibilitava a marcação dos pontos e criava o relevo necessário para ser identificado pelo tato.
Apesar de criado em 1824, apenas em 1843 é que o Braille foi aceito no Instituto Real para Jovens Cegos, onde, até então, o método utilizado eram as letras em relevo de Valentin Hauy. O sistema Braille foi oficializado pelo governo francês em 1854, dois anos após a morte de seu criador.
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Braille no Brasil
O Braille foi trazido ao Brasil por José Álvares de Azevedo, então com 16 anos, filho do escritor Manuel Álvares de Azevedo. Sem uma escola para pessoas cegas em território brasileiro, Azevedo foi mandado a Paris para estudar no Instituto Real para Jovens Cegos, onde conheceu o método criado por Louis Braille.
Em 1850, ao retornar para o Brasil, José Álvares Azevedo decidiu criar uma escola para pessoas cegas, utilizando o Braille como método de aprendizagem. Fez palestras sobre a importância do sistema, demonstrou a eficiência da leitura tátil na autonomia de estudo, e mobilizou esforços para a criação de uma instituição de ensino.
Os esforços de José Álvares para a alfabetização de cegos surpreenderam Dom Pedro II, o que resultou na criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant. O jovem foi o primeiro professor cego e o primeiro educador especializado no ensino de pessoas cegas no país.
Apesar de dar aulas para cegos e conseguir levar em frente sua ideia de uma escola específica para pessoas portadoras da cegueira, José morreu antes que o Imperial Instituto dos Meninos Cegos estivesse em funcionamento.
Com sua iniciativa de trazer o Braille para o Brasil, o país tornou-se o primeiro da América Latina a adotar o sistema criado na França.
Inclusão no Brasil
Outra figura importante para a disseminação do Braille no Brasil foi Dorina Nowill. A educadora e ativista ficou cega na adolescência e, desde então, lutou pelo acesso de pessoas com cegueira e baixa visão à educação e pela inclusão social delas.
Dorina Nowill desenvolveu um método de educação para crianças cegas e, com isso, conseguiu que fosse criado o I Curso de Especialização de Educação de Cegos na América Latina. Como parte de suas ações, Nowill criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, atual Fundação Dorina Nowill.
No Brasil existem projetos de distribuição gratuita de livros e materiais em Braille para pessoas cegas e com baixa visão. Por ser uma impressão que demanda mais recursos e tem um custo mais alto, a tiragem ainda é menor do que a necessidade do público-alvo. A maior parte da distribuição é feita pelo Instituto Benjamin Constant e pela Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Importância do Braille
A adoção do Braille no dia a dia permite que a pessoa cega tenha autonomia não só na aprendizagem mas também na locomoção para diferentes lugares. Por isso, a utilização do código em placas, elevadores e escadas é tão importante para a acessibilidade.
O Braille é o sistema mais completo para as pessoas cegas, já que abrange a literatura, matemática, informática, música e tantas outras áreas. Permitir o acesso ao ensino do Braille para a população cega ou com baixa visão é incluir tais indivíduos na sociedade e garantir a eles seus direitos fundamentais, uma vez que ter acesso a transporte, saúde e educação é mais difícil em um mundo voltado para o visual.
A fim de lembrar a importância do sistema e promover ações para a inclusão social de pessoas cegas, o 4 de janeiro foi escolhido como o Dia Mundial do Braille. A data faz referência ao aniversário de nascimento de Louis Braille.
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Como aprender Braille?
A aprendizagem do sistema Braille exige da pessoa noções de espaço, profundidade, coordenação motora, memorização e percepção tátil. Para quem deseja aprender Braille, é importante conhecer como são formadas as celas, quais os principais pontos, o alfabeto e os símbolos mais comuns.
Pessoas que enxergam podem aprender mais em cursos como o Braille Virtual, oferecido pela Universidade de São Paulo (USP) de forma on-line e gratuita. O YouTube também tem canais com aulas básicas sobre o sistema Braille. Nesses vídeos, o usuário pode ver, na prática, como funcionam os pontos do código, o uso de reglete e punção, e conferir dicas para o aprendizado.