O simbolismo é um estilo de época. A poesia simbolista tem rigor formal, sinestesia e musicalidade. A arte simbolista é antirrealista e valoriza o mistério e o sonho.
O simbolismo é um estilo de época antirrealista. Ele surgiu, na França, com a publicação do livro de poesias As flores do mal, de Charles Baudelaire. No Brasil, seu principal representante foi o poeta catarinense Cruz e Sousa. As obras desse estilo estão associadas ao mistério, ao misticismo e à sensorialidade.
Leia também: Realismo — detalhes sobre o estilo de época ao qual o simbolismo se opõe
Resumo sobre simbolismo
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O simbolismo é um estilo de época surgido na França durante o século XIX.
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A poesia simbolista apresenta rigor formal, sinestesia e maiúscula alegorizante.
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A arte simbolista é caracterizada por mistério, religiosidade e caráter onírico.
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As flores do mal, de Charles Baudelaire, inaugurou o simbolismo na França.
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Broquéis, de Cruz e Sousa, é a principal obra simbolista da literatura brasileira.
Videoaula sobre simbolismo
Contexto histórico do simbolismo
O simbolismo é um estilo de época de origem francesa. Seu surgimento deu-se no ano de 1857, quando Charles Baudelaire publicou o livro As flores do mal. A obra As flores do mal foi produzida em um contexto histórico marcado por revoluções, pessimismo e desilusão em relação à realidade europeia.
Em 1830, os revolucionários conseguiram a abdicação de Carlos X (1757-1836), acabando seu autoritarismo. Apoiado pela burguesia francesa, o liberal Luís Filipe I (1773-1850) assumiu o poder. Seu governo durou até 1848, quando houve uma nova revolução, de caráter republicano e socialista. Contudo, em 1851, o presidente Luís Napoleão Bonaparte (1808-1873) decidiu se tornar imperador da França.
Quais são as características do simbolismo?
O simbolismo tem caráter antirrealista, portanto, valoriza a subjetividade, a irracionalidade, a intuição e o inconsciente. As obras simbolistas apresentam fascínio pelo mistério e por elementos metafísicos. São criadas com base na ideia de que existe um “plano das essências”, uma realidade ideal, atingida por meio da poesia.
A poesia simbolista apresenta rigor formal, sinestesia (valoriza a sensorialidade), musicalidade e maiúscula alegorizante (destaque para certos termos). O texto é menos explícito e mais sugestivo, daí o recorrente uso de reticências. Por apresentar caráter introspectivo, a poesia simbolista é marcada pela alienação social e pelo tom pessimista.
Como exemplo desse tipo de poesia, vamos ler o soneto “A destruição”, do livro As flores do mal, do poeta francês Charles Baudelaire, a seguir:
Sem cessar a meu lado o Demônio se agita,
E nada ao meu redor como um ar impalpável;
Eu o levo aos meus pulmões, onde ele arde e crepita,
Inflando-os de um desejo eterno e condenável.
Às vezes, ao saber do amor que a arte me inspira,
Assume a forma da mulher que eu vejo em sonhos,
E, qual tartufo afeito às tramas da mentira,
Acostuma-me a boca aos seus filtros medonhos.
Ele assim me conduz, alquebrado e ofegante,
Já dos olhos de Deus afinal tão distante,
Às planícies do Tédio, infindas e desertas,
E lança-me ao olhar imerso em confusão
Trajes imundos e feridas entreabertas
— O aparato sangrento e atroz da Destruição!|1|
O poema apresenta estas características:
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rigor formal: versos alexandrinos, com rimas;
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sinestesia: “arde”, “crepita”, “feridas”;
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musicalidade: obtida pela repetição de vogais, pela metrificação e pelas rimas;
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maiúscula alegorizante: “Demônio”, “Tédio”, “Destruição”.
No mais, a obra valoriza elementos místicos e uma atmosfera impalpável, irreal, mais próxima de um sonho.
Simbolismo no Brasil
→ Principais autores do simbolismo no Brasil
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Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
→ Principais obras do simbolismo no Brasil
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Broquéis (1893), de Cruz e Sousa
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Missal (1893), de Cruz e Sousa
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Evocações (1898), de Cruz e Sousa
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Septenário das dores de Nossa Senhora (1899x), de Alphonsus de Guimaraens
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Câmara ardente (1899), de Alphonsus de Guimaraens
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Dona Mística (1899), de Alphonsus de Guimaraens
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Faróis (1900), de Cruz e Sousa
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Kyriale (1902), de Alphonsus de Guimaraens
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Últimos sonetos (1905), de Cruz e Sousa
Veja também: 5 poemas de Cruz e Sousa
Simbolismo na Europa
→ Principais autores do simbolismo na Europa
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Stéphane Mallarmé (1842-1898) — francês
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Paul Verlaine (1844-1896) — francês
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Arthur Rimbaud (1854-1891) — francês
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António Nobre (1867-1900) — português
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Camilo Pessanha (1867-1926) — português
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Stefan George (1868-1933) — alemão
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Eugénio de Castro (1869-1944) — português
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Renée Vivien (1877-1909) — inglês
→ Principais obras do simbolismo na Europa
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As flores do mal (1857), de Charles Baudelaire
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Uma temporada no inferno (1873), de Arthur Rimbaud
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O entardecer de um fauno (1876), de Stéphane Mallarmé
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Sabedoria (1880), de Paul Verlaine
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Hinos (1890), de Stefan George
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Só (1892), de António Nobre
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Interlúnio (1894), de Eugénio de Castro
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Em um canto de violetas (1910), de Renée Vivien
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Clepsidra (1920), de Camilo Pessanha
Simbolismo nas artes plásticas
A pintura impressionista tem um traço simbolista devido à falta de nitidez dos elementos representados, em oposição à pintura realista, que é nítida. Desse modo, a arte realista mostra a realidade como ela é de fato, enquanto a arte impressionista recorre ao poder de sugestão, tão caro ao simbolismo.
Os artistas impressionistas mais famosos foram os franceses:
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Claude Monet (1840-1926)
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Edgar Degas (1834-1917)
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Édouard Manet (1832-1883)
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Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
Já as pinturas simbolistas têm cores fortes e temática associada ao mistério, à religiosidade ou ao sonho. Seus principais representantes foram:
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Gustave Moreau (1826-1898) — francês
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Gustav Klimt (1862-1918) — austríaco
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Odilon Redon (1840-1916) — francês
Por fim, os italianos Leonardo Bistolfi (1859-1933) e Materno Giribaldi (1870-1951), além do mexicano Rodolfo Bernardelli (1852-1931), foram os principais escultores vinculados ao simbolismo. Suas obras apresentam caráter erótico, misterioso e mórbido.
Exercícios resolvidos sobre simbolismo
Questão 1
As duas boas irmãs
A Orgia e a Morte são duas jovens graciosas,
Fartas de beijos e de frêmito incontido,
Cujo ventre engastado em ancas andrajosas
Jamais logrou um fruto em si ter concebido.
Ao poeta infausto, hostil às famílias virtuosas,
Favorito do inferno e cortesão falido,
Caves e tumbas oferecem, generosas,
Um leito em que o pesar jamais foi recebido.
A sepultura e a alcova, em blasfêmias fecundas,
Nos dão de quando em vez, como boas irmãs,
Os prazeres do horror e as carícias malsãs.
Hás de enterrar-me, Orgia, em tuas covas fundas?
Quando virás, ó Morte, envolta em negras vestes,
Sobre os mirtos em flor plantar os teus ciprestes?
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
O poema de Charles Baudelaire pode ser associado ao simbolismo porque apresenta
A) idealização do amor, morbidez e misticismo.
B) objetividade, bucolismo e cultismo.
C) rigor formal, musicalidade e pessimismo.
D) idealização da mulher e referências greco-latinas.
E) nacionalismo, teocentrismo e carpe diem.
Resolução:
Alternativa C
Os traços simbolistas do soneto de Baudelaire são: rigor formal (versos metrificados e rimas), musicalidade (obtida por meio da metrificação, das rimas e da repetição de vogais) e pessimismo (o eu lírico associa o prazer à morte).
Questão 2
Todas as características abaixo fazem referência ao simbolismo, EXCETO:
A) maiúscula alegorizante.
B) valorização das sensações.
C) linguagem subjetiva.
D) determinismo.
E) antirrealismo.
Resolução:
Alternativa D
O determinismo é uma característica naturalista, pois apresenta caráter cientificista, portanto, não combina com uma perspectiva simbolista, ou seja, antirrealista e mística.
Nota
|1|BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
CATELLI, Eva Pralon. O Monumento Rossa (1942) de Materno Giribaldi. In: ENCONTRO INTERNACIONAL HISTÓRIA & PARCERIAS, 3., 2021, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: ANPUH, 2021.
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PUIGBÓ, Juan José. Vida y obra de Eugene-Henri-Paul Gauguin (1848-1903). Gaceta Médica de Caracas, Caracas, v. 114, n. 3, set. 2006.
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