Ruth Guimarães

Ruth Guimarães (1920-2014) foi uma grande escritora brasileira, conhecida por suas críticas sociais e seu regionalismo.

Ruth Guimarães é um grande nome da literatura negra brasileira. (Créditos da imagem: Paulo José Soares Braga / Prepara Enem).

Ruth Guimarães foi uma escritora brasileira nascida em 1920. Ela escreveu, desde nova, para jornais e revistas brasileiros e internacionais. Além disso, foi professora de Português e grande tradutora. Formou-se em Filosofia e Letras Clássicas antes de lançar seu primeiro romance, Água funda (1946), que foi um grande sucesso.

Ela é um marco na literatura negra e tinha escrita regionalista, sempre privilegiando os ambientes caipiras e o folclore do Vale do Paraíba. Ingressou na Academia Paulista de Letras em 2008, seis anos antes de falecer (2014).

Leia também: Maria Firmina dos Reis — a primeira mulher a escrever um romance no Brasil

Resumo sobre Ruth Guimarães

  • Ruth Guimarães nasceu em 1920.

  • Ela escreveu, desde nova, para jornais e revistas.

  • Formou-se em Filosofia e Letras Clássicas.

  • Lançou seu primeiro livro, Água funda, em 1946 e teve grande sucesso.

  • Foi grande estudiosa do folclore brasileiro e tinha estilo regionalista.

  • Ingressou na Academia Paulista de Letras em 2008.

  • Faleceu em 2014.

Biografia de Ruth Guimarães

Ruth Guimarães nasceu na cidade de Cachoeira Paulista, no estado de São Paulo, em 13 de junho de 1920. Começou a escrever poesia desde pequena e publicou seus primeiros versos com dez anos nos jornais A Região e A Notícia. Oito anos depois, mudou-se para a capital do estado e ingressou na Universidade de São Paulo, onde cursou Filosofia e Letras Clássicas, além de Folclore e Estética. Ademais, estudou Dramaturgia e Crítica na Escola de Arte Dramática de Alfredo Mesquita, na USP.

Ela exerceu o papel de jornalista por muitos anos em jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Lisboa. Seus primeiros artigos, crônicas, contos e críticas literárias foram publicados nessa época, em periódicos como Correio Paulistano, A Gazeta, Diário de São Paulo, Folha da Manhã, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Além disso, foi repórter de diversas revistas no Brasil e em Portugal (Noite Ilustrada, Carioca, Globo, Semana Ilustrada, Senhora, Quatro Rodas, Realidade, Atualidades Literárias e Revista Lusitana).

Seu primeiro livro, o romance Água funda, retrata a região do Vale do Paraíba e foi publicado em 1946, quando ela tinha 26 anos. Ele foi um sucesso de crítica e transformou a escritora em um ícone, principalmente por ser uma das primeiras negras a ser reconhecida nesse nível na literatura brasileira.

A escritora já era uma grande estudiosa do folclore brasileiro, e Mário de Andrade foi seu mestre no assunto, ao ensiná-la as melhores táticas de pesquisa e opinar sobre seus textos. Entretanto, ele não chegou a ver a publicação de Os filhos do medo (1950), a obra que mostrou as descobertas da autora nesse tópico.

Além de autora e jornalista, também trabalhou mais de 30 anos no ensino da Língua Portuguesa e, em 2008, foi eleita para uma cadeira da Academia Paulista de Letras. Ela morreu com 93 anos, em 21 de maio de 2014, em sua cidade natal.

Estilo literário de Ruth Guimarães

Essas são algumas características das obras de Ruth Guimarães:

  • regionalismo (foco em uma região específica);

  • elementos do folclore brasileiro, da cultura indígena e da cultura negra;

  • crítica social;

  • linguagem popular e caipira;

  • retrato de “causos” e vivências cotidianas;

  • realismo mágico.

Principais obras de Ruth Guimarães

Guimarães escreveu diversas obras ao longo de sua carreira, incluindo romances, dicionários, crônicas, contos etc. Aqui estão as mais importantes:

  • Água funda (1946)

  • Os filhos do medo (1950)

  • Mulheres célebres (1960)

  • As mães na lenda e na História (1960)

  • Líderes religiosos (1961)

  • Lendas e fábulas do Brasil (1972)

  • Dicionário da mitologia grega (1972)

  • O mundo caboclo de Valdomiro Silveira (1974)

  • Grandes enigmas da História (1975)

  • Medicina mágica: as simpatias (1986)

  • Lendas e fábulas do Brasil (1989)

  • Crônicas valeparaibanas (1992)

  • Contos de Cidadezinha (1996)

  • Calidoscópio: a saga de Pedro Malazarte (2006)

  • Histórias de onça (Projeto Macunaíma) (2008)

  • Histórias de jabuti (Projeto Macunaíma) (2008)

Obras Teatrais

  • A pensão de Dona Branca

  • Romaria

Traduções

Ruth Guimarães também foi tradutora de diversas obras de autores renomados. São as principais:

  • Histórias fascinantes (1960), de Balzac

  • O asno de ouro (1963), de Apuleio

  • Os mais brilhantes contos de Dostoiévski (1966)

  • Contos de Dostoiévski (1985)

  • Contos de Balzac (1986)

  • Contos de Alphonse Daudet (1986)

  • Os melhores contos de Alphonse Daudet (1987)

  • Os melhores contos de F. Dostoiévski (1987)

  • Os melhores contos de Balzac (1988)

  • Buda e Jesus: diálogos (1989)

Análise de Água funda, de Ruth Guimarães

Água funda, publicado em 1946, foi seu romance de estreia e é tido como o melhor da escritora, além de ser um marco na literatura regionalista. Sua prosa contempla diversos causos, ditos populares e elementos das culturas brasileira e mineira. A história se passa no interior mineiro entre o fim do século XIX e o início do século XX e envolve diversos tempos e personagens. O crítico Oswaldo de Camargo comentou:

Com o romance Água funda, Ruth Guimarães oferece uma intensa e deliciosa viagem pelo universo caipira da fazenda Olhos D'água, localizada em uma cidadezinha do interior mineiro, aos pés da Serra da Mantiqueira. O mundo de atmosfera mágica por onde desfilam senhores e sinhás, contadores de casos, ou causos, e no qual a superstição e o sobrenatural muitas vezes orientam a vida cotidiana.|1|

O trio de personagens principais envolve Sinhá Carolina, Joca e Curiango. Sinhá Carolina é dona da Fazenda Nossa Senhora dos Olhos d’Água, e o início temporal retrata sua juventude, ainda em uma época escravocrata. Mais adiante, ela se casa, torna-se viúva e vende suas terras quando se apaixona por um jovem. Entretanto, o relacionamento a enlouquece, e ela perde as riquezas. O momento histórico retratado inclui o questionamento do modelo econômico da escravatura, que já estava em crise.

Fazenda de Café do Vale do Paraíba, obra que retrata a mesma cidade em que o livro Água funda se passa. (Arquivo Nacional / Domínio Público)

Em um salto temporal, aparece o casal de trabalhadores locais Joca e Curiango. A narrativa retrata o início do século XX e a nova mordernidade, já que a chegada de imigrantes internacionais modificou os métodos de produção. Mesmo com a implementação do trabalho livre, ainda havia exploração da força laboral. Assim, Joca acaba enlouquecendo também e sai em busca da Mãe do Ouro: de acordo com as lendas locais, sua função é proteger os tesouros, mas é perseguida por aqueles que buscam jazidas inexploradas.

Assim, as duas atmosferas são unidas por críticas à exploração da força de trabalho, cultura e lendas populares, superstições e a temática da loucura. Mesmo com tal profundidade, a escrita leve de Ruth criou o fenômeno que esse romance foi. A própria autora comentou:

Água funda é um livro engraçado, livro da vida de todos os dias, é um livro de ‘acontecências’. Qualquer vida dá uma água funda, qualquer um de nós escreve um diário e conta aquelas coisas de todos os dias e vai sair uma água funda. Porque a verdade do livro, alegria, o que o livro tem de bom, de literário, é que ele é um livro de todos os dias, que acontece na vida de cada.|2|

Leia também: Carolina Maria de Jesus — outro grande nome da literatura negra brasileira

Frases de Ruth Guimarães

“Mulher, negra, pobre e caipira — eis as minhas credenciais.”|3|

“Nós precisamos saber da raiz negra de onde viemos. A história negra está por fazer, a literatura negra está por fazer, a poesia está por fazer.”|4|

“Eu conto a história da roça, de gente da roça, do caipira.”|5|

“Folclore não se ensina, vivencia-se.”|6|

Notas

|1| DE CARVALHO, O., Debate promovido pelo Museu Afro Brasil, em 2007. In: Ruth Guimarães assume vaga na Academia Paulista de Letras, aos 88 anos.

|2| Depoimento concedido ao seminário "Encontro de Gerações", promovido pelo Museu Afro Brasil, em 2007. In: Ruth Guimarães assume vaga na Academia Paulista de Letras, aos 88 anos.

|3| Discurso na Bienal Nestlé de Literatura, em 1983.

|4| Depoimento concedido ao seminário "Encontro de Gerações", promovido pelo Museu Afro Brasil, em 2007. In: Ruth Guimarães assume vaga na Academia Paulista de Letras, aos 88 anos.

|5| Idem.

|6| In: DISSE, J. M. B. Ruth Guimarães: centenário de uma pioneira. Disponível aqui. Acesso em: 16 fev. 2023.  

Por: Luiza Pezzotti Pugles

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