O realismo é um estilo de época que surgiu na França do século XIX e apresenta aspectos antirromânticos. “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, é o primeiro romance realista.
Realismo é um estilo de época surgido na França, no século XIX, no contexto da Revolução Industrial. Nas artes plásticas, o pintor francês Gustave Courbet foi o pioneiro desse estilo. Já o escritor Gustave Flaubert introduziu a literatura realista na França com a publicação de seu polêmico romance Madame Bovary.
No Brasil, o grande nome do realismo foi o escritor Machado de Assis, autor do livro Memórias póstumas de Brás Cubas. Desse modo, esses artistas, em oposição à idealização romântica, mostraram a realidade de seus países, de forma objetiva, crítica e, no caso do autor brasileiro, bastante irônica.
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Características do realismo
O realismo é um estilo de época de caráter antirromântico. Isso quer dizer que ele se opõe à idealização romântica e mostra a realidade crua, sem retoques, do momento presente. Assim, ele é marcado pela objetividade e, portanto, pela perspectiva racional. A temática sociopolítica é recorrente e, com ela, a crítica à sociedade burguesa do século XIX.
Principais obras do realismo
→ Pinturas do realismo
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Mulheres peneirando trigo (1855), de Gustave Courbet
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Plantadores de batatas (1861), de Jean-François Millet
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Alpinistas espanhóis cruzando os Pirineus (1875), de Rosa Bonheur
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Clínica Gross (1875), de Thomas Eakins
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Cossacos escrevem carta ao sultão turco (1878-1891), de Ilia Repin
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Caipira picando fumo (1893), de Almeida Júnior
→ Romances do realismo
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Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert
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Crime e castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski
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Middlemarch (1872), de George Eliot (Mary Ann Evans)
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O crime do padre Amaro (1875), de Eça de Queirós
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Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis
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Pedro e João (1888), de Guy de Maupassant
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Effi Briest (1895), de Theodor Fontane
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O pai Goriot (1897), de Honoré de Balzac
Principais autores do realismo
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Honoré de Balzac (1799-1850) — francês
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George Eliot (Mary Ann Evans) (1819-1880) — inglesa
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Theodor Fontane (1819-1898) — alemão
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Gustave Flaubert (1821-1880) — francês
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Fiódor Dostoiévski (1821-1881) — russo
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Machado de Assis (1839-1908) — brasileiro
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Eça de Queirós (1845-1900) — português
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Guy de Maupassant (1850-1893) — francês
Contexto histórico do realismo
O surgimento do realismo está associado à Revolução Industrial, que provocou uma transformação na economia europeia do século XIX. O uso de máquinas na produção e o fortalecimento do comércio aceleraram o crescimento econômico. Como resultado, no entanto, ficou em evidência a desigualdade social.
De um lado, a burguesia e a riqueza; de outro, o proletariado e a pobreza. Além disso, o uso de máquinas no campo fez com que os camponeses perdessem sua função e fossem para os centros urbanos em busca de emprego (êxodo rural). A concentração populacional trouxe doenças, miséria e fez crescer a prostituição.
Nesse contexto, ficaram em evidência ideologias como o liberalismo e o marxismo. Dessa forma, os artistas sentiram a necessidade de se manifestarem politicamente sobre a realidade. Não havia mais espaço para a idealização romântica ou qualquer tipo de alienação.
Realismo na literatura
A literatura realista surgiu com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857, na França. Assim, as obras pertencentes a esse estilo de época atacam o modo de vida burguês, além de realizarem crítica sociopolítica. Com objetividade, os autores realistas mostram os problemas sociais existentes no século XIX.
Os personagens realistas são membros da elite burguesa. O narrador utiliza o fluxo de consciência para fazer a análise psicológica desses personagens e, por extensão, realiza a análise da sociedade da época. Os romances desse período tratam de temáticas como adultério, opressão e corrupção.
Realismo em Portugal
Em Portugal, o realismo teve início em 1865 e ganhou força durante a polêmica discussão conhecida como “questão coimbrã”. Assim, de novembro de 1865 a julho de 1866, escritores românticos entraram em conflito com os defensores do realismo, e ambas as partes protagonizaram a mais famosa “briga” da literatura portuguesa.
Essa disputa intelectual entre românticos e realistas em Portugal se deu em virtude de que o romantismo estava em decadência, e uma nova perspectiva estética (o realismo) entrava em cena. Porém, os românticos não aceitaram facilmente o surgimento dessa nova corrente literária.
Durante meses, defensores de ambos os lados usaram os periódicos da época para disseminar suas ideias e atacar os oponentes, de forma que o debate ficou em evidência durante muito tempo e, por isso, foi bastante comentado. Como a maioria deles estava vinculada à Universidade de Coimbra, a questão ou discussão recebeu o adjetivo “coimbrã”.
De um lado, os velhos e conservadores românticos. Do outro, um grupo de jovens escritores que ficou conhecido como “geração de 70”. Entre eles, estava o principal representante do realismo em Portugal, o romancista Eça de Queirós. Já a poesia realista portuguesa conta, principalmente, com o poeta Cesário Verde (1855-1886).
Realismo no Brasil
O realismo no Brasil teve início com a publicação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881. Esse escritor, conhecido por sua fina ironia, iniciou sua carreira com obras românticas, mas seu grande sucesso se deve à sua fase realista, que conta também com os seguintes romances:
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Quincas Borba (1891);
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Dom Casmurro (1899);
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Esaú e Jacó (1904);
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Memorial de Aires (1908).
Já as obras da escritora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) também fazem parte do realismo brasileiro. No entanto, elas apresentam traços naturalistas, coisa que não ocorre com os livros realistas de Machado de Assis, o que faz dele o principal autor do realismo no Brasil.
Além deles, a literatura brasileira possui outros escritores da época que apresentam uma perspectiva realista em seus textos. Porém, devido às características que sobressaem em suas obras, eles são, acima de tudo, autores naturalistas:
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Aluísio Azevedo (1857-1913);
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Raul Pompeia (1863-1895);
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Adolfo Caminha (1867-1897).
→ Videoaula sobre realismo no Brasil
Realismo na arte
O pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) foi o pioneiro do realismo quando começou a pintar os camponeses de forma a fazer uma crítica sociopolítica. Sofreu a rejeição da intelectualidade francesa da época e foi impedido de participar do Salão Oficial de Paris, em 1855.
Porém, Courbet decidiu fazer uma exposição independente nas proximidades do conhecido evento que não tinha permitido a sua participação. Dessa forma, expôs 44 pinturas que ele considerava “realistas”. Estava criado o movimento realista nas artes europeias.
Portanto, a pintura realista mostra a realidade dos trabalhadores (camponeses e operários) acompanhada dos problemas sociais desse povo. A representação da realidade é feita com objetividade, clareza, ausência de emoção ou idealização. Além de Courbet, os principais representantes dessa estética são:
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Jean-François Millet (1814-1875) — francês;
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Rosa Bonheur (1822-1899) — francesa;
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Thomas Eakins (1844-1916) — estado-unidense;
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Ilia Repin (1844-1930) — russo;
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Almeida Júnior (1850-1899) — brasileiro.
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Realismo e naturalismo
É possível afirmar que obras literárias naturalistas também são realistas. Afinal, elas são antirromânticas, utilizam uma linguagem objetiva e fazem crítica sociopolítica. No entanto, não podemos afirmar que obras realistas sejam também naturalistas, já que o naturalismo apresenta características bem específicas, tais como:
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Determinismo: os personagens são influenciados pela raça a que pertencem, meio em que vivem e contexto histórico em que estão inseridos.
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Zoomorfização: atribuição de características animais a seres humanos.
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Prevalência dos instintos sobre a razão: sobretudo do instinto sexual.
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Racismo: justificado equivocadamente pelo pensamento científico da época.
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Homofobia: a homossexualidade era vista como uma patologia.
Não há consenso sobre a diferenciação dos dois termos na pintura, de forma que, na maioria das vezes, eles são usados como sinônimos. Porém, segundo a pesquisadora Ivana Soares Paim:
o historiador inglês Arnold Hauser considerou o naturalismo uma vertente artística estritamente plástica, preocupada apenas com a verossimilhança na elaboração da imagem pictórica. Já o realismo, [...], seria uma orientação filosófica, [...], opositora ao romantismo, onde cabia também a preocupação social.|1|
Nota
|1| PAIM, Ivana Soares. Por enxergar demais. A pintura de Hugo Adami. 2002. 232 f. Dissertação (Mestrado em História da Arte) — Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
Créditos de imagem
[1] Editora L&PM Pocket (reprodução)
[2] Editora Martin Claret (reprodução)