Realismo mágico

O realismo mágico apresenta elementos insólitos. Tal realismo está presente em obras do colombiano Gabriel García Márquez. E também nas obras do brasileiro Murilo Rubião.

O realismo mágico permite a existência de personagens incomuns ou sobrenaturais.

O realismo mágico está associado a personagens e fatos insólitos, sobrenaturais ou fantásticos. Apesar de estar presente na literatura desde o final do século XVIII, somente a partir do século XX o realismo fantástico passou a ficar em evidência. As obras do colombiano Gabriel García Márquez são relacionadas a esse tipo de realismo. No Brasil, as obras de Murilo Rubião e José J. Veiga apresentam caráter mágico ou fantástico.

Leia também: Diferenças entre a linguagem literária e não literária

Resumo sobre o realismo mágico

  • O realismo mágico é um realismo típico de obras em que predomina a fantasia, a qual destoa da realidade cotidiana.

  • Personagens e acontecimentos fantásticos, nonsense e mistério são elementos do realismo mágico ou fantástico.

  • No Brasil, o realismo mágico está presente, principalmente, em obras de José J. Veiga, Murilo Rubião e Monteiro Lobato.

  • As obras do colombiano Gabriel García Márquez e do estado-unidense Edgar Allan Poe também são marcadas por esse tipo de realismo.

Videoaula sobre o realismo mágico

O que é realismo mágico?

O realismo mágico é um tipo de realismo absurdo, contrário às leis naturais. Daí seu caráter mágico ou fantástico. Ele está presente em obras literárias que apresentam personagens ou acontecimentos fantásticos. Por exemplo, dragões, bruxas, fantasmas, super-heróis fazem parte de uma realidade mágica ou fantástica.

Características do realismo mágico

O realismo mágico pode apresentar as seguintes características:

  • Personagens ou acontecimentos mágicos ou fantásticos.

  • Deformação da realidade cotidiana.

  • Elementos insólitos, absurdos ou sobrenaturais.

  • Nonsense e ilogicidade.

  • Surrealidade ou suprarrealidade.

  • Valorização do mistério.

  • Elementos mágicos inseridos na realidade cotidiana.

Principais obras de realismo mágico

Capa do livro O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, um exemplo de obra do realismo mágico.[1]
  • O diabo apaixonado (1772), de Jacques Cazotte.
  • Manuscrito encontrado em Saragoça (1805), de Jan Potocki.

  • Contos fantásticos (1815), de E. T. A. Hoffman.

  • Histórias extraordinárias (1833-1845), de Edgar Allan Poe.

  • A pequena sereia (1837), de Hans Christian Andersen.

  • Paulo (1861), de Bruno Seabra.

  • Contos fantásticos (1865), de Teófilo Braga.

  • Alice no País das Maravilhas (1865), de Lewis Carroll.

  • A luneta mágica (1869), de Joaquim Manuel de Macedo.

  • Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis.

  • O médico e o monstro (1886), de Robert Louis Stevenson.

  • O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde.

  • Drácula (1897), de Bram Stoker.

  • A metamorfose (1915), de Franz Kafka.

  • Contos da selva (1918), de Horacio Quiroga.

  • Sítio do Picapau Amarelo (1920-1947), de Monteiro Lobato.

  • O curioso caso de Benjamin Button (1922), de F. Scott Fitzgerald.

  • Macunaíma (1928), de Mário de Andrade.

  • O agressor (1943), de Rosário Fusco.

  • O reino deste mundo (1949), de Alejo Carpentier.

  • O senhor dos anéis (1954-1955), de J. R. R. Tolkien.

  • Os dragões e outros contos (1965), de Murilo Rubião.

  • O mundo alucinante (1966), de Reinaldo Arenas.

  • Dona flor e seus dois maridos (1966), de Jorge Amado.

  • A hora dos ruminantes (1966), de José J. Veiga.

  • Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez.

  • Incidente em Antares (1971), de Erico Verissimo.

  • A guerra no Bom Fim (1972), de Moacyr Scliar.

  • As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino.

  • Garabombo, o invisível (1972), de Manuel Scorza.

  • O coronel e o lobisomem (1974), de José Cândido de Carvalho.

  • O livro do riso e do esquecimento (1979), de Milan Kundera.

  • A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende.

  • IT — a Coisa (1986), de Stephen King.

  • A varanda do frangipani (1996), de Mia Couto.

  • Hora de alimentar serpentes (2013), de Marina Colasanti.

Principais autores de realismo mágico

  • Jacques Cazotte (1719-1792) — França.

  • Jan Potocki (1761-1815) — Ucrânia.

  • E. T. A. Hoffman (1776-1822) — Alemanha.

  • Hans Christian Andersen (1805-1875) — Dinamarca.

  • Edgar Allan Poe (1809-1849) — Estados Unidos.

  • Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) — Brasil.

  • Lewis Carroll (1832-1898) — Inglaterra.

  • Bruno Seabra (1837-1876) — Brasil.

  • Machado de Assis (1839-1908) — Brasil.

  • Teófilo Braga (1843-1924) — Portugal.

  • Bram Stoker (1847-1912) — Irlanda.

  • Robert Louis Stevenson (1850-1894) — Escócia.

  • Oscar Wilde (1854-1900) — Irlanda.

  • Horacio Quiroga (1878-1937) — Uruguai.

  • Monteiro Lobato (1882-1948) — Brasil.

  • Franz Kafka (1883-1924) — República Tcheca.

  • J. R. R. Tolkien (1892-1973) — Inglaterra.

  • Mário de Andrade (1893-1945) — Brasil.

  • F. Scott Fitzgerald (1896-1940) — Estados Unidos.

  • Alejo Carpentier (1904-1980) — Cuba.

  • Erico Verissimo (1905-1975) — Brasil.

  • Rosário Fusco (1910-1977) — Brasil.

  • Jorge Amado (1912-2001) — Brasil.

  • José Cândido de Carvalho (1914-1989) — Brasil.

  • José J. Veiga (1915-1999) — Brasil.

  • Murilo Rubião (1916-1991) — Brasil.

  • Italo Calvino (1923-1985) — Itália.

  • Gabriel García Márquez (1927-2014) — Colômbia.

  • Manuel Scorza (1928-1983) — Peru.

  • Milan Kundera (1929-2023) — República Tcheca.

  • Marina Colasanti (1937-) — Brasil.

  • Moacyr Scliar (1937-2011) — Brasil.

  • Isabel Allende (1942-) — Chile.

  • Reinaldo Arenas (1943-1990) — Cuba.

  • Stephen King (1947-) — Estados Unidos.

  • Mia Couto (1955-) — Moçambique.

Realismo mágico x realismo fantástico

“Realismo mágico” e “realismo fantástico” são expressões sinônimas. O mágico e o fantástico na literatura são uma mesma coisa. Portanto, é comum a expressão “realismo mágico ou fantástico”.

Realismo mágico no Brasil

Capa do livro Os cavalinhos de Platiplanto, de José J. Veiga, um exemplo de obra do realismo mágico.[2]

O realismo mágico pode ser identificado na literatura brasileira desde o século XIX. Por exemplo, ele está presente no livro A luneta mágica, do autor romântico Joaquim Manuel de Macedo. Nessa obra, por meio de uma luneta, é possível ver a maldade ou a bondade das pessoas. Outro livro que apresenta elemento fantástico é Memórias póstumas de Brás Cubas, obra realista de Machado de Assis, em que um morto é o narrador da história.

Porém, o realismo mágico ficou em evidência, não só no mundo, mas também no Brasil, durante o século XX. Desse modo, os principais autores brasileiros que trabalharam com esse tipo de realismo em suas obras são Murilo Rubião e José J. Veiga. Já na literatura infantil brasileira, o realismo mágico está presente, principalmente, nas obras de Monteiro Lobato.

Realismo mágico no mundo

Na literatura internacional, os principais autores do realismo mágico são o dinamarquês Hans Christian Andersen, o estado-unidense Edgar Allan Poe, o inglês J. R. R. Tolkien e o colombiano Gabriel García Márquez. O realismo mágico teve origem na Europa, e está presente não só em obras literárias.

Assim, as obras de pintores pertencentes à escola de realismo fantástico de Viena, fundada em 1946, possuem elementos alegóricos ou simbólicos, associados ao fantástico. Os principais artistas dessa escola são:

  • Rudolf Hausner (1914-1995).

  • Fritz Janschka (1919-2016).

  • Wolfgang Hutter (1928-2014).

  • Anton Lehmden (1929-2018).

  • Arik Brauer (1929-2021).

  • Ernst Fuchs (1930-2015).

O cinema mundial também apresenta obras em que se verifica o realismo mágico ou fantástico, tais como:

  • O mágico de Oz (1939), de Victor Fleming (1889-1949) — Estados Unidos.

  • Mary Poppins (1964), de Robert Stevenson (1905-1986) — Estados Unidos.

  • À meia-noite levarei sua alma (1964), de José Mojica Marins (1936-2020) — Brasil.

  • A história sem fim (1984), de Wolfgang Peterson (1941-2022) — Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido.

  • Asas do desejo (1987), de Wim Wenders (1945-) — Alemanha e França.

  • O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet (1953-) — França.

  • O senhor dos anéis (2001-2003), de Peter Jackson (1961-)— Nova Zelândia e Estados Unidos.

  • O labirinto do fauno (2006), de Guillermo del Toro (1964-) — Espanha, México e Estados Unidos.

  • O curioso caso de Benjamin Button (2008), de David Fincher (1962-) — Estados Unidos.

  • A teta assustada (2009), de Claudia Llosa (1976) — Peru.

  • A forma da água (2017), de Guillermo del Toro (1964-) — Estados Unidos.

  • O grande circo místico (2018), de Cacá Diegues (1940-) — Brasil.

Origem do realismo mágico

A expressão “realismo mágico” foi usada, pela primeira vez, em 1925, por Franz Roh (1890-1965). Desse modo, o crítico de arte alemão se referia às pinturas pós-expressionistas. Já na década de 1940, a expressão “realismo mágico” passou a se referir às obras literárias que apresentam características insólitas ou sobrenaturais.

No entanto, o realismo mágico ou fantástico está presente em obras literárias desde o século XVIII. Assim, o precursor da chamada “literatura fantástica”, a qual utiliza o realismo mágico, é o autor francês Jacques Cazotte, com sua narrativa O diabo apaixonado, obra de 1772.

Leia também: Conto fantástico — o gênero textual de enredo curto e elementos sobrenaturais

Exercícios sobre realismo mágico

Questão 1

Qual dos trechos abaixo, extraídos do romance Macunaíma, de Mário de Andrade, apresenta elementos do realismo mágico ou fantástico?

A) “A companheira de Jiguê era bem moça e chamava Sofará. Foi se aproximando ressabiada porém desta vez Macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém.”

B) “A moça botou Macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!... e pediu pra Sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato.”

C) “A moça fez. Mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. Andaram por lá muito.”

D) “Nem bem ela deitou Macunaíma na rede, Jiguê já chegava de pescar de puçá e a companheira não trabalhara nada. Jiguê enquizilou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. Sofará aguentou a sova sem falar um isto.”

E) “Jiguê não desconfiou de nada e começou trançando corda com fibra de curauá. Não vê que encontrara rasto fresco de anta e queria pegar o bicho na armadilha. Macunaíma pediu um pedaço de curauá pro mano porém Jiguê falou que aquilo não era brinquedo de criança.”

Resolução:

Alternativa C.

O curumim, ou seja, o menino Macunaíma, “botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo”. Isso quer dizer que ele virou adulto de repente e se transformou em um príncipe. Essa transformação, que vai se reverter depois, é um elemento mágico ou fantástico do romance.

Questão 2

Os personagens principais dos livros da série Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, são dona Benta, a cozinheira tia Nastácia, o boneco de sabugo de milho Visconde, a boneca de pano Emília e os netos de dona Benta, que são Narizinho e Pedrinho. Os trechos abaixo foram extraídos do livro A chave do tamanho, que faz parte dessa série infantil. Todos apresentam elementos do realismo mágico ou fantástico, exceto:

A) “O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr do sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol ‘tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do ocaso’. Diante dum pôr do sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem.”

B) “O Visconde, de fato, andava estudando um misterioso superpó, capaz de maravilhas ainda maiores que o velho pó de pirlimpimpim; por isso passava as noites em claro e até recebia cartas científicas do estrangeiro. Mas naquela noite Emília ouviu uns ronquinhos.”

C) “Dona Benta ia abrindo a boca para a resposta, quando um homem a cavalo apontou na curva da estrada. Era o estafeta que, um dia sim, um dia não, portava ali para entregar a correspondência.”

D) “Quando Emília abriu os olhos e foi lentamente voltando da tonteira, deu consigo num lugar nebuloso, assim com ar de madrugada. Não enxergou árvores nem montanhas nem coisa nenhuma — só havia lá longe um misterioso casarão.”

E) “Aquela tristeza de Dona Benta andava a anoitecer o Sítio do Picapau, outrora tão alegre e feliz. E foi justamente essa tristeza que levou Emília a planejar e realizar a mais tremenda aventura que ainda houve no mundo.”

Resolução:

Alternativa C.

Com exceção do trecho da alternativa C, todos os outros mencionam um personagem fantástico. Afinal, Emília e Visconde são bonecos que falam e agem como seres humanos.

Créditos da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução)

[2] Companhia das Letras (reprodução)

Fontes:

ALMEIDA, Ricardo Ferreira de. O realismo mágico no cinema — o caso de Veit Helmer. 2018. Dissertação (Mestrado em Estudos Artísticos) – Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018.

ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Chapecó: Editora UFFS, 2019.

BELONIA, Cinthia da Silva. O real maravilhoso em Gabriel García Márquez. Revista de Pesquisa Interdisciplinar, Cajazeiras, v. 3, n. 2, p. 2-11, 2018.

BERCHEZ, Amanda. O engenho do indelimitável: história e teoria(s) dos gêneros literários fantástico e neofantástico. Revista X, Curitiba, v. 16, n. 3, p. 903-927, 2021.

MONTEIRO LOBATO. A chave do tamanho. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2021.

NOVOTNÁ, Kateřina. Representações de fantástico e ficção científica nos contos de Maria de Menezes. 2016. Dissertação (Mestrado em Estudos Românicos) – Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2016.

OLINTO, Antonio. O nosso Kafka. Disponível em: http://academia.org.br/artigos/o-nosso-kafka.

ORIENT, Carlos Arenas. Ernst Fuchs y la escuela de Viena del realismo fantástico. Ars Longa, Valencia, n. 13, 2004.

SILVA, Luis Cláudio Ferreira; LOURENÇO, Daiane da Silva. O gênero literário fantástico: considerações teóricas e leituras de obras estrangeiras e brasileiras. In: ENCONTRO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, 5., 2010, Campo Mourão. Anais [...]. Campo Mourão: FECILCAM/ NUPEM, 2010.

TODOROV, T. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa Castello. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.

Por: Warley Souza

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