A primeira geração do Romantismo no Brasil é também conhecida como indianista ou nacionalista, em razão da valorização do índio e da pátria.
Leia um trecho da obra “Juca Pirama” de Gonçalves Dias:
I-Juca Pirama
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas
coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
(…)
GONÇALVES DIAS, Poesia completa e prosa.
Podemos notar que, em “Juca Pirama”, o autor, por meio da caracterização dos Timbiras, faz uma idealização do índio e uma exaltação da natureza. Isso se deve ao fato de que essa geração do Romantismo no Brasil tinha a preocupação de construir e garantir uma identidade nacional após a independência do país, ou seja, a valorização dos elementos nativos do Brasil que não tivessem sido modificados pelos colonizadores era a forma de nos separar e diferenciar de Portugal.
Para compreendermos melhor esse processo, é necessário retomarmos alguns acontecimentos que tornaram o sentimento nacionalista tão marcante nessa fase do movimento literário que estamos estudando.
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Contexto histórico:
a) Período Napoleônico – Invasão da Espanha e de Portugal: Em 1808, a família real portuguesa transferiu-se para o Brasil, fugindo da invasão napoleônica. Isso porque, dois anos antes (1806), o governo napoleônico impôs um bloqueio continental à Europa que impedia qualquer nação europeia de ter relações comerciais com a Inglaterra. No entanto, o príncipe regente de Portugal, D. João VI, opôs-se à ordem francesa, pois, ao longo do século XVIII, Portugal assinou uma série de tratados econômicos que o comprometiam com a Inglaterra.
Em resposta à recusa portuguesa em aderir ao bloqueio continental, Napoleão ameaçou invadir o território português. Assim, pressionado por Napoleão, o governo português aceitou o plano da Inglaterra para contornar a situação, o qual consistia em escoltar a família real para o Brasil e utilizar as forças militares inglesas para expulsar as tropas napoleônicas.
b) Abertura dos portos para as nações amigas: A oferta de escolta da família real para o Brasil e a expulsão das tropas napoleônicas tinham um preço a ser pago por Portugal. Em troca desses “favores”, D. João transferiria a capital portuguesa para o Rio de Janeiro e aceitaria uma série de tratados que abrissem os portos às nações do mundo e oferecessem taxas alfandegárias mais baixas aos produtos ingleses.
c) Transferência da corte para o Rio de Janeiro: Após a chegada no Brasil, a família real permaneceu um mês na Bahia, realizando melhorias na região, como a construção da Escola de Cirurgia – que mais tarde se tornou a Faculdade de Medicina do estado; houve também a criação da junta comercial, criação do passeio público e a construção do Teatro São João.
Posteriormente, a corte mudou-se para o Rio de Janeiro, instalando ali a sede do governo de Portugal. O Rio de Janeiro foi adotado como capital do império e passou por diversas modificações, tais como: a construção da Biblioteca Real, a criação do primeiro jornal do país, a criação da casa da moeda, do Banco do Brasil, da Academia Real militar, do Jardim Botânico, da Imprensa Régia (que contribuía com a circulação de jornais e periódicos) etc. Além disso, missões estrangeiras aportaram na região para avaliar suas riquezas, aumentando, assim, o intercâmbio cultural.
d) Independência do Brasil: As transformações pelas quais o Brasil passou após a chegada da família real proporcionaram uma relevância política, econômica e cultural que o país não possuía anteriormente. Além disso, durante os anos que sucederam o final da Era Napoleônica, Portugal passou por problemas políticos intensos, que exigiram a volta de D. João VI para lá. O rei português deixou no Brasil como seu representante D. Pedro, seu filho.
Esses problemas políticos de Portugal refletiram-se também no Brasil. As assembleias que ocorriam nas terras lusitanas defendiam uma posição central do poder de Portugal no Reino Unido e, por consequência, a submissão do Brasil. Todavia, por aqui, D. Pedro, orientado pelos representantes da elite política brasileira, também promovia reformas que desagradavam às elites portuguesas, o que promoveu uma reação da corte em Portugal, pedindo a sua volta imediata para lá. No entanto, em 9 de Janeiro de 1922, D. Pedro recusou-se a abandonar a terra brasileira, fato que ficou conhecido como “Dia do fico”.
Esse conflito de interesses entre a corte Portuguesa e o Brasil permaneceu durante todo o primeiro semestre do mesmo ano. No entanto, no mês de setembro, a corte fez um ultimato a D. Pedro para voltar para Portugal sob ameaça de ataque militar, o que levou o príncipe, que estava em viagem ao estado de São Paulo, declarar o país independente às margens do rio Ipiranga no dia 7 do mesmo mês.
Como é possível notar, esse contexto histórico foi influenciador direto das produções do movimento romântico no Brasil. Esse movimento literário surgiu poucos anos após a independência política. Com a autonomia em relação à colônia, surgiu, nos escritores brasileiros, um sentimento nacionalista, gerando um movimento anticolonialista que permitiu enfim a criação de uma literatura que retratasse nossa cultura, história e língua de maneira fiel. Dessa forma, com o rompimento do movimento clássico lusitano, surgiu uma nova forma de produção literária, que possuía um público novo, pertencente às classes populares da sociedade, havendo a valorização da língua do povo brasileiro, o que possibilitou o acesso mais fácil ao texto conhecido como romance, gênero que não existia na era clássica.
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Características:
a) exaltação da natureza: buscou uma linguagem nova que valorizava as características físicas, sociais e culturais da pátria. Assim, houve uma valorização do vocabulário típico do brasileiro. Por meio da exaltação da natureza e da liberdade, os românticos fugiam da realidade que os massacrava em um país com problemas econômicos e sociais sérios. Dessa maneira, houve a produção de uma poesia que tinha o índio como herói nacional e era expressa por meio de uma linguagem simples e acessível.
b) indianismo/medievalismo: busca do índio como o elemento medieval que representava o passado, a raiz do povo brasileiro e, por isso, esse elemento foi um dos temas principais dessa primeira geração. O índio substituiu a imagem do herói medieval, oriundo das influências europeias.
c) nacionalismo: o sentimento nacionalista de um país recém-independente foi expresso de forma exagerada, uma vez que só eram exaltados os aspectos positivos da pátria. Assim, o olhar sobre a pátria estava impregnado de idealização.
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Temas principais:
Por ser marcada por uma busca intensa de identidade nacional, essa geração do Romantismo no Brasil apresentou como principais temas:
- o amor impossível;
- o índio;
- a saudade da pátria;
- a natureza;
- a religiosidade.
Como principais autores dessa fase, temos:
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Principais autores da poesia na primeira geração do Romantismo no Brasil
⇒ Domingos José Gonçalves de Magalhães
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Principais autores da prosa na primeira geração do Romantismo no Brasil
⇒ Joaquim Manuel de Macedo
⇒ Manuel Antônio de Almeida
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