O parnasianismo no Brasil surgiu quando o país se despedia da monarquia para dar lugar à república. Era um período em que se valorizava mais a ciência e a razão do que a tradição. Contudo, Olavo Bilac, o principal nome do parnasianismo brasileiro, preferiu ignorar a objetividade do parnasianismo europeu e deixou transparecer o sentimento em suas poesias.
Originalmente, o parnasianismo apresenta objetividade, antirromantismo, descritivismo e rigor formal. Esse último elemento — o rigor formal — foi o principal caracterizador da poesia parnasiana no Brasil. Assim, os versos metrificados e, muitas vezes, sentimentais de Olavo Bilac dividiam espaço com a poesia de outros autores, como Francisca Júlia, Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho e Raimundo Correia.
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Contexto histórico do parnasianismo no Brasil
No final do século XIX, a monarquia brasileira estava em decadência. Essa forma tradicional de governo se mostrava ineficaz em um país endividado e dependente do capital estrangeiro. Nesse contexto, os movimentos abolicionistas e republicanos rivalizavam com a parcela conservadora da sociedade brasileira, que apoiava a monarquia e a escravidão.
O país tomou um novo rumo quando, em 1888, ocorreu a abolição da escravatura e, no ano seguinte, a proclamação da república. Entretanto, a nova república era governada por militares, e o país se viu refém do ditador Floriano Peixoto (1839-1895). Assim, o parnasianismo surgiu, nos últimos anos de disputa entre monarquistas e republicanos, como uma alternativa para o romantismo, que vigorou na maior parte do Brasil Império (1822-1889).
Características do parnasianismo no Brasil
A poesia parnasiana brasileira, assim como a europeia, apresenta as seguintes características:
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Descritivismo
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Rigor formal
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Uso de polissíndeto
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Visão antirromântica
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Realismo lírico
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Ausência de crítica social
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Afastamento do eu lírico
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Defesa da arte pela arte
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Valorização da Antiguidade clássica
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→ Subjetividade de Olavo Bilac
Entretanto, a objetividade parnasiana, no Brasil, acabou não sendo seguida ao pé da letra pelos poetas brasileiros. Especialmente Olavo Bilac, o principal autor dessa escola no país, já que o poeta, muitas vezes, deixa transparecer a subjetividade em seus textos. Portanto, a principal característica definidora do parnasianismo brasileiro é o rigor formal, isto é, versos cuidadosamente metrificados, além da presença de rimas.
Isso pode ser observado no texto a seguir, parte da coleção de sonetos Via-Láctea. Esse poema é composto por versos decassílabos (10 sílabas poéticas) e rimas, portanto, possui rigor formal. Contudo, apresenta marcas de subjetividade, como o excesso de adjetivos: “iluminada”, “trêmulas”, “infinita”, “cintilante”, “límpido”, “mudo”, “sereno”, “doirada”, “ressoante”, “sagrada”, “formosas”, “vaporosas”, “calma”, “bela” e “celeste”.
Além disso, a subjetividade está também no uso de exclamações e reticências, e na presença do eu lírico no poema, isto é, não ocorre o distanciamento do “eu”, exigido para os poemas parnasianos. Desse modo, o eu lírico se mostra em: “quando a vi”, “Mas via”, “E eu olhava-a”, “ó, meu amor!”, “Sonhos meus!”, “eu te buscava”, “Vi que no alto surgias” e “para o meu baixando”:
Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via
Que, aos raios do luar iluminada,
Entre as estrelas trêmulas subia
Uma infinita e cintilante escada.
E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada
Degrau, que o ouro mais límpido vestia,
Mudo e sereno, um anjo a harpa doirada,
Ressoante de súplicas feria...
Tu, mãe sagrada! vós também, formosas
Ilusões! Sonhos meus! Íeis por ela
Como um bando de sombras vaporosas.
E, ó meu amor! eu te buscava, quando
Vi que no alto surgias, calma e bela,
O olhar celeste para o meu baixando...
Parnasianismo no Brasil
O parnasianismo teve início no Brasil com a publicação do livro Fanfarras, de Teófilo Dias (1854-1889), em 1882. Teoricamente, durou até o surgimento do simbolismo, em 1893, mas, na prática, após essa data, alguns poetas continuaram a fazer versos nesse estilo.
Principais autores do parnasianismo brasileiro:
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Alberto de Oliveira (1857-1937)
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Raimundo Correia (1859-1911)
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Olavo Bilac (1865-1918)
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Vicente de Carvalho (1866-1924)
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Francisca Júlia (1871-1920)
Principais obras do parnasianismo brasileiro:
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Sonetos e poemas (1885), de Alberto de Oliveira
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Ardentias (1885), de Vicente de Carvalho
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Versos e versões (1887), de Raimundo Correia
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Poesias (1888), de Olavo Bilac
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Mármores (1895), de Francisca Júlia
Parnasianismo na Europa
O parnasianismo surgiu, na Europa, com a publicação da coleção de poemas intitulada O parnaso contemporâneo, em 1866, na França, país cujos poetas parnasianos mais importantes foram:
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Théophile Gautier (1811-1872)
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Leconte de Lisle (1818-1894)
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José María de Heredia (1842-1905)
Assim, o estilo tomou conta de toda a Europa e chegou a Portugal, que contou com os seguintes autores dessa escola:
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João Penha (1838-1919)
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Gonçalves Crespo (1846-1883)
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Cesário Verde (1855-1886)
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António Feijó (1859-1917)
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Exercícios resolvidos
Questão 1 – (Enem)
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se além da serrania
Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.
A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
CORREIA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017.
Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado à poesia parnasiana. No poema de Raimundo Correia, remete(m) a essa estética
A) as metáforas inspiradas na visão da natureza.
B) a ausência de emotividade pelo eu lírico.
C) a retórica ornamental desvinculada da realidade.
D) o uso da descrição como meio de expressividade.
E) o vínculo a temas comuns à Antiguidade clássica.
Resolução
Alternativa D. O descritivismo é uma característica marcante da estética parnasiana, e está presente no soneto de Raimundo Correia, quando o eu lírico descreve o pôr do sol, isto é, o anoitecer.
Questão 2 – (UENP) Leia o texto a seguir.
A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BILAC, O. Poesias. 15. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1931. p. 339.
Com base nesse poema e nos conhecimentos sobre o parnasianismo, considere as afirmativas a seguir.
I. O eu lírico defende que o sofrimento do poeta na feitura do poema fique explícito para o leitor atento.
II. O último verso ironiza a escola parnasiana por conta de seus excessos formais e exageros metalinguísticos.
III. O poema retoma certos valores preconizados pela tradição clássica, como a forma soneto, por exemplo.
IV. O poema é uma espécie de receita de como se fazer poesia, o que fica sugerido já em seu título.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Resolução
Alternativa C. No poema de Bilac, ao utilizar o soneto, o poeta demonstra a sua preferência por uma forma fixa clássica, bastante utilizada durante o renascimento. Além disso, o poema é metalinguístico, ou seja, fala de poesia. Assim, o eu lírico ensina a um poeta como fazer um poema parnasiano.
Questão 3 – (UENP) Sobre o parnasianismo brasileiro, assinale a alternativa correta.
A) É uma continuação do movimento romântico do ponto de vista temático.
B) É uma retomada dos valores árcades, de transformação social.
C) Nega o preceito da “arte pela arte”, pois explora o Carpe diem.
D) Surge como equivalente formal e temático do realismo.
E) Surge como uma reação ao subjetivismo do movimento romântico.
Resolução
Alternativa D. O parnasianismo é equivalente ao realismo, portanto, o estilo de época realismo se refere à prosa, e o parnasianismo, à poesia. Isso porque ambos os estilos são realistas, já que são objetivos e privilegiam a razão. No caso da poesia parnasiana brasileira, a objetividade está na presença do rigor formal. Além disso, apesar de o parnasianismo reagir contra o subjetivismo romântico (como afirma a alternativa “e”), o parnasianismo brasileiro (mencionado no enunciado) não cumpre esse papel, pois permite a subjetividade, contrariando o parnasianismo europeu.
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[1] Martin Claret (reprodução)