Paradoxo

O paradoxo se estrutura com base no emprego de termos opositores, entretanto, diferentemente da antítese, a coerência é prejudicada, tendo em vista que, ao confrontar a perspectiva comum das pessoas, o enunciado insinua a inverdade do próprio teor. Essa sua característica possibilita que ele seja um instrumento das mais variadas áreas de conhecimento, o que permite o seu emprego em postulados matemáticos e filosóficos, levando-o a subdividir-se em paradoxo verídico, falsídico e condicional.

Leia também: Como as figuras de linguagem são cobradas no Enem?

O que é paradoxo?

O paradoxo ou oxímoro é uma figura de pensamento que se estrutura por meio de uma lógica de significados que se excluem de forma mútua, instaurando, assim, uma contradição que, porém, não é sustentada quando se analisa o contexto, já que, na verdade, há um reforço da ideia. Esse recurso estilístico, normalmente, é elaborado por meio da ruptura de percepções do senso comum ou de insinuações acerca da inverdade do próprio conteúdo presente no enunciado.

O que surgiu primeiro, a galinha ou o ovo? Essa pergunta popular é considerada um paradoxo.

Exemplos de paradoxo

“Quem acha vive se perdendo.” (Noel Rosa)

Os verbos “achar” e “perder”, se observadas suas acepções, podem ser considerados antônimos, o que inviabilizaria a associação dos dois para exprimir um pensamento, no entanto, “achar” foi utilizado, no contexto, com o significado de criar hipóteses, evidenciando, nesse sentido, que quanto mais o indivíduo cria conjecturas, mais ele se distancia de seus objetivos, da realidade.

“Só sei que nada sei.” (Sócrates)

O autor, ao afirmar que sabe apenas uma coisa, mas que essa é o fato de não deter conhecimento algum, esbarra numa oposição ilusória, uma vez que as ideias não se excluem, de fato, e sim se complementam para enfatizar o imperativo do constante questionamento, inclusive, das próprias verdades.

Tipos de paradoxo

As espécies de paradoxos podem ser observadas em ramos diversos do conhecimento, como a matemática e a filosofia. Veja alguns tipos desse método de pensamento:

  • Paradoxo verídico: baseia-se em premissas lógico racionais, porém os resultados decorrentes desse processo se afastam de um caráter intuitivo.

Exemplo:

Um prisioneiro condenado à morte recebe a notícia, no sábado, de que o seu enforcamento acontecerá na semana seguinte, entre domingo ou sábado, ao meio-dia, desde que a execução ocorra de maneira inesperada. Contando com essas informações, o prisioneiro se muniu da crença de que tal situação era verdadeira e, então, passou a fazer os cálculos. Ele percebeu que o suplício não poderia ocorrer no próximo sábado, já que, caso chegasse vivo à sexta-feira, saberia o dia da sua pena. Dessa forma, ele continuou a dedução, percebeu que também não poderia ser na sexta-feira, em virtude da mesma lógica e assim por diante. Ao final, chegou à conclusão acerca da impossibilidade da morte nos termos anunciados. Entretanto, não imaginou que, no momento em que excluiu as alternativas e se sentiu resguardado, qualquer dia poderia ser o inesperado, residindo aí o paradoxo (paradoxo do carrasco).

  • Paradoxo falsídico: conforme o próprio nome prenuncia, são estruturas pautadas em raciocínios inverídicos.

Exemplo: Um dado enigma apresenta uma informação às pessoas que objetivam respondê-lo, porém essa informação se desdobra em uma outra, e assim por diante, inviabilizando, portanto, a chegada à solução, como se observa na sequência presente no paradoxo de Epiménides:

“Acusado: — Enquanto a minha mentira não for desvendada, continuarei mentindo.
Juiz: — Se o acusado mentir, seu advogado também mentirá.
Advogado: — Quem for capaz de desvendar a minha mentira dirá a verdade.”

Percebe-se que as falas levam a pessoa que as interpreta a lugar nenhum.

  • Paradoxo condicional: para se caracterizar como tal, há o imperativo de se assumir algumas premissas específicas cujos conteúdos podem, inclusive, ser incompletos ou até mesmo falsos.

Exemplo: O ciclo causal busca, com base no conceito de viagem temporal, desnudar o fato de que quem se presta a essa experiência, necessariamente, assume comportamentos no passado capazes de garantir um porvir já conhecido, o que implica a simultaneidade de pretérito e futuro, os quais são dotados de estruturas que se retroalimentam e, portanto, constituem o paradoxo da predestinação da vida de um dado ser.

Veja também: Pleonasmo – figura de linguagem caracterizada pela repetição enfática de uma ideia

Diferença entre paradoxo e antítese

Primeiramente, faz-se necessário conceituar antítese a fim de distingui-la do paradoxo. Essa figura de linguagem consiste no uso, num mesmo período, de palavras, expressões que possuam sentidos contrários. Tal construção, muitas vezes, tem a pretensão de evidenciar o estado de desorientação vivenciado pelo enunciador, uma vez que os próprios termos, os quais estão situados em lados opostos, propiciam o surgimento de uma atmosfera tensa.

Destaca-se o fato de ser imprescindível a esse recurso estilístico a observação do contexto em que foi veiculado e o conhecimento prévio do receptor da mensagem acerca dos significados dos vocábulos empregados, sob pena de não se identificar a antítese. Veja um exemplo dessa figura:

“De repente do riso fez-se o pranto.” (Vinicius de Moraes)

Com base no verso acima e na definição de paradoxo, constata-se que, neste, os elementos contraditórios dizem respeito a uma mesma ideia, ao passo que, na antítese, há duas ideias que se chocam e requerem uma transição de uma para a outra.

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (Enem)

“Oximoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.”

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Considerando a definição apresentada, o fragmento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publicada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é:

A) “Dos dois contemplo
rigor e fixidez.
Passado e sentimento
me contemplam” (p. 91).

B) “De sol e lua
De fogo e vento
Te enlaço” (p. 101).

C) “Areia, vou sorvendo
A água do teu rio” (p. 93).

D) “Ritualiza a matança
de quem só te deu vida.
E me deixa viver
nessa que morre” (p. 62).

E) “O bisturi e o verso.
Dois instrumentos
entre as minhas mãos” (p. 95).

Resolução

Alternativa D, pois o eu lírico, ao trazer a dicotomia vida e morte, enfatiza o caráter inerente dessas duas experiências em relação à existência humana.

Questão 2 – (Ufscar – adaptado)

— Não refez então o capítulo? – indagou ela logo que entrei.
— Oh, não, Miss Jane. Suas palavras abriram-me os olhos. Convenci-me de que não possuo qualidades literárias e não quero insistir — retruquei com ar ressentido.
— Pois tem de insistir — foi sua resposta [...] Lembre-se do esforço incessante de Flaubert* para atingir a luminosa clareza que só a sábia simplicidade dá. A ênfase, o empolado, o enfeite, o contorcido, o rebuscamento de expressões, tudo isso nada tem com a arte de escrever, porque é artifício e o artifício é a cuscuta** da arte. Puros maneirismos que em nada contribuem para o fim supremo: a clara e fácil expressão da ideia.
— Sim, Miss Jane, mas sem isso fico sem estilo...
Que finura de sorriso temperado de meiguice aflorou nos lábios da minha amiga!
— Estilo o senhor Ayrton só o terá quando perder em absoluto a preocupação de ter estilo. Que é estilo, afinal?
— Estilo é... — ia eu responder de pronto, mas logo engasguei, e assim ficaria se ela muito naturalmente não mo definisse de gentil maneira.
— ...é o modo de ser de cada um. Estilo é como o rosto: cada qual possui o que Deus lhe deu. Procurar ter um certo estilo vale tanto como procurar ter uma certa cara. Sai máscara fatalmente — essa horrível coisa que é a máscara...
— Mas o meu modo natural de ser não tem encantos, Miss Jane, é bruto, grosseiro, inábil, ingênuo. Quer então que escreva desta maneira?
— Pois perfeitamente! Seja como é, e tudo quanto lhe parece defeito surgirá como qualidades, visto que será reflexo da coisa única que tem valor num artista — a personalidade.

*Gustave Flaubert (1821-1880), escritor realista francês considerado um dos maiores do Ocidente.
** planta parasita.

(Monteiro Lobato, O presidente negro.)

No último parágrafo do texto, Miss Jane tenta convencer Ayrton fazendo uso de uma figura caracterizada por:

A) conter palavras de sentidos opostos a fim de reforçar a intensidade expressiva de cada uma delas.
B) apresentar termos cujos sentidos se contradizem, aparentando uma falsa incoerência.
C) transferir o significado real de uma palavra para um que não lhe é usual.
D) substituir a palavra por outra de sentido contíguo.
E) imputar ações e emoções típicas de seres animados a coisas inanimadas.

Resolução

Alternativa B, pois essa traz o conceito de paradoxo, figura percebida no trecho “e tudo quanto lhe parece defeito surgirá como qualidades...”.

Por: Diogo Berquó

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