Os melhores poemas de Cecília Meireles

Os poemas de Cecília Meireles, primeira grande voz feminina em nossa literatura, são permeados por elementos simbolistas que conferem aos versos grande beleza e musicalidade.

Cecília Meireles é o principal nome da poesia moderna brasileira. O simbolismo e a lírica luso-brasileira foram suas maiores influências *

Eleger os melhores poemas de Cecília Meireles não é uma tarefa nada fácil. A poeta, que é considerada a primeira grande voz feminina da literatura brasileira, aquela que, ao lado de Rachel de Queiroz, abriria as portas para que outras mulheres fossem devidamente reconhecidas no universo literário, possui uma farta obra poética influenciada, principalmente, pela estética simbolista. Embora não possa ser filiada a qualquer corrente literária, é possível encontrar em seus poemas elementos caros ao simbolismo, como o apelo à sinestesia e a musicalidade.

Os elementos neossimbolistas encontrados nos versos de Cecília transformam sua poesia em imagem, em som, em música abstrata. Nesses mesmos versos, encontramos o equilíbrio entre o eterno e o efêmero, a presença do que é fluido e do que é etéreo, encontramos o mar, o vento, o ar, o tempo, o espaço e a solidão, elementos que compõem cenários e imagens que, pintadas com cores tão vivas, quase se materializam. Cecília era intuitiva, fez das próprias experiências matéria-prima, fez da própria vida elemento de investigação para questionar e compreender o mundo.

Para que você mesmo possa experimentar a beleza dos versos de Cecília Meireles, selecionamos três poemas que certamente serão um convite para que você busque outros igualmente belos na obra dessa inigualável escritora. Boa leitura!

Onda

Quem falou de primavera
sem ter visto o teu sorriso,
falou sem saber o que era.

Pus o meu lábio indeciso
na concha verde e espumosa
modelada ao vento liso:

tinha frescuras de rosa,
aroma de viagem clara
e um som de prata gloriosa.

Mas desfez-se em coisa rara:
pérolas de sal tão finas
- nem a areia as igualara!

Tenho no meu lábio as ruínas
de arquiteturas de espuma
com paredes cristalinas...

Voltei aos campos de bruma,
onde as árvores perdidas
não prometem sombra alguma.

As coisas acontecidas,
mesmo longe, ficam perto
para sempre e em muitas vidas:

mas quem falou de deserto
sem nunca ver os meus olhos...
- falou, mas não estava certo.

Cecília Meireles

Marcha

As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a ideia do movimento.

Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.

Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.

Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.

Cecília Meireles

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

*A imagem que ilustra o artigo é capa do livro “Cecília de bolso – Uma antologia poética”, Editora L&PM Pocket.

Por: Luana Castro Alves Perez

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