O Arcadismo no Brasil

Ouro Preto, antiga Vila Rica (cidade na qual se destacou o grupo de intelectuais árcades)

Em se tratando de questões relacionadas ao contexto social da época, podemos dizer que o Arcadismo esteve intrinsecamente ligado, entre outros, a fatores de ordem histórica, uma vez que a Inconfidência Mineira revela seu marco introdutório na história da literatura. Em se tratando de tal aspecto, convém que façamos uma breve retomada, no sentido de relembrarmos alguns fatos concebidos como relevantes.

Naquela época, mais precisamente, século XVIII, o Brasil ainda permanecia sob os poderes da metrópole portuguesa, sofrendo assim com as terríveis consequências oriundas dessa forte submissão. Uma delas, por sinal bastante significativa, era a cobrança de altas e abusivas taxas pelo rei de Portugal, sem contar que o ouro já demonstrava sinais de escassez, e mesmo assim a situação ainda insistia em perdurar.

Em meio a esse clima de insatisfação, gerado pela revolta do povo, principalmente em se tratando de alguns fazendeiros e donos de minas que queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país, um grupo de intelectuais recém-formados na Europa, mais precisamente em Coimbra, traziam de lá as ideias iluministas que naquele continente (europeu) fervilhavam. De tal modo, ansiavam cada vez mais que o Brasil se tornasse independente de Portugal. Anseios estes que culminaram na Inconfidência Mineira (1789), liderada pelo alferes José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, em companhia dos poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Inácio de Alvarenga, entre outras importantes figuras da elite mineira, cujas ideias eram implantar no Brasil um sistema republicano de governo. Chegaram até a implantar uma bandeira para a nação constituída dos seguintes dizeres latinos:

Liberdade ainda que tardia

Contudo, tal movimento acabou em frustração, visto que o líder, Tiradentes, no intento de ter sua dívida com a Coroa portuguesa perdoada, relatou as reais intenções às autoridades portuguesas, tendo como consequência sua própria morte. Os demais participantes foram presos e enviados para a capital, naquela época sediada no Rio de Janeiro, e condenados pelo crime de infidelidade ao rei. Para outros, a pena foi ainda mais severa, obtendo o exílio como forma de punição.

Tiradentes, considerado o mártir da independência

Vale lembrar que Vila Rica, hoje representada pela cidade de Ouro Preto, foi o “berço” no qual floresceu esse grupo de escritores que tão bem representou o arcadismo brasileiro, tornando-se o mais importante centro cultural e econômico do país no século XVIII, haja vista que, com o declínio do açúcar na região nordeste, eclodiu-se a descoberta de algo determinante, no que dizia respeito à economia nacional – o ouro. Foi exatamente por essa razão que o Arcadismo é também conhecido como Escola Mineira.

Entre seus representantes podemos citar Cláudio Manuel da Costa, autor de Obras poéticas (1768), marco introdutório do movimento em questão; Tomás Antônio Gonzaga, que se destacou tanto na poesia, manifestada pela lírica – Marília de Dirceu, quanto na prosa, revelada pela sátira, como em Cartas Chilenas; Basílio da Gama, que fez uma retomada ao gênero épico com Uraguai; e Frei Santa Rita Durão, com Caramuru, também de caráter épico.   

Tais obras, todas envoltas por um teor magnífico, tinham como características:

* Apego aos valores da terra – Norteados pela influência da cultura greco-latina, os árcades propunham a ideia de abolir tudo que fosse inútil (inutilia truncat). Dessa forma, como a concentração dos intelectuais da época foi em Minas Gerais, surgiu um excêntrico sentimento nativista, incorporado aos valores da terra e ideário bucólico.

* Sátira – No intento de renegar os costumes da época, sobretudo no que se referia aos mandos e desmandos do rei de Portugal, os representantes, em especial Tomás Antônio Gonzaga, com Cartas Chilenas, soube de forma magistral evidenciar tal intento.

* Incorporação do elemento indígena – Mais uma vez as ideias de Rousseau se faziam manifestadas, sobretudo em se tratando da teoria preconizada pelo Bom Selvagem, retratando que a natureza faz o homem feliz e dotado de virtude, mas a sociedade é que o corrompe.  


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Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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