Murilo Mendes

Murilo Mendes foi um escritor brasileiro do século XX. Ele fez parte da segunda geração modernista, e uma de suas obras mais famosas é o livro “História do Brasil”.

Murilo Mendes, em 1940, ao lado da filóloga italiana Luciana Stegagno Picchio (1920-2008).

Murilo Mendes nasceu em 13 de maio de 1901, em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais. Mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista, inspetor de ensino, secretário da Comissão Nacional de Literatura Infantil e escrivão. Na Itália, foi professor universitário.

O autor, que faleceu em 13 de agosto de 1975, em Lisboa, Portugal, fez parte da segunda geração modernista. Suas obras apresentam questões existenciais, influência católica e traços surrealistas. E também ironia, uma característica presente em uma de suas obras mais conhecidas: História do Brasil.

Veja também: Rachel de Queiroz — uma das principais autoras do modernismo brasileiro

Resumo sobre Murilo Mendes

  • O autor brasileiro Murilo Mendes nasceu em 1901 e faleceu em 1975.

  • Além de escritor, foi arquivista, escrivão e professor universitário.

  • Suas obras fazem parte da segunda fase do modernismo brasileiro.

  • Sua poesia apresenta ironia, além de traços surrealistas.

  • O livro História do Brasil é uma de suas obras mais conhecidas.

Videoaula sobre Murilo Mendes

Biografia de Murilo Mendes

Murilo Mendes nasceu em 13 de maio de 1901, na cidade mineira de Juiz de Fora. Porém a mãe do autor faleceu em outubro do ano seguinte, por complicações em seu terceiro parto. Assim, o poeta foi criado pela sua madrasta, pois logo o pai se casou com Maria José Monteiro, a quem o menino considerava uma segunda mãe.

Com sete anos de idade, iniciou seus estudos no Colégio Moraes e Castro, mas logo foi transferido para o Colégio Malta. Em 1912, passou a estudar na Academia de Comércio de Juiz de Fora. Em seguida, no Colégio Lucindo Filho, onde fez parte do Grêmio Literário Raimundo Correia.

Em 1916, decidiu estudar na Escola de Farmácia de Juiz de Fora, mas desistiu pouco tempo depois. No ano seguinte, mudou-se para Niterói, onde estudou no Colégio Interno Santa Rosa. De volta à cidade natal, escreveu crônicas, em 1920, para o jornal A Tarde. No final do ano, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista.

No ano seguinte, conheceu o pintor Ismael Nery (1900-1934), de quem se tornou grande amigo. Anos depois, em 1930, publicou seu primeiro livro: Poemas. Essa obra recebeu, em 1931, um prêmio da Fundação Graça Aranha. Três anos depois, o catolicismo passou a fazer parte da sua vida e, consequentemente, da sua poesia.

O escritor foi nomeado inspetor de ensino secundário do Distrito Federal em 1936. Nesse mesmo ano, assumiu o cargo de secretário da Comissão Nacional de Literatura Infantil. Continuou a escrever seus poemas, além de publicar textos nas revistas Lanterna Verde e Dom Casmurro. Em 1943, no entanto, ficou internado no Sanatório Boa Vista, para se curar da tuberculose.

Mais tarde, em 1946, trabalhou como escrivão na quarta vara da família do Distrito Federal, além de escrever para o Jornal de Letras de Artes e para o periódico A Manhã. No ano de 1947, casou-se com Maria da Saudade (1914-2010). Publicou, em 1948, crônicas em homenagem ao amigo Ismael Nery, nos periódicos A Manhã e O Estado de S. Paulo.

No ano seguinte, em 1949, conheceu o escritor franco-argelino Albert Camus (1913-1960), que estava de passagem pelo Brasil. Os dois escritores se reencontraram, em 1952, quando Murilo Mendes viajou à Europa.

Até 1956, além da França, também conheceu a Bélgica e a Holanda, países onde deu cursos e conferências sobre a cultura brasileira. Voltou ao Brasil em 1956. No ano seguinte, mudou-se para a Itália, onde atuou como professor universitário. Retornou ao Brasil em 1972. Faleceu em 13 de agosto de 1975, na cidade portuguesa de Lisboa.

Características da obra de Murilo Mendes

Murilo Mendes fez parte da segunda geração modernista. Em função disso, sua poesia apresenta questionamento existencial e conflito espiritual. Apesar de ter caráter metafísico, com traços católicos e surrealistas, os textos do autor deixam transparecer ironia e crítica sociopolítica. No mais, o poeta utiliza versos livres (sem metrificação e sem rima) e brancos (com metrificação e sem rima).

Obras de Murilo Mendes

  • Poemas (1930)

  • Bumba-meu-poeta (1931)

  • História do Brasil (1932)

  • O sinal de Deus (1936)

  • A poesia em pânico (1937)

  • O visionário (1941)

  • As metamorfoses (1944)

  • Mundo enigma (1945)

  • O discípulo de Emaús (1945)

  • Poesia liberdade (1947)

  • Janela do caos (1949)

  • Contemplação de Ouro Preto (1954)

  • Poesias (1959)

  • Siciliana (1959)

  • Tempo espanhol (1959)

  • A idade do serrote (1968)

  • Convergência (1970)

  • Poliedro (1972)

Análise literária de História do Brasil, de Murilo Mendes

Apesar de Murilo Mendes ter se vinculado à segunda fase do modernismo brasileiro, o livro História do Brasil, publicado, pela primeira vez, em 1932, possui traços da primeira geração modernista. A obra, portanto, apresenta nacionalismo crítico e, de forma irônica, faz uma releitura da história do Brasil, como podemos verificar no poema “1500”.

O título faz referência ao ano do descobrimento do Brasil. O poema é escrito em redondilha maior, em diálogo com o indianismo romântico, e mostra as belezas naturais do país, resultado da “imaginação do Senhor”. Esses elementos são personificados: descansam, pintam, sonham. Por fim, as índias e os índios são apresentados aos leitores. Veja a seguir:

1500

A imaginação do Senhor
Flutua sobre a baía.
As pitangas e os cajus
Descansam o dia inteiro.
O céu, de manhã à tarde,
Faz pinturas de baú.
O Pão de Açúcar sonhou
Que um carro saiu da Urca
Transportando com amor
Meninas muito dengosas,
Umas, nuinhas da silva,
Outras, vestidas de tanga,
E mais outras, de maillot.
Chega um índio na piroga,
Tira uma gaita do cinto,
Desfia um lundu tão bom
Que uma índia sai da onda,
Suspende o corpo no mar.
Nasce ali mesmo um garoto
Do corpo moreno dela,
No dia seguinte mesmo
O indiozinho já está
De arco e flecha na mão,
Olhando pro fim do mar.

Já no poema “A bandeira”, também composto em redondilha maior, o eu lírico fala dos bandeirantes que atravessaram o sertão, desviaram o curso de rios e traçaram o “mapa deste país”. Contudo, quebra a seriedade do fato histórico ao dizer que ele não passou de um piquenique:


A bandeira

Durante meses e anos

Nós furamos o sertão,

Atravessamos florestas,
Desviamos os cursos dos rios;
Nossas famílias também,

Vão resolutas com a gente,
Galinhas, carneiros, porcos,
Tudo aprende geografia.
Num só tempo procuramos
As esmeraldas enormes
E traçamos, fatigados,
O mapa deste país.

Esmeralda não achamos,
Ou achamos, mas sloper.
Não achamos esmeraldas,
Mas o tempo não perdemos:
No fim deste pic-nic
Desenrolamos no céu
A bandeira do país.

Poemas de Murilo Mendes

Capa do livro “Murilo Mendes”, coleção Melhores Poemas, da Global Editora. [1]

Um dos poemas mais conhecidos de Murilo Mendes é “Canção do exílio”, do livro Poemas, já que ironiza o poema de mesmo nome feito pelo romântico Gonçalves Dias (1823-1864). Assim, o eu lírico diz que, em sua terra, há “macieiras da Califórnia”, oradores e pernilongos, além de frutas gostosas, porém caras:

Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Já no poema “Tempos duros”, do livro Poesia liberdade, o eu lírico fala da Segunda Guerra Mundial. Diz que o mar “devolve à praia” alianças e “a fotografia de um assassino” quando ele tinha cinco anos e era inocente. A natureza reage à guerra: o mar está furioso; as árvores, espantadas. Homens e crianças têm ódio. E a morte leva à lucidez:

Tempos duros

A aurora desce a viseira:
O monumento ao deserdado desconhecido

Acorda coberto de sangue.

O mar furioso devolve à praia
Alianças de casamento dos torpedeados

E a fotografia de um assassino,
Aos cinco anos — inocente — num velocípede.
Alguém parte o pão dos pássaros.
O ar espesso entre os sinos
Empurra o espanto das árvores.

Longas filas de homens e crianças
Caminham pelas mornas avenidas

Em busca de ração de sal, azeite e ódio.

E a morte vem recolher
A parte de lucidez

Que durante tanto tempo
Esconderá sob os véus.

Leia também: Cecília Meireles — uma das primeiras expressões femininas na poesia brasileira

Frases de Murilo Mendes

A seguir, leremos algumas frases de Murilo Mendes retiradas de seus livros A poesia em pânico e As metamorfoses. Portanto, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:

  • “Minha preguiça é maior que toda a caridade.”

  • “A edição que circula de mim pelas ruas foi feita sem o meu consentimento.”

  • “Tenho pena dos meus pais, que sacrificaram uma existência inteira pelo prazer de uma noite.”

  • “Eu vos deixo minha sede, nada mais tenho de meu.”

  • “Vou onde a poesia me chama.”

  • “O amor é minha biografia.”

  • “A poesia sopra onde quer.”

Crédito de imagem

[1] Editora Global (reprodução)

Por: Warley Souza

Artigos Relacionados

Últimas Aulas

Erosão
Muro de Berlim: da construção à queda
Reino Protista
Viagens no tempo: Mito ou verdade?
Todas as vídeo aulas

Versão completa