Metáfora

Metáfora é uma figura de linguagem ou de palavra caracterizada pela presença de uma analogia entre dois ou mais elementos do enunciado. No entanto, se houver uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa entre eles, tal analogia é definida como comparação, e não como metáfora. Portanto, a metáfora é uma comparação implícita usada em diversos gêneros textuais, tais como charge, tirinha, história em quadrinhos, propaganda etc.

Leia também: Como as figuras de linguagem são cobradas no Enem?

O que é uma metáfora?

Metáfora é uma figura de linguagem ou de palavra caracterizada pela analogia entre dois ou mais elementos. No entanto, essa analogia ocorre de maneira não explícita, isto é, sem a presença de uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa. Para que você entenda melhor, observe os seguintes exemplos:

A vida é uma estrada sinuosa.

No exemplo, a vida é comparada a uma estrada sinuosa. Assim, para entender a metáfora, é preciso associar as características de uma estrada sinuosa à vida de uma pessoa. É possível entender, então, que a vida é difícil e complexa. Afinal, uma estrada sinuosa é bem mais difícil e perigosa de percorrer do que uma estrada reta. Além disso, a metáfora em questão é considerada impura, já que apresenta, diretamente, os elementos de comparação.

Estou nesta estrada sinuosa há sessenta anos, mas logo chegarei ao meu destino.

Já nesse exemplo, é possível observar uma metáfora pura, pois apenas um elemento da comparação é mencionado. Isso exige mais do leitor ou ouvinte, já que, para identificar a metáfora, ele conta apenas com o contexto da enunciação e o seu conhecimento de mundo. Assim, se você sabe que o enunciador tem sessenta anos, é possível entender que a estrada sinuosa a que ele se refere é, na verdade, a vida e que o seu destino pode ser a morte.

A metáfora realiza uma comparação implícita entre dois ou mais elementos de um enunciado.

Usos da metáfora

A metáfora pode ser usada em diversos gêneros textuais. Vejamos um exemplo:

Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor.

Nesse soneto de Luís Vaz de Camões (1524-1580), há presença de metáforas impuras, pois o amor é comparado a fogo, ferida, contentamento, dor etc. Portanto, o entendimento do texto vai depender da forma como o leitor enxerga cada um desses elementos.

Acesse também: Quais as diferenças entre poema, poesia e soneto?

Diferenças entre metáfora e comparação

A figura de linguagem comparação, obrigatoriamente, precisa apresentar, entre os elementos comparados, uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa, ou seja, “como”, “qual”, “tal qual” etc.

  • pessoas que são como vinho, pois ficam melhores à medida que o tempo passa.
    (A conjunção “como” explicita a comparação entre “pessoas” e “vinho”.)
  • Esse repórter é feito urubu, sente o cheiro da morte.
    (A conjunção “feito” evidencia a comparação entre “repórter” e “urubu”.)

Já na figura de linguagem metáfora, não pode haver, entre os elementos comparados, uma conjunção ou locução conjuntiva comparativa.

  • Esse repórter é um urubu, sente o cheiro da morte.
    (Há uma comparação entre “repórter” e “urubu”, mas sem a presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa.)
  • “Duas safiras sobre lisa prata.”
    (Nesse verso de Gregório de Matos, há uma comparação implícita entre “safiras” e “olhos”.)

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (Enem)

Aquele bêbado

— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.

O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mario Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.

— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.

Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.

ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.

A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma

A) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.

B) aproximação exagerada da estética abstracionista.

C) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.

D) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.

E) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.

Resolução

Alternativa A. O caráter irônico (de humor ou zombaria) presente no texto se deve à metaforização do verbo “beber”, que perde seu sentido original, ou seja, ingerir um líquido, para assumir um sentido figurado, metafórico, isto é, beber (admirar, sentir prazer com) paisagens, músicas e versos.

Questão 2 – (Enem)

Labaredas nas trevas

Fragmentos do diário secreto de

Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski

20 DE JULHO [1912]

Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe”.

20 DE DEZEMBRO [1919]

Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo.

FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento).

Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de

A) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a consequência.

B) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas partes em questão.

C) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de circunstâncias apresentadas na outra.

D) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta uma orientação argumentativa distinta e oposta à outra.

E) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma.

Resolução

Alternativa B. A expressão metafórica “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal” se refere à passagem do tempo, pois a repetição dessa ação indica um período de tempo transcorrido entre 1912 e 1919.

Questão 3 – (Enem)

Aquarela

O corpo no cavalete
é um pássaro que agoniza
exausto do próprio grito.
As vísceras vasculhadas
principiam a contagem
regressiva.
No assoalho o sangue
se decompõe em matizes
que a brisa beija e balança:
o verde — de nossas matas
o amarelo — de nosso ouro
o azul — de nosso céu
o branco o negro o negro

CACASO. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.

Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando:

A) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura.

B) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado.

C) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura.

D) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e da violência.

E) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.

Resolução:

Alternativa D. O emblema nacional, isto é, a bandeira do Brasil, é assim mostrado por Cacaso: “No assoalho o sangue/ se decompõe em matizes/ que a brisa beija e balança:/ o verde — de nossas matas/ o amarelo — de nosso ouro/ o azul — de nosso céu/ o branco o negro o negro”. Assim, a bandeira é metáfora de Brasil, um país marcado pelo medo e pela violência da ditadura militar. 

Por: Warley Souza

Artigos Relacionados

Últimas Aulas

Como usar textos não verbais na dissertação
O que é eclipse? (Eclipse solar e lunar)
Maria Leopoldina de Áustria | Grandes Mulheres da História
Capacitores em paralelo
Todas as vídeo aulas

Versão completa