James Joyce

James Joyce (1882-1941) foi o fundador do “romance moderno”, e sua principal obra, Ulysses (1922), ainda é uma das mais famosas da literatura mundial.

Retrato de James Joyce, o escritor irlandês que fundou o romance moderno.

James Joyce foi um escritor irlandês de prosa e poesia. Ele é conhecido como um dos maiores autores do século XX e da história pela “fundação” do romance moderno. Essa nova forma permitiu narrativas não lineares, com foco no tempo psicológico e presença da subjetividade.

Sua obra-prima é o romance Ulysses (1922), uma adaptação modernizada do poema épico Odisseia, de Homero, que é uma das primeiras criações literárias de que se tem notícia. O autor e esse livro são celebrados anualmente no Bloomsday, na mesma data em que a história se passa e em vários lugares do mundo.

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Resumo sobre James Joyce

  • James Joyce nasceu na Irlanda em 1882.
  • Teve formação literária conservadora e simbolista.
  • O dia do primeiro encontro com sua esposa (16 de junho de 1904), Nora Barnacle, seria o mesmo usado na construção da sua obra-prima, Ulysses (1922).
  • Começou a publicar em 1907.
  • James Joyce e Nora Barnacle tiveram dois filhos.
  • Seguiu publicando até 1939.
  • James Joyce faleceu em 1941, com 58 anos.
  • É um dos maiores escritores do século XX.
  • É o fundador do romance moderno, que foca na subjetividade e no tempo psicológico.
  • Ainda é homenageado anualmente e mundialmente no Bloomsday, data que celebra o protagonista de Ulysses (1922).

Biografia de James Joyce

James Joyce nasceu em Dublin, capital da Irlanda, em 2 de fevereiro de 1882. Ele era o primogênito de uma família de dez filhos, que tinha boa condição financeira, mas acabou caindo na pobreza.

Ele teve uma ótima educação nas principais escolas jesuítas e entrou para a University College de Dublin. Essas primeiras referências fizeram com que ele tivesse contato com produções mais conservadoras na Literatura, como as dos simbolistas (movimento literário do fim do século XIX caracterizado pela subjetividade e pelas figuras de linguagem).

Em 1902, mudou-se para Paris com o intuito de estudar Medicina, mas logo focou na escrita literária. No ano seguinte, foi chamado de volta à sua cidade natal, pois sua mãe encontrava-se adoentada. Com a morte de sua mãe, sua carreira foi realmente indo em direção à Literatura.

Em 1904, conheceu Nora Barnacle, sua futura esposa. O dia do primeiro encontro do casal seria a inspiração para o dia em que se passa seu mais famoso romance, Ulysses, comemorado anualmente com o Bloomsday (em inglês, “dia de Bloom”, sobrenome do protagonista Leopold Bloom).

Nessa época, Joyce também foi professor de Inglês. Seu primeiro livro, Música de câmara, foi publicado em 1907. O casal se mudou para Trieste, no nordeste da Itália, onde ficou até 1915 (exceto por sete meses vividos em Roma). Ambos tiveram dois filhos, Lucia e Giorgio Joyce. Em 1914, Joyce publicou Dublinenses, um livro de contos, e começou a trabalhar na sua obra prima, Ulysses.

Com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a participação italiana, ele mudou-se para Zurique, na Suíça, onde ficou até 1919. Nesse período, publicou Um retrato do artista quando jovem (1916) e a peça Exilados (1918). Após o fim do conflito, Joyce mudou-se para Paris para facilitar a publicação de Ulysses, o que conseguiu no ano de 1922, oito anos depois do início do trabalho na obra. Essa narrativa deu-lhe reconhecimento internacional muito rapidamente e, até os dias atuais, continua muito famosa.

Seu próximo livro veio em 1939, Finnegans Wake, no qual trabalhava há 17 anos. Após o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), James morou na França até o fim de 1940, quando conseguiu uma permissão para voltar para Zurique. Morreu em Zurique, em 13 de janeiro de 1941, com 58 anos.

→ Legado de James Joyce

James Joyce é tido como um dos maiores escritores do século XX. Tal feito é majoritariamente devido à sua obra Ulysses, considerada a fundadora do romance moderno e o maior romance em língua inglesa do século.

Além de influenciar diversos artistas posteriores, Joyce inspirou o uso do termo quark na Física, que define um tipo de partícula elementar, por meio da frase “Three quarks for Muster Mark!” (que significa algo como “Três quartos (de cerveja) para o Senhor Mark!”), usada em Finnegans Wake (1939). 

O autor ainda é homenageado anualmente no Bloomsday — ou dia de Bloom, em português, em alusão ao sobrenome do protagonista de Ulysses. A primeira comemoração aconteceu em 1924, quando amigos fizeram uma festa para o escritor, que enfrentava problemas de saúde. Desde 1954, a festa ocorre regularmente em Dublin e, atualmente, também pode ser encontrada em Nova York, Washington, Melbourne, Sydney e São Paulo, com muitos fãs celebrando as criações de Joyce.

Quais são as características da obra de James Joyce?

Os elementos presentes nas obras de James Joyce são os seguintes:

  • individualidade;
  • subjetividade;
  • tempo psicológico;
  • fluxo de consciência;
  • temas cotidianos ou triviais;
  • olhar aguçado para detalhes;
  • foco em espaços urbanos e em sua cidade natal.

Vale destacar que James Joyce foi o fundador do romance moderno, fato que se deu com a publicação de sua obra-prima, Ulysses. O romance moderno permite a não linearidade da narrativa, menor compromisso com a representação da realidade ou a negação dela, foco no individual e nas simbologias e uso de diferentes perspectivas. Presente, passado e futuro fundem-se em um “tempo psicológico”, e o espaço também parece perder importância para a subjetividade.

Obras de James Joyce

  • Música de câmara (1907)
  • Dublinenses (1914)
  • Um retrato do artista quando jovem (1916)
  • Exilados (1918)
  • Ulysses (1922)
  • Pomas, um tostão cada (1927)
  • Finnegans Wake (1939)
  • Stephen herói (1944) (póstuma)
  • Giacomo Joyce (1968) (póstuma)
  • Finn’s Hotel (2013) (póstuma)

Análise da obra Ulysses, de James Joyce

Foto da primeira edição da obra Ulysses, de James Joyce, lançada em 1922. [1]

O romance Ulysses (ou Ulisses) é a grande obra de Joyce e o maior livro em língua inglesa do século XX. A narrativa tem como protagonista Leopold Bloom, um agente de publicidade irlandês e judeu que está viajando por Dublin. A história em si mostra a busca de Leopold Bloom por seu filho e o adultério cometido naquele dia.

Entretanto, o livro é inspirado no poema épico Odisseia, de Homero, uma das primeiras criações literárias de que se tem notícia, escrita na Antiguidade grega. O poema retrata a jornada de Ulisses, um herói grego combatente na Guerra de Troia que tenta voltar para sua casa em Ítaca, onde era rei.

Assim, James Joyce adapta e moderniza a viagem do Ulisses de Homero, condensando seus 20 anos originais em pouco mais de 24 horas. Ulysses se passa no dia 16 de junho de 1904, o mesmo dia em que Joyce teve seu primeiro encontro com Nora Barnacle, que se tornou sua esposa e foi a inspiração da personagem Molly Bloom.

Os três personagens principais da trama são relações diretas com a obra de Homero. Leopold Bloom representa Ulisses, Molly Bloom representa Penélope, a esposa que espera 20 anos por Ulisses, e Stephen Dedalus representa Telêmaco, o filho do casal. Além disso, o livro é organizado em 18 episódios, seis a menos do que a Odisseia.

A principal característica desse romance moderno é o uso do discurso indireto livre, no qual o narrador é quem transmite o fluxo de consciência do personagem. Joyce escolheu fazer a representação de um “microcosmos”, ou seja, o universo de um grupo pequeno de pessoas, e isso lhe permitiu tratar dessas individualidades, com suas insatisfações, problemas, necessidades, sentimentos e pensamentos. Joyce, ao mesmo tempo, estabeleceu um diálogo com o realismo, pois a narrativa se direciona a uma conclusão e não é construída de forma idealizada.

Além disso, a obra também tem forte ligação com o momento sócio-histórico. Como se passa no ano de 1904, Mariana Bolfarine, doutora em Literatura, afirma que a obra é “um memorial dos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, contendo nas suas linhas e entrelinhas os conflitos de identidade, religião e nação vivenciados pela Irlanda no início do século 20”.|1|

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Poemas de James Joyce

O primeiro livro de poesia publicado por James Joyce foi Música de câmara (1907). Entretanto, ele foi precedido por duas coletâneas, Moods e Light and Dark, ambas destruídas pelo autor e das quais restaram apenas fragmentos.

Em sua primeira obra, o autor demonstrou as influências de sua infância conservadora e simbolista com toda a musicalidade, ritmo e cuidado na construção dos versos. Ezra Pound (1885-1972), poeta contemporâneo ao autor, elogiou-o “em consideração ao acabamento típico de mármore talhado à perfeição, e no interesse dos ritmos, do cruzamento do acento e da palavra, como de um vento forte, cortando a tênue ondulação da água cristalina”.|2|

Um exemplo desse estilo é o poema I:

Cordas na terra e no ar
Meiga música compõem;
Cordas junto ao rio, lugar
Onde se unem os chorões.

Há música pelo rio —
É Amor, vagueando à toa;
Pálidas flores no manto,
Folhas negras em coroa.

Suavíssimo tocando,
A fronte à música pendente,
E os dedos deslizando
Num instrumento.

Os temas simbolistas da natureza, amor e suavidade ficam bem claros. Além disso, o autor trata da composição musical referindo-se à sua própria visão da composição poética, meiga e suave, mas muito bem construída.

Frases de James Joyce

  • “Bem-vinda, oh vida! Eu vou encontrar pela milionésima vez a realidade da experiência e forjar na forja da minha alma a consciência incriada da minha raça.” (Um retrato do artista quando jovem)
  • “O sucesso para nós é a morte do intelecto e da imaginação. Nunca fomos leais aos que tiveram êxito.” (Ulysses)
  • “A natureza abomina o vazio.” (Ulysses)
  • “Caminhamos através de nós próprios e encontramos ladrões, fantasmas, gigantes, velhos, jovens, esposas, viúvas, cunhados, mas acabamos sempre por a nós próprios nos encontramos.” (Ulysses)
  • “Os gênios não cometem erros. Os seus erros são sempre voluntários e dão origem a alguma descoberta.” (Ulysses)

Notas

|1| ELIAS, A. “Ulisses”, de James Joyce, é publicado. Disponível aqui.

|2| JOYCE, J. Música de câmara. Exilado Livros, 2013.

Crédito de imagem

[1] Geoffrey Barker / Wikimedia Commons (reprodução)

Por: Luiza Pezzotti Pugles

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