Francisca Júlia

Francisca Júlia da Silva é uma conhecida poetisa cujas obras estão inseridas no parnasianismo brasileiro. Sua obra mais famosa é o livro de poesias Mármores.

Capa do livro Francisca Júlia – Revisitada, organizado pelo professor Carlos Augusto de Melo e publicado pela Editora Subsolo. [1]

Francisca Júlia foi uma poetisa brasileira. Ela nasceu em 31 de agosto de 1871, na cidade paulista de Eldorado. Com apenas 14 anos de idade, começou a escrever versos. E chamou a atenção ao publicar seus primeiros poemas. Devido à sua objetividade poética, ficou conhecida como a Musa Impassível.

A poetisa, que faleceu em 1º de novembro de 1920, na cidade de São Paulo, é a principal representante feminina do parnasianismo brasileiro. Seus poemas apresentam rigor formal, descritivismo e referências greco-latinas, como é possível observar em sua obra mais conhecida, ou seja, o livro Mármores.

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Resumo sobre Francisca Júlia

  • A autora brasileira Francisca Júlia nasceu em 1871 e faleceu em 1920.

  • Além de escritora, também foi professora particular de piano.

  • A poetisa é o principal nome feminino do parnasianismo brasileiro.

  • Seus textos são marcados pelo rigor formal e pela objetividade.

  • Sua obra mais famosa é o livro de poesias Mármores.

Videoaula sobre Francisca Júlia

Biografia de Francisca Júlia

Francisca Júlia da Silva nasceu em 31 de agosto de 1871, na cidade de Eldorado, no estado de São Paulo. Sua mãe era professora; e seu pai, advogado. Foi educada para a vida doméstica, como era comum na época. Mas a mãe também a ensinou a ler e a escrever. Com 14 anos de idade, começou a escrever poesia.

A sua mudança para São Paulo ocorreu aproximadamente em 1880. Mais tarde, em 1891, O Estado de S. Paulo publicou um poema da autora, o soneto Quadro incompleto. Ela também escreveu para periódicos como Correio Paulistano, Diário Popular, além dos cariocas O Álbum e A Semana.

A poetisa se tornou uma das raras escritoras brasileiras a ter alguma visibilidade no final do século XIX. Porém, o jornalista João Ribeiro (1860-1934) duvidou de que uma mulher fosse capaz de escrever poemas tão racionalmente parnasianos e sugeriu que a verdadeira autoria de alguns dos poemas da escritora era de Raimundo Correia (1859-1911).

Preconceitos à parte, ela recebeu elogios, inclusive, do parnasiano Olavo Bilac (1865-1918) e do realista Machado de Assis (1839-1908). Mas, no ano de 1906, Francisca Júlia decidiu se mudar para a cidade de Cabreúva, onde a mãe trabalhava como professora. Lá, deu aulas particulares de piano.

Em 1908, ela e a mãe foram morar na cidade de São Paulo. Ali, Francisca Júlia se casou, no início de 1909, com o telegrafista Filadelfo Edmundo Münster (1865-1920). Então, a autora passou a se interessar por questões místicas, além de se dedicar às tarefas domésticas, deixando a poesia em segundo plano.

Em 1914, a saúde da autora começou a apresentar problemas. Ela padecia de uma doença que lhe causava alucinações. Francisca Júlia passou a acreditar que a morte estava próxima. Então, o marido adoeceu, em 1916, e iniciou tratamento contra a tuberculose, sem sucesso. Surpreendentemente, a poetisa morreu no dia do enterro do marido, em 1 de novembro de 1920, em São Paulo, de causas misteriosas.

Características literárias de Francisca Júlia

Francisca Júlia é uma poetisa do parnasianismo brasileiro. Sua poesia, portanto, apresenta as seguintes características:

  • rigor formal;

  • linguagem objetiva;

  • antirromantismo;

  • caráter descritivo;

  • alienação social;

  • distanciamento da voz poética;

  • referências greco-latinas.

Principais obras de Francisca Júlia

  • Mármores (1895)

  • Livro da infância (1899)

  • Esfinges (1903)

Análise da obra Mármores, de Francisca Júlia

Capa do livro Mármores, de Francisca Júlia, publicado pela Biblioteca do Senado Federal. [2]

Mármores|1| é o livro mais famoso de Francisca Júlia. Com sua publicação, a poetisa passou a ser conhecida como a Musa Impassível. Aliás, “Musa impassível” é o título de um dos sonetos dessa obra. Escrito em versos alexandrinos (12 sílabas poéticas), ele descreve uma musa impassível, ou seja, sem emoções. Por isso, o poema acaba sendo um símbolo do antissentimentalismo parnasiano.

Não devemos esquecer que, segundo a tradição greco-latina, a musa tem a função de inspirar os poetas. Assim, o eu lírico (voz que enuncia o poema) mostra uma musa com um semblante frio e o olhar austero. Ela também não chora, não canta o amor. Tal musa celebra os heróis da Antiguidade. E é capaz de inspirar o eu lírico a produzir versos rigorosamente perfeitos:

Musa! Um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante.
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.

Inverno” é outro exemplo de soneto da obra Mármores. Também composto por versos alexandrinos, o poema é dedicado ao escritor João Luso. E descreve uma paisagem repleta de “vida e amor”. Porém, o poema assume um tom melancólico quando mostra que, com a chegada do inverno, “vida e amor foram-se em breve”:

Outrora, quanta vida e amor nestas formosas
Ribas! Quão verde e fresca esta planície, quando,
Debatendo-se no ar, os pássaros, em bando,
O ar enchia de sons e queixas misteriosas!

Tudo era vida e amor. As árvores copiosas
Mexiam-se, de manso, ao resfolego brando
Da brisa que passava em tudo derramando
O perfume sutil dos cravos e das rosas...

Mas veio o inverno; e vida e amor foram-se em breve.
O ar se encheu de rumor e de uivos desolados...
As árvores do campo, enroupadas de neve,

Sob o látego atroz da invernia que corta,
São esqueletos que, de braços levantados,
Vão pedindo socorro à primavera morta.

Poemas de Francisca Júlia

É do livro Esfinges|2| o soneto “Anfitrite”. O título se refere a uma deusa do mar; portanto, uma referência greco-latina. Em versos alexandrinos, o poema descreve um mar agitado pelo vento. Após o vento sossegar, o oceano recebe a bela Anfitrite:

Louco, às doudas, roncando, em látegos, ufano,
O vento o seu furor colérico passeia...
Enruga e torce o manto à prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.

A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
Grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
Perdida ao longe, como um pássaro que anseia,
Alva e esguia, uma nau avança a todo o pano.

Sossega o vento; cala o oceano a sua mágoa;
Surge, esplêndida e vem, envolta em áurea bruma,
Anfitrite; e, a sorrir, nadando à tona d’água,

Lá vai... mostrando à luz suas formas redondas,
Sua clara nudez salpicada de espuma,
Deslizando no glauco amículo das ondas.

Outro soneto do livro Esfinges é “Os argonautas”, o qual traz mais uma referência mitológica. Pois, em versos alexandrinos, ele fala sobre os tripulantes da nau Argo, que buscavam o velocino de ouro:

Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;
Os astros e o luar — amigas sentinelas —
Lançam bênçãos de cima às largas caravelas
Que rasgam fortemente a vastidão do oceano.

Ei-los que vão buscar noutras paragens belas
Infindos cabedais de algum tesouro arcano...
E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,
Faz palpitar o bojo às retesadas velas.

Novos céus querem ver, miríficas belezas;
Querem também possuir tesouros e riquezas
Como essas naus que têm galhardetes e mastros,

Ateiam-lhes a febre essas minas supostas...
E, olhos fitos no vácuo, imploram, de mãos postas,
A áurea bênção dos céus e a proteção dos astros...

Veja também: Cinco poemas de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas da língua portuguesa

Homenagens a Francisca Júlia

Escultura Musa impassível, obra de Victor Brecheret inspirada no livro Mármores. [3]
  • Rua Francisca Júlia, na cidade de São Paulo.

  • Escultura Musa impassível, de Victor Brecheret (1894-1955).

  • Tal escultura foi colocada sobre o túmulo da poetisa.

Notas

|1| SILVA, Francisca Júlia da. Mármores. Brasília: Senado Federal, 2020. (Coleção Escritoras do Brasil).

|2| SILVA, Francisca Júlia da. Esfinges. São Paulo: Bentley Júnior & Comp., 1903.

Créditos de imagem

[1] Editora Subsolo (reprodução)

[2] Senado Federal (reprodução)

[3] Gabriel Fernandes / Wikimedia Commons (reprodução)

Por: Warley Souza

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