As Figuras de Pensamento são recursos estilísticos de uso da linguagem, os quais provocam alterações no campo semântico das palavras e das expressões.
Quando provocamos alterações no campo semântico ao manipularmos os sentidos das palavras e expressões, criamos as Figuras de Pensamento, as quais representam uma das quatro classificações das Figuras de Linguagem e subdividem-se em: Ironia, Antítese, Paradoxo, Eufemismo, Hipérbole, Prosopopeia ou Personificação, Apóstrofe e Gradação. Leia abaixo a definição e alguns exemplos de cada uma delas:
→ IRONIA
A Ironia é o efeito do uso de palavras ou expressões que, em contextos específicos, ganham sentido oposto ao original. Quando utilizamos a ironia, estamos dizendo o contrário do que pretendemos e/ou satirizando algum pensamento.
Na fala, a ironia costuma ser marcada por uma prosódia particular, ou seja, entonação exagerada, aumento ou diminuição da altura da voz para que possa ser sinalizada para o receptor da mensagem. Essa Figura de Pensamento é um recurso utilizado com muita frequência em diferentes tipos e gêneros discursivos textuais com os quais temos contato diariamente, como nos textos publicitários e literários. Machado de Assis é um escritor brasileiro que adota esse recurso em grande parte de suas obras, dirigindo um olhar claramente irônico à sociedade burguesa do final do século XIX e início do século XX.
Observe o exemplo:
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“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”. Personagem 'Brás Cubas', no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis.
Veja outros exemplos:
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Você se saiu muito bem no último concurso. Não conseguiu alcançar nem a nota mínima!
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Parece um anjinho aquela garota, não obedece a ninguém...
→ ANTÍTESE
Consiste na associação de ideias contrárias por meio da associação e/ou aproximação de palavras com sentidos opostos e que contrastam entre si. Esse recurso também é bastante utilizado em textos literários.
Observe os exemplos:
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Quando o dinheiro é muito, o caráter é pouco.
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“E a Palavra pesada abafa a ideia leve”. (Olavo Bilac, poeta brasileiro parnasiano)
→ PARADOXO
Assim como a antítese, o paradoxo também consiste na associação de termos contraditórios. A diferença entre eles pode ser claramente observada, já que na antítese temos duas ideias distintas e que se opõem; no paradoxo, temos a oposição de uma mesma ideia. Isso significa que o paradoxo aborda uma proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias.
Observe os exemplos:
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Depois que aprendi a fingir sinceramente, me sinto mais feliz.
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Quanto mais eu trabalho, mais tenho dificuldades financeiras.
→ EUFEMISMO
Utilizamos o eufemismo quando desejamos evitar o uso de palavras ou expressões desagradáveis, impactantes e/ou fortes e optamos por substituí-las por outras mais suaves. Geralmente, recorremos ao eufemismo para comunicar alguma notícia e/ou informação desagradável. Isso significa que, quando utilizamos esse recurso de linguagem, estamos atenuando uma ideia original.
Observe os exemplos:
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Após anos de sofrimento, ele partiu dessa para uma melhor. (Ele morreu)
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O policial ficou milionário por intermédio de meios ilícitos. (O policial roubou)
→ HIPÉRBOLE
A hipérbole é uma expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar alguma ideia. Isso significa que todas as vezes que nos referimos a algo de modo exagerado, criamos uma hipérbole.
Observe os exemplos:
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Quase morri de tanto rir.
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Farei isso um trilhão de vezes se preciso for.
→ PROSOPOPEIA OU PERSONIFICAÇÃO
Consiste na atribuição de características humanas a outros animais e/ou objetos inanimados.
Observe os exemplos:
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Meu chapéu ficará desapontado se você se recusar a usar.
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O tempo anda vagarosamente.
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O vento grita e eu me calo.
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Chora, viola, assobia, violão!
→ APÓSTROFE
Trata-se de um recurso de linguagem bastante utilizado no gênero discursivo poema. A Apóstrofe consiste na interpelação de pessoas ou de algum objeto real ou imaginário como uma forma de enfatizar uma ideia ou expressão. Desse modo, a apóstrofe caracteriza-se pela invocação do receptor da mensagem, destacando ou colocando em evidência a pessoa, a ideia ou a expressão. A apóstrofe realiza-se por meio do vocativo.
Observe o trecho de um poema de Castro Alves:
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em q'estrela tu t'escondes?
Embuçado nos céus?
Há dois ml anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
→ GRADAÇÃO
A gradação ocorre quando criamos uma sequência de palavras ou expressões gerando uma ideia de progressões ascendentes ou descendentes. De modo geral, consiste na disposição de ideias por meio de palavras, sinônimas ou não, em ordem crescente ou decrescente. Quando a progressão é ascendente, chamamos de 'clímax'; quando a progressão é descendente, chamamos de 'anticlímax'.
Observe estes exemplos:
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"Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu amor". (Olavo Bilac)
Como você pôde observar, as Figuras de Pensamento são importantes recursos de estilo de linguagem, as quais são utilizadas com bastante frequência nas obras literárias e entre os falantes da Língua Portuguesa.
Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto: