Vícios de linguagem

Vícios de linguagem são desvios que prejudicam a clareza da comunicação. Alguns deles são a ambiguidade, a cacofonia, o pleonasmo e o preciosismo.

Os vícios de linguagem prejudicam a clareza da comunicação. (Créditos: Gabriel Franco | PrePara Enem)

Vícios de linguagem são desvios da norma padrão que prejudicam a clareza e qualidade da comunicação, ocorrendo tanto na fala quanto na escrita. Eles podem surgir por desconhecimento gramatical, uso inadequado de expressões e repetição de palavras, comprometendo a expressão do pensamento. Compreender esses vícios e aprender a evitá-los ajuda a construir uma comunicação mais eficaz e precisa.

Leia também: Quais são as funções da linguagem?

Resumo sobre vícios de linguagem

  • Vícios de linguagem são desvios da norma gramatical que afetam a clareza da comunicação e comprometem a correção da linguagem falada e escrita.
  • Os principais tipos de vícios de linguagem são os seguintes:
    • ambiguidade;
    • arcaísmo;
    • barbarismo;
    • cacofonia;
    • colisão;
    • eco;
    • solecismo;
    • preciosismo;
    • plebeísmo;
    • pleonasmo vicioso ou redundância;
    • estrangeirismo;
    • prolixidade
  • Conhecer os vícios de linguagem ajuda a construir um discurso claro e eficaz.

O que é vício de linguagem?

Vício de linguagem é um desvio que compromete a clareza e a eficácia do discurso. Esses desvios podem ocorrer por desconhecimento da norma ou pela escolha de expressões inadequadas, refletindo dificuldades na expressão clara do pensamento. Eles incluem tanto erros gramaticais quanto construções que confundem ou deixam o discurso impreciso.

Quais são os principais vícios de linguagem?

Os principais vícios de linguagem incluem a ambiguidade, o arcaísmo, o barbarismo, a cacofonia, a colisão, o eco, o solecismo, o preciosismo, o plebeísmo, a redundância (ou pleonasmo vicioso), o estrangeirismo e a prolixidade. No tópico a seguir, você encontrará uma breve explicação e exemplos desses vícios, bem como formas de evitar o seu uso na linguagem falada e escrita.

Importante: Se abrirmos duas ou mais gramáticas tradicionais, poderemos fazer uma lista com 15 a 30 vícios de linguagem diferentes. Alguns gramáticos dão nomes diferentes para o mesmo e único vício (é o caso de pleonasmo, redundância e tautologia; ou de ambiguidade e anfibologia; bem como de cacofonia e cacófato) ou englobam numa única categoria dois vícios semelhantes ou próximos (caso de barbarismo e estrangeirismo).

Tipos de vícios de linguagem

→ Ambiguidade

Ambiguidade é um vício que ocorre quando uma frase permite mais de uma interpretação, confundindo o sentido.

  • Exemplo: “Ela viu o pai da amiga que chorava.”
  • Problema: Quem estava chorando: o pai ou a amiga?
  • Correção: “Ela viu o pai da amiga, o qual estava chorando.”

Para saber mais sobre ambiguidade, clique aqui.

→ Arcaísmo

Arcaísmo é a utilização de palavras ou expressões antigas, não mais usadas, e que dificultam a compreensão.

  • Exemplo: “Saiu assim que veio o albor.”
  • Correção: “Saiu assim que veio o amanhecer.”

→ Barbarismo

Barbarismo são erros na forma, ortografia, sentido ou pronúncia das palavras.

  • Exemplos:Menas pessoas vieram”; “Essa receita pede três ovos” (/ôvos/).
  • Problema: “Menos” é uma palavra invariável; o “o” inicial fechado de ovo no singular torna-se aberto quando passa para o plural ovos.
  • Correção:Menos pessoas vieram.”; “Essa receita pede três ovos” (/óvos/).

→ Cacofonia

Cacofonia é a união de sons que formam uma expressão indesejada, ambígua ou desagradável.

  • Exemplos: “Vou-me já.”; “Ela tinha a resposta na boca dela.”
  • Problema: Em “Vou-me já”, o som produzido é o da expressão vulgar para “vou urinar”; em “Ela tinha a resposta na boca dela”, a união dos sons resulta no diminutivo de lata “É latinha”, bem como no legume e no feminino de cão “nabo cadela”.
  • Correção: “Vou agora’ ou ‘Já vou”; “Ela tinha a resposta na ponta da língua”.

→ Colisão

Colisão é a repetição de sons semelhantes próximos, criando uma sonoridade desagradável.

  • Exemplo: “Soltos e solitários sons soaram.”
  • Problema: A repetição excessiva e sequencial da consoante “s”, criando um forte chiado ou o som sibilante de uma cobra.
  • Correção: “Diversos sons aqui e ali surgiram ao mesmo tempo.”

→ Eco

Eco é a repetição sonora no fim das palavras criando uma sequência incômoda ou desnecessária.

  • Exemplo: “Os prêmios dados nos quinquênios são esquemas cheios de problemas.”
  • Problema: As rimas acidentais nessa frase desviam a atenção do sentido da frase para a sonoridade em si da frase, prejudicando a comunicação.
  • Correção: “Os prêmios dados ao fim de cada quinquênio têm recebido muitas denúncias sobre problemas de desvios e esquemas de favorecimentos, causando problemas de imagem e credibilidade para a empresa.”

→ Solecismo

Solecismo são erros de concordância, regência ou colocação pronominal.

  • Exemplo: “Fazem dez anos”; “Não avisaram-lhe que o pai estava no hospital”.
  • Problema: O verbo fazer no sentido de tempo é impessoal, sendo, portanto, invariável. Palavras negativas como não, nada e ninguém obrigam o uso da próclise, com o pronome oblíquo antes do verbo.
  • Correção: “Faz dez anos.”; “Não lhe avisaram que o pai estava no hospital”.

→ Preciosismo

Preciosismo é o uso excessivo de palavras rebuscadas, dificultando o entendimento.

  • Exemplo: “O padrão pluviométrico do mês permanecerá irredutível.”
  • Problema: Um vocabulário amplo, variado e preciso é muito importante, especialmente em textos técnicos. Num texto, porém, destinado a uma audiência de leigos, uma linguagem mais simples e acessível, que explique os termos técnicos inevitáveis, é muito mais eficiente para alcançar um público maior.
  • Correção: “O padrão pluviométrico, isto é, de chuvas, não sofrerá mudanças ao longo do mês.”

→ Plebeísmo

Plebeísmo é o uso de expressões consideradas vulgares ou informais em contexto formal.

  • Exemplo: “Estou pouco me lixando para os projetos de m* dele!”
  • Problema: Embora seja aceitável numa conversa entre amigos ou colegas próximos numa situação informal como uma conversa numa mesa de bar, o uso de expressões como as da frase anterior para expressar uma opinião negativa é inaceitável num ambiente formal como o cotidiano de uma empresa, uma palestra para o grande público ou um e-mail de negócios, que deve primar pelo máximo de objetividade civilidade.
  • Correção: “Tenho pouco entusiasmo com os projetos dele, que julgo precisarem de um maior planejamento e serem pouco eficientes para atender às necessidades da empresa.”

→ Pleonasmo vicioso ou redudância

Pleonasmo vicioso ou redudância é o uso de duas ou mais palavras para marcar um reforço ou repetição desnecessária de uma ideia.

  • Exemplos: “Subir para cima”; “Elo de ligação”.
  • Problema: “Subir” já implica um movimento para cima; elo, por definição, é um elemento de ligação ou conexão entre dois objetos, processos etc. O uso das expressões adicionais nos exemplos anteriores nada acrescenta à comunicação das ideias pretendidas.
  • Correção: Subir”; “Elo”.

Para saber mais sobre pleonasmo vicioso ou redundância, clique aqui.

→ Estrangeirismo

Estrangeirismo é o uso excessivo ou desnecessário de palavras estrangeiras em vez de termos em português.

  • Exemplo: “Fez um upgrade no currículo para se candidatar a mais job openings.”
  • Problema: Alguns estrangeirismos são amplamente usados ou quase inevitáveis na comunicação do dia a dia ou em alguns setores de trabalho, como um upgrade de memória no computador, trabalho de copywriter etc. A mera troca, porém, de palavras portuguesas por estrangeirismos, quando existe um equivalente perfeito, ultraconhecido ou mesmo melhor em nosso idioma, deve ser evitada na comunicação oral ou escrita.
  • Correção: “Ele melhorou o currículo para se candidatar a mais vagas de empregos.”

Para saber mais sobre estrangeirismo, clique aqui.

→ Prolixidade

Prolixidade é o uso de palavras ou expressões em excesso, tornando o discurso cansativo.

  • Exemplo: “Ele informou de forma explícita que se dirigirá pessoalmente numa data posterior ao local do evento para apresentar a devida narração dos fatos reais ocorridos.”
  • Problema: Uma frase como essa pode parecer culta e precisa, mas na verdade é apenas um amontoado de palavras e expressões vagas que nada comunicam de fato, escolhendo duas ou mais palavras para expressar o que bem poderia ser dito com menos palavras.
  • Correção: “Ele avisou que irá ao local para relatar os fatos.”

Vícios de linguagem x cacofonia

Embora a cacofonia seja um tipo de vício de linguagem, ela é uma categoria específica que se refere a uma combinação de sons que produz um sentido ou som inadequado e indesejado. A cacofonia ocorre quando duas palavras juntas formam uma sonoridade incômoda, como “uma mão” (que soa como “o mamão”). Ao contrário de outros vícios frequentes na linguagem escrita, a cacofonia é uma questão de sonoridade, sendo mais comum na fala. Ela deve ser evitada para não causar desconforto no ouvinte e atrapalhar a comunicação.

Qualidades essenciais e acidentais da linguagem

Na construção da comunicação, é importante distinguir entre qualidades essenciais e acidentais da linguagem:

  • Qualidades essenciais (clareza, eficiência, exatidão etc.): são aquelas que tornam a mensagem clara, precisa e coesa, como a correção gramatical e o uso adequado de vocabulário.
  • Qualidades acidentais (elegância, beleza, sonoridade etc.): embora menos críticas, são aquelas que podem tornar o discurso mais interessante, como o uso de figuras de linguagem, mas que não chegam a interferir na clareza e objetividade do texto.

Evitar vícios de linguagem é uma forma de garantir que as qualidades essenciais da comunicação prevaleçam.

Como evitar os vícios de linguagem?

  1. Releia sempre o texto, preferencialmente em voz alta: isso ajuda a identificar cacofonias, colisões, solecismos e ecos.
  2. Evite redundâncias, plebeísmos e barbarismos e prolixidades: busque termos precisos, elegantes, corretos e sem repetições desnecessárias.
  3. Opte por um português atual e natural: substitua termos estrangeiros, preciosos, sempre que possível.
  4. Verifique a clareza: escolha palavras claras, simples e diretas, evitando ambiguidades, arcaísmos e preciosismos.

Veja também: Quais são as figuras de linguagem?

Exercícios resolvidos sobre vícios de linguagem

Questão 1

Assinale a alternativa que apresenta um pleonasmo vicioso:

A) “Ela subiu para cima do prédio.”
B) “Ela disse à amiga que gostava dele.”
C) “Vou agora.”
D) “Ele cumprimentou a todos.”

Resolução:

Alternativa A.

“Subir para cima” repete a ideia de “subir”, caracterizando pleonasmo vicioso. As demais opções não apresentam redundância.

Questão 2

A frase “Vou-me já para casa” apresenta qual vício de linguagem?

A) Solecismo
B) Cacofonia
C) Ambiguidade
D) Barbarismo

Resolução:

Alternativa B.

A junção de “vou-me” e “já” cria um som similar à forma vulgar para “urinar”, caracterizando cacofonia. As outras opções não descrevem esse tipo de vício.

Questão 3

Complete a frase com o termo que gera ambiguidade: “Ele disse para a amiga que ___ voltaria.”

A) não
B) ele
C) talvez
D) nunca

Resolução:

Alternativa A.

“Não” gera ambiguidade sobre quem voltaria (ele ou a amiga?), enquanto as outras opções são mais diretas.

Questão 4

Qual das alternativas abaixo apresenta um solecismo?

A) “Ela subiu para cima.”
B) “Ele assistiu o filme.”
C) “Vou agora.”
D) “Ele cumprimentou a amiga.”

Resolução:

Alternativa B.

“Assistiu o filme” apresenta erro de regência verbal, sendo correto “assistiu ao filme.”

Questão 5

Identifique a frase com um barbarismo:

A) “Menas pessoas vieram.”
B) “Ela subiu para cima.”
C) “Vou embora agora.”
D) “Ele estudou muito.”

Resolução:

Alternativa A.

“Menas” é incorreto e representa barbarismo; o correto seria “menos.”

Fontes

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CEREJA, William; VIANNA, Carolina Dias. Gramática: texto, reflexão e uso. Volume único. São Paulo: Atual, 2020.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

KURY, Adriano da Gama. Português Básico e Essencial. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013.

PESTANA, Fernando. A Gramática para Concursos Públicos: um guia completo e prático. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019.

Por: Walter Mendes

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