Euclides da Cunha

Euclides da Cunha é um dos grandes nomes da Literatura brasileira. Sua obra-prima, Os sertões, é considerada como sendo “a Bíblia da nacionalidade brasileira”.

A obra-prima de Euclides da Cunha é Os Sertões

Euclides Rodrigues da Cunha nasceu no dia 20 de janeiro de 1866, no arraial de Santa Rita do Rio Negro (atualmente "Euclidelândia"), município de Cantagalo, então província do Rio de Janeiro, em uma fazenda chamada 'Saudade'. Filho dos agricultores Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha, ficou órfão de mãe aos três anos de idade e passou a viver com avós e tios em Teresópolis, São Fidélis e na capital, Rio de Janeiro.

Euclides da Cunha era grande admirador da obra de Victor Hugo, poeta e dramaturgo francês, e também de outros estudiosos, como Charles Darwin, Auguste Comte, Hippolyte Taine, entre outros, como referências científicas para a interpretação da realidade. Outros grandes pensadores sociais que influenciaram seus estudos foram Karl Marx e Émile Durkeim, ambos autores contribuíram significativamente para as produções jornalística e literária de Euclides da Cunha, sobretudo para fazer sua análise do sertão, do sertanejo e da Guerra de Canudos.

Formação e atuação militar

Em 1883, Euclides da Cunha ingressou no Colégio Aquino e foi aluno de Benjamin Constant, o qual teve bastante influência em sua formação, apresentando-lhe a filosofia positivista.

Em 1885, ingressou na Escola Politécnica e, em 1886, foi novamente aluno de Constant na Escola Militar da Praia Vermelha. Em 1888, contagiado pelas causas republicanas, Euclides da Cunha atirou sua espada aos pés do Ministro de Guerra, Tomás Coelho. Por causa do ocorrido, foi julgado pelo Conselho de Disciplina e desligado do Exército. Entretanto, com a Proclamação da República, em 1889, Euclides foi reintegrado ao Exército e ingressou na Escola Superior de Guerra, tornando-se primeiro-tenente e bacharel em Matemática, Ciências físicas e naturais.

Em 1890, Euclides da Cunha casou-se com Ana Emília Ribeiro, que tinha 15 anos e era filha do Major Sólon Ribeiro, um dos líderes da Proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e passou a atuar profissionalmente como coadjuvante de ensino na Escola Militar.

Em 1893, nasceu o seu primeiro filho, Sólon da Cunha. No ano seguinte, Euclides publicou duas cartas ao jornal Gazeta de Notícias, nas quais defendia o Estado Democrático, em oposição à violência defendida pelo senador cearense, João Coerdeiro, o qual reivindicava penas mais severas aos adversários políticos. Por esse motivo, Euclides da Cunha passou a ser visto com desconfiança pelos legalistas e foi “exilado” para Minas Gerais, para atuar na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1895, nasceu Euclides Filho, seu segundo rebento.

Correspondente de jornalismo e engenheiro civil

Em 1896, Euclides da Cunha afastou-se do Exército para trabalhar em São Paulo como superintendente de obras públicas e passou a colaborar como correspondente do jornal O Estado de São Paulo. No ano seguinte, Euclides foi convidado pelo jornalista Júlio de Mesquita para registrar as operações do Exército na Guerra de Canudos, no sertão baiano, em um município conhecido como Arraial de Belo Monte, localizado entre o Polígono das Secas e o vale do Rio Vaza-Barris. Após aceitar o cargo de correspondente, foi nomeado adido ao Estado-Maior do Ministério da Guerra e seguiu para Canudos para cobrir a última fase da campanha de guerra.

Em Canudos, Euclides adotou um garoto, fraco e doente, a quem se refere em sua caderneta de campo como 'Ludgero'. Quando retornou para São Paulo, Euclides entregou o garoto a seu amigo, o educador Gabriel Prestes, o qual o rebatizou como Ludgero Prestes.

Entre os dias 07 de agosto e primeiro de outubro de 1897, Euclides da Cunha viveu no sertão como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. As mensagens eram transmitidas para o jornal paulista por meio de telégrafo. Euclides deixou Canudos quatro dias antes do fim da guerra e conseguiu reunir material para elaborar Os sertões: campanha de Canudos (1902), sua obra-prima.

Em 1898, Euclides da Cunha mudou-se para São José do Rio Pardo, no estado de São Paulo, onde trabalhou na construção de uma ponte metálica sobre o Rio Pardo e iniciou a escrita de sua obra-prima. Alguns fragmentos do livro foram publicados no artigo intitulado "Excerto de um livro inédito".

Em 1901, Euclides foi pai pela terceira vez, com o nascimento de Manuel Afonso Albertina. No mesmo ano, Euclides inaugurou a Escola Primária Dr. Lopes Chaves, em Taubaté, e mudou-se para São Carlos, também no estado de São Paulo, para atuar como engenheiro civil da Escola Paulino Carlos, permanecendo até meados de 1903.

Os Sertões

Os sertões foi escrito ao longo de cinco anos, durante o período em que esteve em Canudos e, posteriormente, nos intervalos de trabalho como engenheiro. O livro trata da Guerra de Canudos, iniciada em 1897, no estado da Bahia, em um povoado bastante distinto da sociedade litorânea.

Com essa experiência, Euclides descobriu a realidade vivida pelos sertanejos no interior do Brasil e, por isso, rompeu com suas ideias anteriores de que o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia e uma ameaça aos ideais republicanos.

Euclides da Cunha foi pioneiro entre os escritores pré-modernistas ao aproximar verdadeiramente a literatura e a história, contribuindo significativamente para que pudéssemos traçar um panorama social e real do interior do Brasil. Esse estilo do autor rendeu ao livro Os Sertões a definição do escritor Pedro Nabuco de “a Bíblia da nacionalidade brasileira”.

Essa obra é complexa e difícil de ser classificada, já que apresenta características de textos literários, textos científicos e textos jornalísticos. Além da hibridez de estilos de gêneros textuais, destacam-se também as visões deterministas e naturalistas ao retratar o homem como sendo um produto do meio em que vive. O estilo de linguagem adotado pelo autor é bastante particular, denominado por outros escritores como “Barroco Científico”, já que emprega constantemente expressões que sugerem um conflito interior sem solução.

Vejamos um trecho inscrito na segunda parte de Os sertões, quando trata da descrição do sertanejo:

O sertanejo

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá caráter de humildade deprimente. […]

Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. […] Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Impertiga-se […] e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinária.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 179-180. (Fragmento).


Os sertões
é dividido em três partes: a Terra, o Homem, a Luta

A obra é dividida em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Na primeira parte, Euclides analisa as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas do sertão nordestino. Na segunda parte, o autor faz um retrato do sertanejo e demonstra a influência do meio para o desenvolvimento das pessoas, com destaque à apresentação de Antônio Conselheiro e sua transformação como líder messiânico de Canudos. Somente na terceira e última parte é que Euclides retrata os embates entre as tropas oficiais e os seguidores de Antônio Conselheiro. A obra termina com a descrição minuciosa sobre a queda do Arraial de Canudos e sua completa destruição.

Com a publicação de Os Sertões, em 1902, Euclides foi reconhecido internacionalmente e entrou para a Academia Brasileira de Letras (ABL), em 21 de setembro de 1903, ocupando a cadeira 7. Entrou também para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Morte trágica

Em 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha foi assassinado com um tiro pelo amante de sua esposa, chamado Dilermando, um jovem cadete de 17 anos. O corpo de Euclides foi velado na ABL e sepultado no cemitério de São João Batista. Seus restos mortais foram transferidos para São José do Rio Pardo, cidade onde escreveu grande parte de sua obra-prima, Os sertões.

Obras de Euclides da Cunha

Os Sertões, 1902

Contrastes e Confrontos, 1906

Peru Versus Bolívia, 1907

Castro Alves e o Seu Tempo, 1908

A Margem da História, 1909

Por: Luciana Kuchenbecker Araújo

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