O ensaio crítico, gênero muito comum no meio acadêmico, tem como função principal a liberdade de expressão e a comunicação que vai da arte à ciência.
Autores como Aristóteles¹, Barthes², Richard Dawkins³ produziram significativos ensaios sobre o homem e as relações com as diversas áreas do conhecimento (literatura, história, ciência) e nos fazem perceber como o ensaio é um texto de caráter filosófico, literário e científico. Esse gênero é de ordem criativa, reflexiva e empírica ao mesmo tempo, diferente de um artigo de opinião, manifesto, poesia. Essa dinamicidade não se faz problemática, visto que a intenção ao produzir um ensaio é de inovar. Logo, o ensaio crítico faz ser possível afirmar que não há caoticidade em ter liberdade de expressão, levantar hipóteses, utilizar, negar e criar conceitos em um único texto. O comando nesse tipo de texto é: digamos o que pensamos sobre o mundo e seus componentes (artes, natureza, sociedade, sentimentos).
Essa composição do ensaio nos leva a um dos diferenciais desse tipo de texto: esse gênero não pretende oferecer conteúdos acabados, ele sempre será um estudo em desenvolvimento, passível de reescrita, acréscimos e cortes, uma vez que o mundo está em constante mudança.
O ensaio crítico, assim como qualquer outro texto argumentativo, tem como função principal a defesa de uma tese (ponto de vista). Esse gênero textual é comumente produzido no meio acadêmico a fim de analisar obras literárias, filmes, pinturas, ou seja, a finalidade é analisar um trabalho, destacando pontos previamente selecionados para realização do estudo. Por exemplo: muitos alunos fazem ensaios críticos sobre: a marcação do tempo na narrativa de Dom Casmurro; os figurinos nos filmes de David Fincher; a influência de O sofrimento do jovem Werther, Goethe, na geração de 1770.
Após essa breve definição do ensaio crítico, tomemos nota do que fazer para o bom desenvolvimento do texto - tendo o conteúdo selecionado para o estudo.
1) Pesquise sobre a obra selecionada e outras fontes que se relacionam com o seu objeto de estudo:
- identifique o contexto de produção da obra. Ex.: período de produção, marcos históricos que possam estar relacionados à produção, período literário/artístico que a obra integra;
- procure ter conhecimento sobre a vida e outros trabalhos do autor, uma vez que comparar obras faz surgir possíveis objetos de análise;
- pesquise autores contemporâneos ao autor da obra que será analisada por você;
- leia críticas referentes à obra selecionada.
2) Tome notas ao ler o texto/analisar a pintura/assistir ao filme, o fichamento é um ótimo método de identificar e organizar os aspectos relevantes de uma obra. Nesse planejamento, procure:
- definir o assunto. Ex.: amor, guerras, racismo, violência urbana, escravidão, pop art etc;
- delinear as ideias principais. Ex.: crítica ao período colonial do Brasil; liquidez da sociedade contemporânea (uma das ideias da obra Modernidade líquida de Zygmunt Bauman);
- identificar o diferencial da obra. Ex.: a obra apresenta a relação do trabalho escravo com o capitalismo; a obra é feita apenas com colagem;
- identificar objetivo da obra. Essa finalidade é alcançada?;
- reconhecer os recursos utilizados para produção da obra. Ex.: intertextualidade, linguagem verbal e não verbal, imagens apenas em preto e branco, o autor dialoga com os leitores (característica, por exemplo, das obras de Machado de Assis) etc.
3) Elabore sua tese e certifique-se de que ela apresente, de fato, uma análise. Sua tese não pode ser, meramente, uma afirmação: “As horas é um filme que tem como personagem principal a autora Virginia Woolf.”.
É recomendado que não seja também um juízo de valor superficial, ou seja, não devemos apenas avaliar se tal obra ou aspecto nos agradou: “As horas, de Stephen Daldry, é um ótimo longa metragem.”
Uma tese deve ser elaborada com a finalidade de instaurar uma análise, sua crítica deve instigar o questionamento, o debate.
Exemplo de teses indicadas para produção de ensaios críticos:
Autor: Slavoj Zizek
Título da obra: Lacrimae Rerum - Ensaios Sobre Cinema Moderno
Teses que integram a obra e intitulam os capítulos do livro:
- “Alfred Hitchcock ou haverá uma maneira de fazer um ‘remake’ de um filme?”
- “David Lynch ou a arte do sublime ridículo”
- “Matrix ou os dois lados da perversão”
Notem como todo o processo indica uma lógica empírica, ou seja, o autor de um ensaio, desde o momento da elaboração da hipótese a ser defendida, está em um ambiente de experimentos e aquisição de conhecimento.
Atentemo-nos, por fim, ao verbo ensaiar: analisar, examinar, exercitar, experimentar, explicar, praticar, provar. Essas variantes de significado, além de delinearem as características de produção do ensaio crítico, configuram a função social desse gênero: ato social de expressão e comunicação em relação à filosofia, à ciência e à arte.
¹ Filósofo grego; ² escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês; ³ etólogo e biólogo evolutivo.