Émile Zola

Émile Zola marcou a França do século XIX com seu estilo contundente na crítica às injustiças sociais impostas à classe trabalhadora e na crítica às contradições humanas, manifestadas em vícios de caráter e de comportamento. Esses vícios seriam, segundo a crença filosófica de Zola, frutos do determinismo social e científico.

Nessa perspectiva, no meio social, o fator racial e biológico seria determinante para o condicionamento de certos comportamentos humanos. Assim, as narrativas do autor, como seu clássico Germinal, que narra as condições degradantes a que eram submetidos os trabalhadores franceses das minas de carvão, funcionam como tratados sociológicos disposto a provar teses deterministas.

Leia também: Victor Hugo – autor romântico que fazia denúncia social em sua obra

Biografia de Émile Zola

Émile Zola escandalizou a sociedade europeia com sua literatura combativa e crítica às injustiças e contradições de seu tempo.

Émile Zola nasceu em Paris, em 10 de abril de 1840. Em 1843, ele e sua a família se mudaram para a cidade de Aix-en-Provence, situada no sul da França. Quando Zola tinha sete anos, seu pai, um engenheiro de origem italiana chamado François Zola, morreu, o que fez com que sua mãe, Émilie Aubert, tivesse dificuldades financeiras para manter a família.

Em 1858, Zola e sua mãe mudaram-se para Paris, a fim de que ele pudesse se dedicar aos estudos. Contudo, ao término da educação básica, como ele não foi bem no exame de conclusão da escola, não foi aprovado no curso de Direito.

Zola trabalhou na editora Hachette, além de ter colaborado com jornais, escrevendo crônicas, crítica literária e de arte, além de textos sobre política, nos quais evidenciava sua antipatia por Napoleão III. Em relação à escrita literária, escreveu narrativas curtas, novelas e peças de teatro. Em 1865, desenvolveu amizade com artistas renomados, como o pintor Manet e o escritor Flaubert. Nesse mesmo ano, casou-se com Alexandrine Meley.

Em 1885, Zola publicou uma de suas mais importantes obras, o romance Germinal, cujo enredo retrata uma greve dos trabalhadores em uma mina de carvão. Esse livro foi duramente atacado pelos conservadores como sendo um incentivo para a revolução.

Essa postura crítica, que ficou mais explicitada em uma carta aberta ao presidente da república francesa, publicada na primeira página do jornal L’Aurore, que criticava a postura antissemita e autoritária do exército francês, resultou em sua condenação à prisão. Entretanto, conseguiu se refugiar na Inglaterra, permanecendo em solo inglês até 1899.

Em 29 de setembro de 1902, Zola morreu misteriosamente asfixiado por monóxido de carbono enquanto dormia. De acordo com algumas especulações, os inimigos do polêmico escritor teriam bloqueado a chaminé do seu apartamento para matá-lo asfixiado. Como um ato de grande horaria dispensada aos franceses de grande mérito, os seus restos mortais foram transferidos, em 1908, para o Panteão de Paris.

Veja também: Edgar Allan Poe – escritor de obras que exploram os elementos de suspense

Características da obra de Émile Zola

Principal representante do naturalismo na França e na Europa, Émile Zola construiu suas obras expressando as principais características desse movimento:

  • Enredos que possibilitam a confirmação da validade do determinismo científico;
  • Constante referência a conhecimentos biológicos;
  • Descrição dos personagens por meio de sua zoomorfização;
  • Predomínio de uma linguagem objetiva;
  • Personagens que se guiam mais pelos instintos do que pela razão;
  • Abordagem da sexualidade dos personagens de uma forma mais explícita.

Obras de Émile Zola

→ Narrativas

  • Contos a Ninon (1864)
  • A confissão de Claude (1865)
  • Os mistérios de Marseille (1867)
  • Thérèse Raquin (1867)
  • Madeleine Férat (1868)
  • A fortuna dos Rougon (1870)
  • O regabofe (1871)
  • A saga dos Rougon-Macquart (1871-1893)
  • O ventre de Paris (1873)
  • Novos contos a Ninon (1874)
  • A conquista de Plassans (1874)
  • O crime do padre Mouret (1875)
  • O senhor ministro (1876)
  • A taberna (1876)
  • Uma página de amor (1878)
  • Naná (1879)
  • Madame Sourdis (1880)
  • O capitão Burle (1882)
  • A roupa suja (1882)
  • O paraíso das damas (1883)
  • A alegria de viver (1884)
  • Germinal (1885)
  • A obra (1886)
  • A terra (1887)
  • O sonho (1888)
  • A besta humana (1890)
  • O dinheiro (1891)
  • A derrocada (1892)
  • O doutor Pascal (1893)
  • Lourdes (1894)
  • Roma (1896)
  • Paris (1898)
  • Fecundidade (1899)

→ Teatro

  • Os herdeiros Rabourdin (1874)
  • O botão de rosa (1878)

→ Ensaios

  • O meu ódio (1866)
  • O romance experimental (1880)
  • Os romancistas naturalistas (1881)
  • O naturalismo no teatro (1881)
  • A verdade em marcha (1901)

Germinal

Gravura francesa, de 1867, representa o enorme esforço dos trabalhadores de minas de carvão.

O romance Germinal (1885), um dos grandes marcos do naturalismo, tem como enredo fatos que aconteciam na França do século XIX: a situação degradante à qual eram submetidos os trabalhadores das minas de carvão. Para criar um clima de mais realismo em sua narrativa, Émile Zola empregou-se como mineiro numa mina de carvão. Nesse local de trabalho, pôde presenciar a exploração da força de trabalho e uma greve que durou dois meses.

Com base nessa experiência real, Zola evidenciou, na narrativa Germinal, que o meio social exerce forte influência sobre os indivíduos, embrutecendo-os e desumanizando-os. Tem-se, portanto, um forte retrato do determinismo científico nessa obra, que representa uma inovação ao trazer a classe operária como centro de um enredo. Leia, a seguir, um fragmento de Germinal:

O novo local de trabalho exigia um esforço penoso de Maheu e seus companheiros. Aquele trecho do veio Filonnière era tão estreito que os britadores, espremidos entre o muro e o teto, esfolavam os cotovelos durante o abate. Além disso, era cada vez mais úmido, receava-se que a qualquer momento, a água jorrasse, numa dessas bruscas torrentes que rebentam as rochas e arrastam os homens. Na véspera, quando Etienne trabalhava metendo violentamente sua picareta na hulha, ao retirá-la, recebeu um jacto de água no rosto. Foi como um toque de alerta, e o recinto ficou simplesmente mais molhado e insalubre. Aliás, ele já nem pensava mais nas possíveis catástrofes, entrosado com os camaradas, esquecido do perigo. Viviam no meio do grisu sem mesmo sentir seu peso sobre as pálpebras o véu de teia de aranha que ele deixava nos cílios. Às vezes, quando a chama das lâmpadas enfraquecia e ficava muito azul, lembravam-se de sua existência, e um mineiro encostava a cabeça no veio para escutar o leve ruído do gás, um ruído de bolha de ar borbulhando em cada fenda. Mas a constante ameaça eram os desmoronamentos, já que, além da insuficiência do estaqueamento, sempre feito às pressas, o terreno, minado pela água, não era firme. Por três vezes naquele dia Maheu tivera de mandar pôr reforços no estaqueamento. Eram duas e meia, os homens iam começar a subir. Deitado de lado, Etienne terminava o abate de um bloco quando um longínquo ribombar de trovão abalou toda a mina.

— Que é isso? — gritou ele, largando a picareta para escutar.

Por um momento acreditou que a galeria desabava por cima deles. Mas Maheu já escorregava pelo declive do filão, dizendo:

— É um desmoronamento... Depressa! Depressa!

Todos escorregaram declive abaixo, precipitadamente, levados por um impulso de fraternidade apreensiva. As lâmpadas balançavam nas suas mãos, no mortal silêncio que se fizera; corriam em fila ao longo das vias, de espinhas dobradas, como se estivesse galopando sobre os quatro membros. E, sem frear essa corrida, interrogavam-se, davam respostas sucintas: Onde? Onde? Seria nos desmontes? Não, o barulho vinha mais de baixo! Talvez da galeria de rodagem! Ao chegarem à chaminé de ventilação, precipitaram-se por ela, de cambulhada, sem se preocuparem com as contusões.

(Fragmento de Germinal, de Émile Zola).

Nesse fragmento, observa-se o cuidado de Zola em descrever um dos muitos apuros pelos quais passam os trabalhadores de uma mina de carvão. Na cena em questão, narra-se um processo de desmoronamento da mina, o que gera aflição e pânico nos trabalhadores, o que expõe a degradação imposta à classe trabalhadora mais pobre.

Por meio desse fragmento, nota-se, também, uma característica importante na escrita de Émile Zola: a predileção por uma linguagem objetiva, a qual contribui para a construção realista da narrativa.

Acesse também: Escolas literárias no Enem: como esse tema é cobrado?

Frases de Émile Zola

  • “Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa.”
  • “Se você calar a verdade e enterrá-la, ela ficará por lá. Mas, pode ter certeza que, um dia, ela germinará.”
  • “O artista não é nada sem o dom, mas o dom não é nada sem o trabalho.”
  • “O sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito.”
  • “Prefiro morrer de paixão a morrer de tédio.”
  • “O amor, como as andorinhas, dá felicidade às casas.”
  • “As dificuldades, como as montanhas, aplainam-se quando avançamos por elas.”
  • “A alegria de viver desaparece quando não há mais esperança.”
  • “O que é o amor? — um conto simples, dito de muitas maneiras.”
  • “Uma obra de arte é um canto da criação visto através de um temperamento.” 
Por: Leandro Guimarães

Artigos Relacionados

Últimas Aulas

Propriedades da multiplicação
Primeira Revolução Industrial
História de Goiás: coronelismo
Filosofia no Enem: Natureza do Conhecimento
Todas as vídeo aulas

Versão completa