Conhecer as diferenças entre a linguagem culta e a linguagem coloquial é importante para o aprimoramento das competências linguísticas dos falantes.
Você já ouviu falar sobre os níveis de linguagem?
A língua é um código utilizado para elaborar mensagens, sendo, portanto, um dos mais eficientes meios para a comunicação entre os falantes. Os níveis de linguagem dizem respeito a duas modalidades da língua, ambas executadas em diferentes contextos comunicacionais. São elas:
→ Linguagem culta: Essa modalidade é responsável por representar as práticas linguísticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo nos textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramaticais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente é associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolarização, maior a adequação com a língua padrão. Observe o exemplo:
Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães, que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes.
Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010.
→ Linguagem coloquial: é aquela utilizada em nosso cotidiano nas situações em que o nível de formalidade é menor, portanto, requer menor adequação às regras gramaticais. A linguagem coloquial, ou linguagem popular, é mais dinâmica, sendo marcada por grande fluidez verbal, já que não existe a preocupação excessiva com a norma-padrão da língua. Nela são permitidos recursos expressivos da linguagem, como gírias, e pode ser mais facilmente encontrada nos textos literários, nos quais se admitem licenças poéticas. Observe um exemplo:
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo).
Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
São notáveis as diferenças entre a linguagem culta e a linguagem coloquial, contudo, isso não significa que exista uma modalidade superior à outra. Ambas, variedade padrão e não padrão, devem ser respeitadas e seus usos devem estar condicionados ao contexto comunicacional no qual o falante está inserido. Saber quando utilizar cada uma das linguagens faz do falante um poliglota do próprio idioma que sabe definir o momento adequado para adotar cada um dos níveis de linguagem. É preciso ressaltar que, embora o conhecimento das variedades linguísticas amplie nossas possibilidades de comunicação, é a norma culta que garante a manutenção da unidade linguística de um país.