Dez haicais de Paulo Leminski

Os haicais de Paulo Leminski apresentam um estilo autêntico, o que fez desse autor um dos destaques na literatura brasileira.

Capa do livro Minhas lembranças de LE-MINS-KI, autoria de Domingos Pellegrini, publicação pela Editora Geração

O poeta japonês Matsuo Bashô é tido como o autor que fez do haicai uma forma poética de prestígio. De estilo simples e, na maioria das vezes, abordando temas relacionados com a natureza e suas viagens, os haicais de Bashô são compostos por três versos. Aprecie seu último haicai:

Doente em viagem
sonho em secos campos
Ir-me enveredar

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Haicai na literatura brasileira

O haicai, como observamos, tem origem japonesa e suas características principais são a clareza e a forma sucinta de escrever poesia. Esse estilo de produção de poesia chegou ao Brasil, segundo GOGA (1998)1, em 1919.

O escritor brasileiro responsável por fixar os haicais na literatura brasileira foi o poeta modernista Guilherme de Almeida. Alguns traços que o autor agregou em seus haicais, como sonoridade, ritmo e título, tornaram-nos conhecidos como haicais guilherminos. Vejam só:

ROSA

Rosa (que exibida!)
que posa assim toda prosa
é prova de vida.

Além de Almeida, a literatura brasileira conta com outro autor haicaísta: Paulo Leminski. Esse poeta, em suas obras, teve bastante influência do concretismo, movimento literário que tem como principal característica a ruptura com o verso tradicional. Mas, ainda assim, Leminski foi um dos maiores poetas haicaístas e é esta a beleza e peculiaridade do poeta: a notável liberdade estilística em sua escrita. A naturalidade com que o autor transita entre os versos tradicionais do haicai japonês e a liberdade de escrita do movimento concretista formou um estilo autêntico de criação poética.

Por isso, não é à toa que, atualmente, os poemas de Leminski, principalmente os haicais, são tão populares na literatura brasileira.

Capa do livro Toda poesia, obra publicada pela Editora Companhia das Letras

Dez dos haicais mais populares de Leminski

tudo dito,
nada feito,
fito e deito

ameixas
ame-as
ou deixe-as

jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga

a palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece

tudo claro
ainda não era o dia
era apenas o raio

Capa do livro Vida – 4 biografias, publicação pela Editora Companhia das Letras

coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro

Amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o.

Rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?

Esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem.

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

Nota

1 GOGA, H. Masuda. O haicai no Brasil. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1988.

Por: Mariana do Carmo Pacheco

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