Deste ou desse?

As palavras deste ou desse são formadas a partir de um processo chamado contração, no qual há a junção da preposição “de” com o pronome demonstrativo “este” ou “esse”. Isso ocorre devido ao termo anterior a eles requerer uma preposição para complementação da ideia dele.

Nesse sentido, tanto desse quanto deste seguem as normas de utilização da forma pronominal base, o que os leva a serem utilizados para marcar relações:

  • de espaço (próximo de quem fala ou de quem escuta);

  • de tempo (presente ou passado e futuro próximos ao momento da enunciação);

  • posição textual (retoma ou introduz algo).

Leia também: Demais ou de mais?

Quando utilizar desse?

A palavra desse é resultado de um processo chamado contração, que consiste na união de duas palavras a fim de formar uma só e que implica a perda de alguma parte de uma das envolvidas. Nesse sentido, tem-se a preposição de, que se junta ao pronome demonstrativo esse, originando a construção pronominal desse, a qual é utilizada sempre que o elemento anterior necessita de um complemento introduzido por de.

Diante disso, primeiramente, veremos abaixo quais são as hipóteses de uso do pronome esse.
  • Localização no espaço: o pronome esse é empregado quando há proximidade do referente, por exemplo, objeto, em relação ao destinatário da informação, ou seja, ao sujeito que escuta ou lê algo.

Exemplo:

Maria, empreste-me esse pincel que está sobre a sua carteira, por favor.

Quando o homem se refere ao papel que a médica está segurando, ele deve utilizar o pronome esse.

  • Localização no tempo: o pronome esse é utilizado para determinar algo que aconteceu num período próximo à enunciação, ou seja, ao ato de exteriorização do pensamento, podendo fazer referência a um passado ou a um futuro.

Exemplos:

Essas férias foram muito boas.

No que toca à oração acima, leva-se em consideração que o momento de descanso foi em julho e o sujeito está verbalizando isso em agosto, portanto, momentos próximos.

Ressalta-se o fato de o pronome estar flexionado na sua forma feminina, ou seja, com desinência “a” e também estar no plural, marcado pelo “s”.

Esse final de semana será de muito trabalho.

No contexto da oração, pode-se supor que o indivíduo está no início do mês e projeta um acontecimento para o último final de semana do mesmo mês.

  • Localização no texto: o pronome demonstrativo esse desempenha uma função textual anafórica, isto é, de referência a algo já presente na composição escrita, contribuindo, assim, para a progressão temática, ou seja, para o desenvolvimento dos assuntos de forma coesa, coerente e, portanto, fluida, conferindo, portanto, uma facilitação à leitura.

Exemplo:

As notícias versavam sobre a morte do ator, entretanto, essas não informavam sobre a causa do falecimento.

Perceba que o pronome essas retoma a palavra “notícias”.

Exemplos do uso da contração desse

  • Joana gosta desse livro. (proximidade do interlocutor)

  • Lembro desse dia em que nos beijamos. (lapso temporal pouco distante entre o acontecimento e a fala)

  • O retrato de Napoleão precisa ser bastante estudado, pois a observância desse permite entender o estilo do pintor.

Perceba que as palavras “gosta, lembro e observância” requerem a preposição de para a apresentação de seus complementos. Por isso, o pronome assume a forma contraída desse.

Veja também: As vezes ou às vezes?

Quando utilizar deste?

Assim como desse, deste é uma contração da preposição de com o pronome este. Em vista disso, veja quais são as possibilidades de uso do pronome este para entender quais os contextos de aplicação da sua configuração preposicionada.

  • Localização no espaço: utilizado para marcar a proximidade espacial de algo em relação à pessoa que enuncia, isto é, o indivíduo que fala.

Exemplos:

- Este carro quase me atropelou.
- Não acredito que esta xícara quebrou.

  • Localização no tempo: indica o momento da enunciação, ou seja, da exteriorização do pensamento.

Exemplos:

- Este dia parece eterno.
- Nesta (em+esta) manhã, avistei um urubu.

  • Localização no texto: faz referência a algo que será dito ou escrito, ou seja, introduz uma ideia.

Exemplos:

- O grande objetivo da vida é este: ser feliz.
- “Minha tristeza é esta – A das coisas reais” (Fernando Pessoa)

Exemplos do uso da contração deste

  • Lobato, você precisa deste livro ou do que está na estante?

  • A partir deste momento, estudarei muito.

  • Eu tenho raiva deste seu jeito arrogante (introduz o complemento acerca do que a pessoa tem raiva).

Observe que o verbo precisar, a expressão a partir e o substantivo raiva necessitam da preposição de para complementar as suas ideias.

Assim como os pronomes “este” e “esse” geram dúvidas quanto ao emprego adequado, suas formas contraídas “deste” e “desse” passam pela mesma questão.

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (UPE 2015 – adaptado)

Veja o texto a seguir:

(1) Em qualquer língua, de qualquer época, desde que em uso, ocorreram mudanças, em todos os estratos, em todos os níveis, o que significa dizer que, naturalmente, qualquer língua manifesta-se num conjunto de diferentes falares, que atendem às exigências dos diversos contextos de uso dessa língua. Pensar numa língua uniforme, falada em todo canto e em toda hora do mesmo jeito, é um mito que tem trazido consequências desastrosas para a autoestima das pessoas (principalmente daquelas de meios rurais ou de classes sociais menos favorecidas) e que tem confundido, há séculos, os professores de língua.

(2) Exatamente, por essa heterogeneidade de falares é que a língua se torna complexa, pois, por eles, se instaura o movimento dialético da língua: da língua que está sendo, que continua igual, e da língua que vai ficando diferente. Não querer reconhecer essa natural tensão do movimento das línguas é deixar de apanhar a natureza mesma de sua forma de existir: histórica e culturalmente situada.
(3) Por conta dessas vinculações da língua com as situações em que é usada, a voz de cada um de nós é, na verdade, um coro de vozes. Vozes de todos os que nos antecederam e com os quais convivemos atualmente. Vozes daqueles que construíram os significados das coisas, que atribuíram a elas um sentido ou um valor semiológico. Vozes que pressupõem papéis sociais de quem as emite; que expressam visões, concepções, crenças, verdades e ideologias. Vozes, portanto, que, partindo das pessoas em interação, significam expressão de suas visões de mundo e, ao mesmo tempo, criação dessas mesmas visões.

(4) A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí, o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar de nosso grupo. Esse apego é uma forma de selarmos nossa adesão a esse grupo.
(5) Tudo isso porque linguagem, língua e cultura são, reiteramos, realidades indissociáveis.
(6) É nesse âmbito que podemos surpreender as raízes do processo de construção e expressão de nossa identidade ou, melhor dizendo, de nossa pluralidade de identidades. É nesse âmbito que podemos ainda experimentar o sentimento de partilhamento, de pertença, de ser gente de algum lugar, de ser pessoa que faz parte de determinado grupo. Quer dizer, pela língua afirmamos: temos território; não somos sem pátria. Pela língua, enfim, recobramos uma identidade.

(ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino. Outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009. p. 22-23.)

Observe como se inicia o parágrafo 3º do texto:

Por conta dessas vinculações da língua” (3º parágrafo)

O segmento sublinhado é responsável por promover no texto:

I. a apresentação de pontos de vista diferentes sobre o assunto.

II. a articulação e fluência entre as ideias veiculadas.

III. a continuação e progressão do tema abordado.

IV. o refinamento e a elegância no estilo adotado.

Estão corretas, apenas:

A) I e II.

B) I e III.

C) I e IV.

D) II e III.

E) II, III e IV.

Resolução

Alternativa D, pois o segmento sublinhado funciona, no respectivo contexto, como recurso coesivo, já que se trata de um pronome demonstrativo anafórico.

Questão 2 – Leia o poema abaixo:

Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais
e dos estrangeiros madre:

Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm
e abater os que aqui nascem?

Se o fazeis pelo interesse
de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.

E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.

O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
desse tempo e dessa idade.

Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.

Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.

Gregório de Matos

Vocabulário

alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro, ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.

ressábios - sabor; gosto que se tem depois.

cafres - indivíduo de raça negra.

Na quinta estrofe do poema, o eu lírico utiliza os pronomes demonstrativos desse e dessa. A partir dos seus conhecimentos sobre o emprego de tal classe gramatical, marque a alternativa correta:

A) O pronome desse e dessa fazem referência à “foste terra de alarves”.

B) O pronome desse e dessa foram utilizados para evidenciar um local próximo ao do leitor do poema.

C) O pronome desse e dessa poderiam ser substituídos por deste e desta, já que não há referente anterior.

D) O pronome desse e dessa poderiam ser substituídos por deste e desta, pois se referem ao tempo que coincide com o da enunciação.

Resolução

Alternativa A, pois os pronomes desse e dessa foram utilizados para retomar “foste terras de alarves”. 

Por: Diogo Berquó

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