As palavras deste ou desse são formadas a partir de um processo chamado contração, no qual há a junção da preposição “de” com o pronome demonstrativo “este” ou “esse”. Isso ocorre devido ao termo anterior a eles requerer uma preposição para complementação da ideia dele.
Nesse sentido, tanto desse quanto deste seguem as normas de utilização da forma pronominal base, o que os leva a serem utilizados para marcar relações:
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de espaço (próximo de quem fala ou de quem escuta);
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de tempo (presente ou passado e futuro próximos ao momento da enunciação);
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posição textual (retoma ou introduz algo).
Leia também: Demais ou de mais?
Quando utilizar desse?
A palavra desse é resultado de um processo chamado contração, que consiste na união de duas palavras a fim de formar uma só e que implica a perda de alguma parte de uma das envolvidas. Nesse sentido, tem-se a preposição de, que se junta ao pronome demonstrativo esse, originando a construção pronominal desse, a qual é utilizada sempre que o elemento anterior necessita de um complemento introduzido por de.
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Localização no espaço: o pronome esse é empregado quando há proximidade do referente, por exemplo, objeto, em relação ao destinatário da informação, ou seja, ao sujeito que escuta ou lê algo.
Exemplo:
Maria, empreste-me esse pincel que está sobre a sua carteira, por favor.
Quando o homem se refere ao papel que a médica está segurando, ele deve utilizar o pronome esse.
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Localização no tempo: o pronome esse é utilizado para determinar algo que aconteceu num período próximo à enunciação, ou seja, ao ato de exteriorização do pensamento, podendo fazer referência a um passado ou a um futuro.
Exemplos:
Essas férias foram muito boas.
No que toca à oração acima, leva-se em consideração que o momento de descanso foi em julho e o sujeito está verbalizando isso em agosto, portanto, momentos próximos.
Ressalta-se o fato de o pronome estar flexionado na sua forma feminina, ou seja, com desinência “a” e também estar no plural, marcado pelo “s”.
Esse final de semana será de muito trabalho.
No contexto da oração, pode-se supor que o indivíduo está no início do mês e projeta um acontecimento para o último final de semana do mesmo mês.
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Localização no texto: o pronome demonstrativo esse desempenha uma função textual anafórica, isto é, de referência a algo já presente na composição escrita, contribuindo, assim, para a progressão temática, ou seja, para o desenvolvimento dos assuntos de forma coesa, coerente e, portanto, fluida, conferindo, portanto, uma facilitação à leitura.
Exemplo:
As notícias versavam sobre a morte do ator, entretanto, essas não informavam sobre a causa do falecimento.
Perceba que o pronome essas retoma a palavra “notícias”.
Exemplos do uso da contração desse
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Joana gosta desse livro. (proximidade do interlocutor)
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Lembro desse dia em que nos beijamos. (lapso temporal pouco distante entre o acontecimento e a fala)
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O retrato de Napoleão precisa ser bastante estudado, pois a observância desse permite entender o estilo do pintor.
Perceba que as palavras “gosta, lembro e observância” requerem a preposição de para a apresentação de seus complementos. Por isso, o pronome assume a forma contraída desse.
Veja também: As vezes ou às vezes?
Quando utilizar deste?
Assim como desse, deste é uma contração da preposição de com o pronome este. Em vista disso, veja quais são as possibilidades de uso do pronome este para entender quais os contextos de aplicação da sua configuração preposicionada.
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Localização no espaço: utilizado para marcar a proximidade espacial de algo em relação à pessoa que enuncia, isto é, o indivíduo que fala.
Exemplos:
- Este carro quase me atropelou.
- Não acredito que esta xícara quebrou.
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Localização no tempo: indica o momento da enunciação, ou seja, da exteriorização do pensamento.
Exemplos:
- Este dia parece eterno.
- Nesta (em+esta) manhã, avistei um urubu.
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Localização no texto: faz referência a algo que será dito ou escrito, ou seja, introduz uma ideia.
Exemplos:
- O grande objetivo da vida é este: ser feliz.
- “Minha tristeza é esta – A das coisas reais” (Fernando Pessoa)
Exemplos do uso da contração deste
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Lobato, você precisa deste livro ou do que está na estante?
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A partir deste momento, estudarei muito.
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Eu tenho raiva deste seu jeito arrogante (introduz o complemento acerca do que a pessoa tem raiva).
Observe que o verbo precisar, a expressão a partir e o substantivo raiva necessitam da preposição de para complementar as suas ideias.
Exercícios resolvidos
Questão 1 – (UPE 2015 – adaptado)
Veja o texto a seguir:
(1) Em qualquer língua, de qualquer época, desde que em uso, ocorreram mudanças, em todos os estratos, em todos os níveis, o que significa dizer que, naturalmente, qualquer língua manifesta-se num conjunto de diferentes falares, que atendem às exigências dos diversos contextos de uso dessa língua. Pensar numa língua uniforme, falada em todo canto e em toda hora do mesmo jeito, é um mito que tem trazido consequências desastrosas para a autoestima das pessoas (principalmente daquelas de meios rurais ou de classes sociais menos favorecidas) e que tem confundido, há séculos, os professores de língua.
(2) Exatamente, por essa heterogeneidade de falares é que a língua se torna complexa, pois, por eles, se instaura o movimento dialético da língua: da língua que está sendo, que continua igual, e da língua que vai ficando diferente. Não querer reconhecer essa natural tensão do movimento das línguas é deixar de apanhar a natureza mesma de sua forma de existir: histórica e culturalmente situada.
(3) Por conta dessas vinculações da língua com as situações em que é usada, a voz de cada um de nós é, na verdade, um coro de vozes. Vozes de todos os que nos antecederam e com os quais convivemos atualmente. Vozes daqueles que construíram os significados das coisas, que atribuíram a elas um sentido ou um valor semiológico. Vozes que pressupõem papéis sociais de quem as emite; que expressam visões, concepções, crenças, verdades e ideologias. Vozes, portanto, que, partindo das pessoas em interação, significam expressão de suas visões de mundo e, ao mesmo tempo, criação dessas mesmas visões.
(4) A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí, o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar de nosso grupo. Esse apego é uma forma de selarmos nossa adesão a esse grupo.
(5) Tudo isso porque linguagem, língua e cultura são, reiteramos, realidades indissociáveis.
(6) É nesse âmbito que podemos surpreender as raízes do processo de construção e expressão de nossa identidade ou, melhor dizendo, de nossa pluralidade de identidades. É nesse âmbito que podemos ainda experimentar o sentimento de partilhamento, de pertença, de ser gente de algum lugar, de ser pessoa que faz parte de determinado grupo. Quer dizer, pela língua afirmamos: temos território; não somos sem pátria. Pela língua, enfim, recobramos uma identidade.
(ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino. Outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009. p. 22-23.)
Observe como se inicia o parágrafo 3º do texto:
Por conta dessas vinculações da língua” (3º parágrafo)
O segmento sublinhado é responsável por promover no texto:
I. a apresentação de pontos de vista diferentes sobre o assunto.
II. a articulação e fluência entre as ideias veiculadas.
III. a continuação e progressão do tema abordado.
IV. o refinamento e a elegância no estilo adotado.
Estão corretas, apenas:
A) I e II.
B) I e III.
C) I e IV.
D) II e III.
E) II, III e IV.
Resolução
Alternativa D, pois o segmento sublinhado funciona, no respectivo contexto, como recurso coesivo, já que se trata de um pronome demonstrativo anafórico.
Questão 2 – Leia o poema abaixo:
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais
e dos estrangeiros madre:
Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.
Gregório de Matos
Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro, ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres - indivíduo de raça negra.
Na quinta estrofe do poema, o eu lírico utiliza os pronomes demonstrativos desse e dessa. A partir dos seus conhecimentos sobre o emprego de tal classe gramatical, marque a alternativa correta:
A) O pronome desse e dessa fazem referência à “foste terra de alarves”.
B) O pronome desse e dessa foram utilizados para evidenciar um local próximo ao do leitor do poema.
C) O pronome desse e dessa poderiam ser substituídos por deste e desta, já que não há referente anterior.
D) O pronome desse e dessa poderiam ser substituídos por deste e desta, pois se referem ao tempo que coincide com o da enunciação.
Resolução
Alternativa A, pois os pronomes desse e dessa foram utilizados para retomar “foste terras de alarves”.