Denotação e conotação representam os níveis que atribuímos ao signo linguístico (qualquer elemento portador de uma unidade significativa, como por exemplo, “casa”, “livro”, “mesa”, etc.). Dessa forma, o sentido denotativo possui uma significação mais restrita; e o sentido conotativo, uma significação mais ampla.
A título de melhor compreendermos os principais aspectos que norteiam ambos os elementos, analisemos, pois, a letra da canção de Gilberto Gil, intitulada “Metáfora”:
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
A começar pelo primeiro verso, retratado por: “Uma lata existe para conter algo”, foquemos nossa atenção no significado referente à lata, segundo o que nos revela o dicionário Aurélio:
s. f. 1. Folha-de Flandres. 2. Recipiente feito desse material.
Constatamos se tratar de algo referente ao sentido original da palavra em questão, o qual se aproxima da essência desse mesmo objeto. Assim sendo, afirmamos que o sentido denotativo das palavras é aquele retratado pelo dicionário. Por essa razão é que os textos jornalísticos, científicos, livros didáticos, entre outros, primam por essa característica, levando-se em consideração o intuito do emissor, que é o de permitir somente uma interpretação possível.
Indo mais adiante com a análise da letra musical, daremos especial atenção aos seguintes versos:
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
O sentido que podemos atribuir à lata, dessa vez, seria o mesmo?
A lata do poeta seria a mesma lata evidenciada anteriormente?
Certamente que não, uma vez que estamos fazendo referência ao sentido conotativo que atribuímos às palavras, ora caracterizado por uma significação mais ampla. Ora, na lata do poeta pode caber tudo, pois essa lata se refere à capacidade imaginativa, ao poder de criação do artista, do escritor, razão pela qual, na lata, é possível caber o incabível.
Nesse sentido, temos que a conotação está relacionada às múltiplas interpretações que damos a uma dada palavra, tendo em vista nosso instinto subjetivo, o qual se encontra intrinsecamente relacionado às nossas percepções individuais.
Partindo desse pressuposto, há que se ressaltar que a linguagem literária se encontra carregada desse aspecto, uma vez que a intenção de quem escreve é tão somente realçar a palavra por meio dos recursos linguísticos disponíveis. Contudo, tal fato não significa dizer que todas as palavras possuem somente sentido subjetivo.
Semelhantemente a linguagem literária, sobretudo no que tange a esse aspecto, temos a linguagem publicitária, cujo sentido também é o de realçar a mensagem. Perceba esta capa de revista:
A subjetividade se encontra presente na linguagem publicitária
O sentido do verbo devorar não se aplica somente àquele referente ao ato de comer, mas sim ao ato de destruir o planeta por meio da ação do próprio homem.
Seriam ambas as circunstâncias (linguagem literária e publicitária) exclusividade da linguagem subjetiva? Não, não podemos nos esquecer daquela que também apresenta traços de subjetividade – a linguagem coloquial, manifestada cotidianamente. Pois bem, são muitas as ocasiões em que fazemos uso de tal modalidade, seja por meio de gírias, provérbios ou até de construções afetivas.
Aproveite para conferir nossa videoaula sobre o assunto: