Concretismo foi um movimento artístico surgido no século XX. No Brasil, seus principais representantes foram os poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
Concretismo foi um movimento artístico caracterizado pela objetividade, valorização do espaço e universalidade. A sua criação remonta ao ano de 1930, com a publicação do Manifesto da Arte Concreta, do artista plástico holandês Theo van Doesburg. No entanto, foi na década de 1950 que o movimento se consolidou.
No Brasil, seus principais líderes foram os poetas Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Eles criaram, em 1952, a revista Noigandres, divulgadora da poesia concreta. E participaram da Exposição Nacional de Arte Concreta, ocorrida em 1956, que contou também com a presença de artistas como Lygia Clark.
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Resumo sobre concretismo
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O poeta francês Stéphane Mallarmé foi um dos precursores do concretismo.
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A arte concreta surgiu, em 1930, com a publicação do Manifesto da Arte Concreta, do artista plástico holandês Theo van Doesburg.
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O movimento se solidificou no contexto da Guerra Fria.
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O concretismo é marcado pela objetividade, além da valorização do espaço e da forma.
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Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari foram os principais nomes da poesia concreta no Brasil.
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A revista Noigandres foi o principal veículo de promoção da poesia concreta brasileira em 1952.
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O neoconcretismo surgiu, em 1959, com a divulgação do Manifesto Neoconcreto.
Videoaula sobre concretismo
Características do concretismo
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Caráter universal
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Valorização do espaço
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Objetividade
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Racionalidade
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Metalinguagem
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Ausência de cunho figurativo
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Experimentalismo
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Foco em cores e formas
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Visão matemática
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Ausência de lirismo
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Antissimbolismo
Obras do concretismo
Abaixo, obras que apresentam características concretistas:
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Um lance de dados (1897), de Stéphane Mallarmé
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Caligramas (1918), de Guillaume Apollinaire
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Ulysses (1922), de James Joyce
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Os cantos (1925), de Ezra Pound
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Pau-brasil (1925), de Oswald de Andrade
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Psicologia da composição (1947), de João Cabral de Melo Neto
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Constelações (1953), de Eugen Gomringer
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Organismo (1960), de Décio Pignatari
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Ideogramas (1962), de E. M. de Melo e Castro
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Bord (1966), de Öyvind Fahlström
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caprichos & relaxos (1983), de Paulo Leminski
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Galáxias (1984), de Haroldo de Campos
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Tudos (1991), de Arnaldo Antunes
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Poesia gráfica (1995), de Salette Tavares
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Clip-poemas (1997), de Augusto de Campos
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Autores do concretismo
A seguir, alguns autores que fizeram parte do concretismo ou dialogaram com ele:
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Stéphane Mallarmé (1842-1898) — poeta e crítico literário francês
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Guillaume Apollinaire (1880-1918) — escritor e crítico de arte francês
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James Joyce (1882-1941) — escritor irlandês
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Ezra Pound (1885-1972) — poeta e crítico literário americano
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Oswald de Andrade (1890-1954) — escritor brasileiro
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João Cabral de Melo Neto (1920-1999) — poeta brasileiro
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Salette Tavares (1922-1994) — escritora portuguesa
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Eugen Gomringer (1925-) — poeta boliviano, com naturalidade suíça
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Décio Pignatari (1927-2012) — poeta brasileiro
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Öyvind Fahlström (1928-1976) — artista sueco-brasileiro
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Haroldo de Campos (1929-2003) — poeta brasileiro
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Augusto de Campos (1931-) — poeta brasileiro
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E. M. de Melo e Castro (1932-2020) — poeta e artista plástico português
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Paulo Leminski (1944-1989) — poeta brasileiro
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Arnaldo Antunes (1960-) — poeta, compositor e artista visual brasileiro
Vale ressaltar que alguns desses autores não foram propriamente concretistas, mas precursores do movimento, já que suas obras apresentam traços dessa estética. São eles: Stéphane Mallarmé, Ezra Pound, James Joyce, Guillaume Apollinaire, Oswald de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
Concretismo no Brasil
O concretismo no Brasil teve início, em 1952, com os poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, criadores da revista Noigandres, a divulgadora da poesia concreta. Porém foi em 1956 que o movimento ganhou evidência com a Exposição Nacional de Arte Concreta. Assim, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no mês de dezembro, participaram da exposição:
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Alexandre Wollner (1928-2018) — designer gráfico
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Alfredo Volpi (1896-1988) — pintor
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Aluísio Carvão (1920-2001) — pintor, escultor e ilustrador
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Amilcar de Castro (1920-2002) — escultor, artista plástico e designer gráfico
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Augusto de Campos — poeta
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César Oiticica (1939-) — pintor
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Décio Pignatari — poeta
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Décio Vieira (1922-1988) — pintor
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Ferreira Gullar (1930-2016) — poeta
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Franz Weissmann (1911-2005) — escultor
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Geraldo de Barros (1923-1998) — pintor
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Haroldo de Campos — poeta
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Hélio Oiticica (1937-1980) — pintor, escultor e artista plástico
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Hermelindo Fiaminghi (1920-2004) — pintor e designer gráfico
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Ivan Serpa (1923-1973) — pintor
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Judith Lauand (1922-) — artista plástica
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Kazmer Féjer (1923-1989) — pintor e escultor
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Lothar Charoux (1912-1987) — pintor
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Luiz Sacilotto (1924-2003) — pintor e escultor
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Lygia Clark (1920-1988) — pintora e escultora
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Lygia Pape (1927-2004) — escultora e pintora
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Maurício Nogueira Lima (1930-1999) — artista plástico
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Ronaldo Azeredo (1937-2006) — poeta e artista plástico
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Rubem Ludolf (1932-2010) — pintor
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Waldemar Cordeiro (1925-1973) — artista plástico
Poesia do concretismo
A poesia do concretismo é marcada pela experimentação com a forma do poema. É antilírica e antissentimentalista, portanto, é avessa à subjetividade e ao intimismo. Sua principal característica está em seu aspecto verbivocovisual, isto é, a combinação entre palavra, som e imagem.
Esse tipo de poesia é antiacadêmica e, por isso, não apresenta versos. Assim, o trabalho com o espaço da página e a disposição das palavras é o mais relevante, como é possível verificar neste poema concreto de Haroldo de Campos:
vem navio
vai navio
vir navio
ver navio
ver não ver
vir não vir
vir não ver
ver não vir
ver navios
Esse poema, do livro Xadrez de estrelas, é de 1958, apresenta um explícito trabalho com o espaço e possui um aspecto verbivocovisual, colocando em evidência as palavras “vem”, “vai”, “vir”, “ver” e “navio”. A repetição do som de “v” reproduz o som do deslocamento de um navio, também evidenciado pela forma em V que o poema assume. Caso queira saber mais sobre o tema deste tópico, ler: Poesia concreta.
Neoconcretismo
O neoconcretismo foi um movimento de oposição ou mesmo de renovação ao concretismo. Assim, essa quebra com o concretismo ocorreu, em 1959, com o lançamento do Manifesto Neoconcreto. O neoconcretismo buscou fazer uma arte mais interativa, de forma que o receptor pudesse interatuar com ela.
O artista neoconcreto abandonou a objetividade e a universalidade concretistas em prol da subjetividade e da temporalidade da obra, que ele chamou de “não objeto”. O neoconcretismo contou com nomes como Ferreira Gullar, Lygia Clark, Lygia Pape, Amilcar de Castro e Franz Weissmann, por exemplo.
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Contexto histórico e origem do concretismo
A Guerra Fria, caracterizada pela disputa entre nações capitalistas (lideradas pelos Estados Unidos) e socialistas (comandadas pela União Soviética), começou em 1947, logo após a Segunda Guerra Mundial. Ela só teria fim em 1991, após décadas marcadas pela ameaça nuclear.
O Brasil se manteve ao lado dos capitalistas e sofreu inevitável influência da cultura estado-unidense, grande estimuladora do consumo. Getúlio Vargas (1882-1954) novamente se tornou presidente do Brasil em 1951. Mas foi o governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), iniciado em 1956, que prometeu um desenvolvimento de 50 anos em cinco.
Nesse contexto, a poesia concreta teve início no Brasil. No entanto, o surgimento da arte concreta se deu, no ano de 1930, com a publicação do Manifesto da Arte Concreta, assinado pelo artista plástico holandês Theo van Doesburg (1883-1931). Em 1953, o artista Öyvind Fahlström escreveu o Manifesto Para a Poesia Concreta.
O concretismo, portanto, esteve associado a elementos urbanos e ao fim da utopia, atribuído ao surgimento da chamada pós-modernidade. Foi, assim, uma arte objetiva e apolítica, cujo foco era a materialidade, condizente com um período histórico que valorizava o objeto de consumo e a individualidade.
Exercícios sobre concretismo
Questão 01
Analise os poemas a seguir:
POEMA 1, “Âmago do ômega”, de Haroldo de Campos
POEMA 2, “Beba coca cola”, de Décio Pignatari
POEMA 3, “Luxo”, de Augusto de Campos
POEMA 4, de Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
ANJOS, Augusto dos. Versos íntimos. In: ______. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&PM, 2010.
POEMA 5, de Paulo Leminski
jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Dos cinco poemas acima, fazem parte do concretismo somente:
a) 1, 2 e 3
b) 2, 3 e 4
c) 1, 2 e 5
d) 3, 4 e 5
e) 1, 3 e 5
Resolução:
Alternativa “a”
Os três primeiros poemas são concretos dado o seu caráter visual. Já os poemas 4 e 5 são, respectivamente, um soneto e um haicai.
Questão 02
Nesse poema concreto de Haroldo de Campos, é possível apontar todas as características abaixo, EXCETO:
a) objetividade
b) apelo visual
c) valorização do espaço
d) caráter político
e) metalinguagem
Resolução:
Alternativa “d”
Esse poema concreto não apresenta teor político. Ele é sucinto, objetivo. O espaço da folha em branco é valorizado em benefício do caráter visual da obra. Já a metalinguagem está presente nos trechos “simples como este agora todavia aqui” e “partículas sonoras”, que se referem às palavras do próprio poema.
Créditos das imagens
[1] Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
[2] Editora 34 (reprodução)