Conceição Evaristo

Conceição Evaristo é uma autora brasileira cujos livros fazem parte da literatura contemporânea nacional. Uma de suas obras mais famosas é o livro Olhos d’água.

Conceição Evaristo é uma das principais representantes da literatura contemporânea brasileira.[1]

Conceição Evaristo é uma escritora mineira. Ela nasceu em 29 de novembro de 1946, na cidade de Belo Horizonte. Mais tarde, fez o curso de magistério e se tornou professora, além de obter graduação, mestrado e doutorado em Letras. Sua obra Olhos d’água foi vencedora do prêmio Jabuti.

A poetisa, contista e romancista é uma das principais representantes da literatura contemporânea brasileira. Seus livros apresentam a realidade das minorias sociais, como mulheres e pessoas negras. Assim, trazem reflexões sobre questões de etnia e gênero. Seu primeiro livro publicado é o romance Ponciá Vicêncio.

Leia também: Carolina Maria de Jesus — uma das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira

Resumo sobre Conceição Evaristo

  • Conceição Evaristo é uma romancista, contista e poetisa brasileira.

  • Nasceu em 1946.

  • Além de escritora e professora, ela é mestre e doutora em Letras.

  • Seus livros fazem parte da literatura contemporânea brasileira.

  • Suas obras estão centradas na realidade das mulheres negras.

  • O livro de contos Olhos d’água é uma de suas principais obras.

Videoaula sobre Conceição Evaristo

Biografia de Conceição Evaristo

Maria da Conceição Evaristo Brito nasceu na cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, em 29 de novembro de 1946. De origem pobre, viveu em uma favela da capital mineira. A mãe da escritora tinha nove filhos. Para os sustentar, trabalhava como lavadeira e passadeira.

Para que a pequena Maria da Conceição pudesse estudar e tivesse uma vida melhor, Dona Joana (a mãe da autora) deixou a filha de sete anos de idade morar na casa dos tios, um casal que vivia em melhores condições. Conceição Evaristo estudou em escola pública. Mais tarde, trabalhou como empregada doméstica.

Tinha mais de 20 anos quando, em 1971, concluiu o curso de magistério. Dois anos depois, foi morar no Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar como professora, após passar em concurso público. Mais de uma década depois, em 1987, iniciou o curso de Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A sua carreira como escritora teve início nos anos 1990, quando publicou alguns poemas. Porém, foi em 2003 que publicou seu primeiro livro — Ponciá Vicêncio. Nessa época, já era mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 2007, recebeu os prêmios Ori e Camélia da Liberdade.

Nos anos de 2008 a 2011, fez doutorado pela Universidade Federal Fluminense. Em 2012, viajou aos Estados Unidos, onde deu cursos no Middlebury College Summer Schools sobre a escrita de mulheres negras e afro-brasilidade. Em 2015, seu livro Olhos d’água ficou em terceiro lugar no Prêmio Jabuti.

Conceição Evaristo e a Academia Brasileira de Letras

Conceição Evaristo tinha a intenção de ser a primeira mulher negra da Academia Brasileira de Letras. Assim, em 2018, tentou ser eleita para a cadeira número 7, cujo patrono é o escritor romântico e abolicionista Castro Alves, e teve grande apoio popular. Apesar disso, não conseguiu.

A candidatura de Conceição Evaristo gerou um debate acerca da forma como os acadêmicos são escolhidos na ABL. Além, é claro, de deixar evidente a falta de representatividade na instituição. Apesar de ela ser uma escritora consagrada e respeitada no meio universitário, os membros da ABL preferiram eleger o cineasta Cacá Diegues.

Características literárias de Conceição Evaristo

Conceição Evaristo é uma autora da literatura contemporânea brasileira. Suas obras estão inseridas no que se convencionou chamar de “literatura periférica” ou “literatura de minorias”, já que mostram a realidade das pessoas negras no Brasil. Além disso, é uma literatura marcada por elementos do universo feminino.

Os textos de Evaristo mostram a história, o cotidiano e as dificuldades da população afro-brasileira, a partir de uma linguagem essencialmente lírica. Estão presentes, também, a denúncia do preconceito racial, a marginalização social e, por fim, reflexões sobre questões de gênero e etnia.

Temas da obra de Conceição Evaristo

Os principais temas presentes na obra de Conceição Evaristo são:

  • realidade da mulher negra brasileira;

  • memória ancestral;

  • cultura afro-brasileira;

  • injustiça social.

Obras de Conceição Evaristo

Romance de Conceição Evaristo

  • Ponciá Vicêncio (2003).

  • Becos da memória (2006).

  • Canção para ninar menino grande (2018).

Poesia de Conceição Evaristo

  • Poemas de recordação e outros movimentos (2008).

Contos de Conceição Evaristo

  • Insubmissas lágrimas de mulheres (2011).

  • Olhos d’água (2014).

  • Histórias de leves enganos e parecenças (2016).

  • Macabéa: flor de mulungu (2023).

Olhos d’água, de Conceição Evaristo

Capa do livro Olhos d’água, de Conceição Evaristo, publicado pela editora Pallas. [2]

Olhos d’água é um livro de contos de Conceição Evaristo, composto pelas seguintes histórias:

  • Olhos d’água”: a narradora acorda e, repentinamente, se pergunta de que cor eram os olhos de sua mãe; a partir dessa pergunta, ela acaba resgatando a própria história.

  • Ana Davenga”: a personagem principal é companheira de um criminoso chamado Davenga, por quem é apaixonada.

  • Duzu-Querença”: conta a história de Duzu, uma menina criada em um prostíbulo; mais tarde, ela se torna prostituta, tem filhos e netos, um deles é a neta Querença.

  • Maria”: conta a história de uma empregada doméstica, acusada injustamente de estar em conluio com ladrões em um ônibus, e mostra a realidade de exclusão e preconceito vivida pelas mulheres negras brasileiras.

  • Quantos filhos Natalina teve?”: Natalina teve quatro filhos; porém, apenas o último filho é considerado por ela como seu e de homem algum, o único filho que ela realmente quis.

  • Beijo na face”: Salinda é uma mulher casada com um homem ciumento, vivendo um relacionamento abusivo; mas tudo começa a mudar quando ela passa a amar a si mesma.

  • Luamanda”: Luamanda é uma mulher de quase 50 anos de idade, que relembra seus amores e paixões, incluindo uma experiência homossexual.

  • O cooper de Cida”: Cida é uma mulher ocupada, sem tempo para nada, até que certo dia, durante sua caminhada, resolve parar e, finalmente, apreciar a existência.

  • Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos”: Zaíta é uma menina que, em busca de uma figurinha perdida, se afasta de casa e acaba ficando no meio de um tiroteio na favela.

  • Di Lixão”: Di Lixão acorda com dor de dente e, para completar, recebe um pontapé nas “partes baixas”; a dor faz com que ele reviva o ódio que sentia pela própria mãe.

  • Lumbiá”: O menino Lumbiá, que vende amendoim e chicletes na rua, tem um fim trágico ao roubar o menino Jesus de um presépio.

  • Os amores de Kimbá”: Kimbá é morador de uma favela, trabalha em um supermercado, não gosta da situação de pobreza em que vive e está envolvido em um triângulo amoroso composto por ele, seu amigo Gustavo e Beth.

  • Ei, Ardoca”: Ardoca é um homem que, numa tarde de sábado, passa mal em um trem e, então, é assaltado.

  • A gente combinamos de não morrer”: evidencia a realidade de pobreza e violência vivida pelos protagonistas Dorvi, Bica, Dona Esterlinda e Idago.

  • Ayoluwa, a alegria de nosso povo”: mostra a realidade de escassez de determinado povo, onde impera a tristeza, até que nasce a menina Ayoluwa, que se torna não só a alegria, mas também a esperança desse povo.

Poemas de Conceição Evaristo

O poema “Eu-mulher” faz parte do livro Poemas de recordação e outros movimentos. Em versos livres, o eu lírico traz elementos do universo feminino, como amamentação, menstruação e o silenciamento. A identidade feminina é valorizada, e a mulher é retratada como a promotora da vida:

Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.

Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo

Antes — agora — o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo. |1|

Do mesmo livro é o poema “Pedra, pau, espinho e grade”, que começa com uma citação do poema No meio de caminho, de Carlos Drummond de Andrade. A partir daí, o eu lírico mostra a realidade daqueles cujo cotidiano é uma constante luta. É preciso esperança e coragem para enfrentar não só a pedra (obstáculo), mas também o pau (agressão), o espinho (dor) e a grade (prisão):

“No meio do caminho tinha uma pedra”,
Mas a ousada esperança
de quem marcha cordilheiras
triturando todas as pedras
da primeira à derradeira
de quem banha a vida toda
no unguento da coragem
e da luta cotidiana
faz do sumo beberragem
topa a pedra pesadelo
é ali que faz parada
para o salto e não o recuo
não estanca os seus sonhos
lá no fundo da memória,
pedra, pau, espinho e grade
são da vida desafio.
E se cai, nunca se perdem
os seus sonhos esparramados
adubam a vida, multiplicam
são motivos de viagem. |2|

Acesse também: Maria Firmina dos Reis — a primeira mulher a escrever um romance no Brasil

Frases de Conceição Evaristo

A seguir, vamos ler algumas frases de Conceição Evaristo, extraídas de seu livro Poemas de recordação e outros movimentos. Para isso, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:

  • “Todas as manhãs acoito sonhos e acalento entre a unha e a carne uma agudíssima dor.”

  • “Os ossos de nossos antepassados colhem as nossas perenes lágrimas pelos mortos de hoje.”

  • “A certidão de óbito, os antigos sabem, veio lavrada desde os negreiros.”

  • “Cada mulher comporta em si a calma e o desespero.”

  • “A noite não adormece nos olhos das mulheres.”

  • “Trago na palma das mãos a pedra retirada do meio do caminho.”

Notas

|1| e |2| EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.

Créditos de imagem

[1] Salty View / Shutterstock

[2] Pallas Editora (reprodução)

Fontes

CAMPOS, Mateus; BIANCHI, Paula. Conceição Evaristo. Intercept Brasil, 30 ago. 2018.

CNPQ. Currículo Lattes: Maria da Conceição Evaristo de Brito. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/9653059262448203.

DUARTE, Eduardo de Assis. O Bildungsroman afro-brasileiro de Conceição Evaristo. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n. 1, abr. 2006.

EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.

LITERAFRO. Conceição Evaristo. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/188-conceicao-evaristo.

SOUZA, Emilene Corrêa. A questão da memória identitária afro-brasileira na poesia de Ana Cruz e Conceição Evaristo. 2014. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

Por: Warley Souza

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