Charge e Cartum

A charge satiriza pessoas ligadas à vida pública, e o cartum satiriza pessoas comuns

Charge e cartum... Falando sobre eles, não se torna descabido afirmarmos que se trata de uma situação comunicativa de ampla recorrência, retratada em jornais, revistas, sejam eles impressos ou on-line, enfim, em distintos meios de comunicação. Prosseguindo com nossa análise, quando se fala em situações de comunicação, logo se tem uma ideia de que a referência aponta para os chamados gêneros textuais, sem dúvida.

Eles, por sua vez, revelam-se pelas distintas circunstâncias em que dois ou mais interlocutores estão envolvidos, daí não haver espaço para maiores discussões, pois tudo parece estar muito claro, ou seja, convivemos com muitas delas no dia a dia, e esses dois exemplos em estudo (charges e cartuns) representam apenas algumas das modalidades.  Pois bem, caro(a) usuário(a), saber que eles existem parece não ser o bastante quando nos colocamos na condição de usuários da língua, e como tais, precisamos estar mais inteirados acerca das marcas linguísticas, digamos assim, as quais norteiam essa diversidade de gêneros.

Com base tão somente nesse presuposto é que a partir de agora passaremos a estabelecer um pouco mais de familiaridade com as marcas registradas em um desses gêneros: o cartum.

Antes, porém, torna-se importante estarmos cientes de que a palavra cartum proveio de um fato ocorrido em 1841, em Londres. O príncipe Albert, imbuído do propósito de decorar o Palácio de Westminster, promoveu um concurso de desenhos, todos feitos em grandes cartões, que na língua inglesa são retratados por cartoons. Depois de prontos, seriam fixados na parede e expostos ao público, contudo, com vistas a satirizar as criações concebidas como oficiais, a revista inglesa Punch, considerada como a primeira a trabalhar nesse ramo humorístico, criou seus próprios cartoons. Assim, em decorrência desse fato, sobretudo demarcado pela intenção voltada para a sátira, o significado atribuído à palavra cartum veio a se modificar.

Com base nisso, torna-se relevante afirmar que o cartum se apresenta como uma espécie de anedota gráfica, em que nele podemos presenciar a linguagem verbal associada à não verbal. No que tange à intenção, ou seja, a finalidade discursiva, o objetivo do gênero em questão é realmente esse – o de satirizar costumes humanos, representados por pessoas comuns, abordando situações atemporais  e universais, sem se preocupar com um contexto específico, da atualidade, do momento. Vejamos, portanto, um exemplo, de modo a nos situarmos de forma contundente acerca dos traços que o demarcam:


Cartum de Ricardo Ferraz – cartunista capixaba, de Cachoeiro do Itapemirim, fundador da Associação Capixaba de Pessoas com Deficiência

Inferências nos atestam que a questão da sátira aos costumes humanos se faz presente,  visto que o personagem, ao se deparar com uma pessoa com necessidades especiais,  logo, portando-se de um nítido preconceito, ofereceu-lhe uma esmola, quando na verdade ela queria apenas obter uma informação.

Adiante seguiremos, passando a conhecer um pouco mais  sobre a charge, que na língua francesa significa “carga”. Carga porque, diferentemente do cartum, cuja intenção é satirizar costumes humanos não situados no tempo, o chargista realmente traz consigo uma intenção - a de satitizar situações situadas num contexto específico, ou seja, num contexto voltado para os problemas sociais, acima de tudo.  Por essa razão, enquanto no cartum o alvo são pessoas comuns, na charge elas são representadas por personagens ligados à vida pública, como um político, um artista, enfim. Outro aspecto, também muito importante, é que as intenções da charge, ora composta por uma linguagem verbal e não verbal, precisam estar em consonância com o conhecimento de mundo do interlocutor, visto que a interlocução somente se efetivará se “a mensagem for entendida”, por isso ele precisa estar informado acerca do mundo que o rodeia.   

Dessa forma, somente um exemplo nos permitirá a interação acerca de tais características, demarcadas em:


Charge de Sandro Luis Schmidt, desenhista civil, arquiteto, cartunista e chargista

Constatamos a presença de uma refinada ironia quando o personagem se volta para a esposa e lhe diz que o “progresso” havia chegado por lá, na região rural, local esse ao qual atribuímos tranquilidade, paz, “segurança”, acima de tudo. Assim, ao afirmarmos se tratar de uma sátira aos políticos, a mensagem diz respeito à falta de segurança que assola a sociedade de um modo geral, inclusive em lugares inimaginados.

Por: Vânia Maria do Nascimento Duarte

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